TITULO ORIGINAL – TRANSITIONS: A CENTRAL CONCEPT IN NURSING
RESUMO
Transição é um conceito de interesse para os enfermeiros de investigação, clínicos e teóricos. Este artigo baseia-se num trabalho teórico realizado previamente sobre transições e a sua evidência na literatura de enfermagem. Uma síntese e uma revisão desta literatura (1986-1992) apoiam a afirmação da centralidade da transição em enfermagem. São avaliadas propriedades universais das transições, direcções e mudanças em patamares fundamentais de vida. A nível individual e familiar, as mudanças que ocorrem nas identidades, papéis, relacionamentos, capacidades e níveis de comportamento, constituem transições. A nível organizacional a mudança transicional é aquela que ocorre na estrutura, função ou dinâmicas. As condições que podem influenciar a qualidade da experiência de transição e as suas consequências são os significados, expectativas, nível de conhecimento e competências, ambiente, nível de planeamento e bem-estar físico e emocional. Os indicadores de uma transição bem sucedida são bem-estar subjectivo, domínio dos papéis e o bem-estar dos relacionamentos. São discutidos três tipos de intervenções de enfermagem. È descrito um modelo para trabalhos posteriores.
INTRODUÇÃO
Meleis (1975;1985;1986;1991) propôs a Transição como um dos conceitos centrais na disciplina de enfermagem. Os encontros entre enfermeiros e clientes ocorrem frequentemente durante períodos transicionais de instabilidade, precipitados por mudanças associadas o desenvolvimento, situacionais ou de saúde / doença. Tais mudanças podem conduzir a profundas alterações nas vidas dos indivíduos e dos seus próximos e terem implicações significativas na saúde e bem-estar.
Num jornal anterior, Chick e Meleis (1986), abordaram a teoria de desenvolvimento do conceito de transição através de uma análise de conceito. Definiram transição como uma passagem ou movimento de um estado, condição ou local para outro; propuseram uma tabela de propriedades e dimensões de transição e examinaram as suas relações com as intervenções de enfermagem, ambiente, cliente e saúde. Neste artigo estendemos este trabalho, através de uma revisão bibliográfica desde 1986.
Foram identificados os artigos através de uma pesquisa em MEDLINE, das publicações em enfermagem desde 1986 até 1992, usando como palavra-chave transição. A pesquisa foi limitada a publicações em inglês, tendo sido identificadas 310 citações. Então decidiu-se limitar a revisão a publicações onde apenas aparecesse a palavra transição no título, de forma a seleccionar artigos em que a transição fosse o foco principal.
A avaliação inicial deste conjunto de artigos revelou que os enfermeiros usaram uma variedade alargada de tipos de publicação para comunicar as suas ideias acerca da transição. Tal variedade produziu uma riqueza de ideias e reflecte o interesse em transições.
Embora a intenção do desenvolvimento de uma teoria fosse pequena em todas estas publicações, as descrições de transições e o conjunto de ideias discutidos pode ser utilizado como base para o desenvolvimento de uma teoria. Esta revisão da literatura exemplifica um método de abordagem ao desenvolvimento de teoria, em que a literatura de enfermagem é usada como informações para serem colocadas três questões: Quais são os tipos de transição referidos na literatura? Quais as condições que influenciam as transições? Em que consiste uma transição saudável?
TIPOS DE TRANSIÇÃO
A literatura revela que os enfermeiros consideram muitas situações como transições. Antes, eram apenas considerados três tipos de transições relevantes: de desenvolvimento, situacionais e saúde-doença (Chick e Meleis, 1986). Esta revisão permitiu-nos adicionar subcategorias a cada um destes tipos e identificar uma categoria adicional de transições organizacionais. Apresentamos estas categorias como uma tipologia de transições para demonstrar o alcance dos fenómenos que podem ser conceptualizados como transições e para estimular o leitor a pensar em fenómenos adicionais para expandir mais a tipologia.
TRANSIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO
Entre as transições de desenvolvimento a paternidade/ maternidade (parentalidade) foi a que recebeu mais atenção. Os investigadores e teóricos em enfermagem examinaram esta transição durante a gravidez (Imle, 1990, Imle & Atwood,1989), durante o período pós-parto (Brouse,1988; Pridham & chang, 1992etc) e durante o período de 18 meses pós parto. Embora seja a transição da maternidade que seja mais estudada, estão também referenciadas algumas associadas a paternidade (Battles, 1988).
Foram identificadas outras transições associadas ao ciclo de vida, embora menos estudadas. Em 1990, Lauer conceptualizou a adolescência como sendo um período de desenvolvimento que encerra um conjunto de transições, sendo um deles a alteração da imagem corporal. A meia-idade foi também conceptualizada em termos de transições múltiplas para as mulheres, uma das quais é a menopausa. Alguns autores descreveram as transições vivenciadas por mulheres desde a infância até à velhice, comparando transições entre aquelas que foram mães e as que não o foram.
A maioria dos trabalhos em transições de desenvolvimento focalizou-se no indivíduo. Contudo, alguns autores dirigiram-se a transições de desenvolvimento em relacionamentos tal como o relacionamento mãe – filha e a família grávida. Hollander e Haber (1992) descreveram o desenvolvimento do reconhecimento de uma identidade homossexual como uma transição ecológica na qual mudança acontece no indivíduo e no ambiente social.
TRANSIÇÕES SITUACIONAIS
Transições em vários papéis educacionais ou profissionais, são transições situacionais que mereceram muita atenção. Muitos autores debruçaram-se acerca de transições em e através de programas educacionais. A transição de aluno para profissional de enfermagem e a conclusão de um programa educacional também receberam bastante atenção. Transições subsequentes em papéis na prática clínica acontecem através da carreira. Entre estas transições encontram-se as mudanças na preparação para a prática, o regresso à prática clínica, alterações de funções e as transições de papéis em enfermeiros que cuidavam simultaneamente de doentes com graus muito diferentes de necessidades. A mudança de clínicos para administradores foi abordada por vários autores, tendo sido também verificadas referencias a transições vivenciadas por enfermeiros quando abandonam cargos de chefia.
Alguns autores conceptualizaram alterações em situações familiares como transições. Por exemplo, a viuvez e a deslocação para um lar de um elemento da família, foram referenciadas como uma transição.
Noutras situações consideradas como transições foram incluídas a imigração, indigência, experiências de sentimento de morte e abandono de relações abusivas.
TRANSIÇÕES SAÚDE – DOENÇA
O impacto das transições saúde-doença nos indivíduos e famílias tem sido explorado em inúmeros contextos de doença incluindo enfarte do miocárdio, recobro pós-operatório, infecção por VIH, lesão medular, cancro em fase avançada, doença crónica, recuperação de ventilação mecânica como transição de recuperação de doença grave, transição no processo de reabilitação da passagem de alimentação entérica por sonda para alimentação oral.
Muitos artigos fazem referência a transições entre níveis de cuidados dentro do sistema de saúde no decorrer de uma doença. Uma preocupação relevante é a transição associada à alta hospitalar para o domicílio.
Outras transições dentro do sistema de saúde referenciadas por enfermeiros são as associadas a altas hospitalares para centros de reabilitação, cuidados domiciliários para pessoas que habitualmente são cuidadas em clínicas de apoio e a transição associada à alta hospitalar psiquiátrica e reintegração na comunidade. Têm sido propostos modelos nos quais os enfermeiros fornecem cuidados transicionais no sentido de aumentar a continuidade dos cuidados através do sistema de saúde e promover um eficaz custo-benefício na utilização dos cuidados de saúde.
TRANSIÇÕES ORGANIZACIONAIS
As transições descritas anteriormente têm sido aquelas associadas ao nível individual, entre duas pessoas ou ao nível familiar. As organizações podem também experienciar transições que podem afectar a vida das pessoas que nelas trabalham e dos seus clientes. As transições organizacionais representam transições no ambiente. Podem ser precipitadas por mudanças alargadas ao nível do ambiente social, político ou económico ou por mudanças intra organizacionais na estrutura ou dinâmica.
Mudanças nos responsáveis pela liderança têm sido descritas como períodos transicionais na vida das organizações com efeitos a longo prazo, tal como o são as mudanças nas dimensões qualitativas dos papéis de liderança. A adopção de novas políticas, procedimentos e práticas também tem sido conceptualizado como uma transição. Exemplos deste tipo de transição são a introdução de barreiras aos cuidados de enfermagem gratuitos nas casas de saúde, novos modelos de equipas, implementação de novos modelos de cuidados e a introdução de nova tecnologia. Para finalizar, a reorganização estrutural dos edifícios e a introdução de novos programas constituem uma transição organizacional.
As transições experienciadas pelos enfermeiros têm suscitado o interesse de vários autores. De acordo com um deles (Allen, 1986) a própria história da enfermagem é uma história de transição. As transições têm sido descritas na preparação académica da profissão, em conteúdos curriculares, em formas de pensamento e em métodos de pesquisa. A transição da enfermagem de uma ocupação para uma profissão foi o tema de um ensaio de van Maanen (1990).
As comunidades em transição foram objecto de estudo de um autor. Bushy (1990) examinou transições recentes em comunidades rurais, os agentes de stress envolvidos nessas transições e as suas consequências para a saúde das mulheres.
De realçar que os tipos de transição aqui apresentados não são mutuamente exclusivos. As transições são processos complexos e podem ocorrer múltiplas transições simultaneamente, durante um determinado período de tempo. Por exemplo, Catanzaro (1990) explorou transições de desenvolvimento em pessoas de meia-idade com doença neurológica progressiva, demonstrando os desafios complexos que ocorrem quando transições de desenvolvimento e de saúde/doença se sobrepõem. Young (1990), também descreveu a forma como transições situacionais, de saúde/doença e de desenvolvimento podem acontecer concomitantemente em idosos. Para além do mais, uma transição principal(major) pode abranger outras mais discretas. Tal como conceptualizado por Lauer(1990), a adolescência encerra transições discretas, uma das quais é a de transição da imagem corporal. E, de acordo com Wild (1992), a transição de dor para conforto no pós-operatório deve ser gerida no contexto de transições fisiológicas múltiplas. A compreensão destes fenómenos pode conduzir a uma melhoria nas respostas dos doentes e nos resultados finais. Por último, uma transição major, tal como a entrada na faculdade, pode ter um “triplo-efeito”, precipitando transições simultâneas nas relações familiares e nas redes sociais.
PROPRIEDADES UNIVERSAIS DAS TRANSIÇÕES
Apesar da diversidade de transições existentes, são evidentes algumas características comuns e que suportam algumas propriedades descritas em estudos anteriores destes autores. Estas características comuns podem ser consideradas como propriedades universais das transições. Uma dessas propriedades universais, apoiada pela bibliografia, é que as transições são processos que ocorrem no tempo. Mais, o processo implica desenvolvimento, fluxo, de um estado para outro (Chick e Meleis, 1986). Muitos autores progrediram no entendimento que fizemos do desenvolvimento e fluxo da transição através da divisão em estádios ou fases.
Uma outra propriedade universal é encontrada na natureza da mudança que ocorre na transição. Exemplos em indivíduos e famílias incluem mudanças nas identidades, papéis, relações, capacidades e modelos de comportamento. Ao nível organizacional, os exemplos de incluem mudanças na estrutura, função ou dinâmica. Estas propriedades ajudam a distinguir as transições das mudanças não transicionais. Por exemplo, uma doença de curta duração e auto-limitada não é considerada uma transição, ao passo que uma doença crónica já o é. Similarmente, fenómenos de mudança de humor, que são dinâmicos mas que não têm um sentido de movimento ou direcção, não têm sido considerados como transição. Habitualmente existe um processo interno que acompanha um processo de transição, enquanto processos externos tendem a caracterizar a mudança.
CONDIÇÕES DE TRANSIÇÃO
Devido à existência de um leque variado de variações associadas às transições individuais, familiares ou organizacionais os enfermeiros devem possuir um modelo teórico que lhes permita identificar estas variações, caso queiram perceber as transições individuais dos seus clientes. No modelo de Chick e Meleis, foram identificados os factores pessoais e ambientais que afectam o processo de transição. Desde então a bibliografia de enfermagem tem fornecido subsídios e especificidade ao nosso entendimento acerca do que são os factores influentes. As condições de transição incluem significações, expectativas, níveis de conhecimento e competências, o ambiente, nível de planeamento e bem-estar físico e emocional. Através dos quatro tipos de transição encontrámos um considerável consenso que estes eram importantes factores de influência das transições. Investigação futura poderá identificar factores adicionais, amplificando a nossa compreensão sobre condições que favoreçam a transição suave ou, pelo contrário, aquelas que poderão colocar o cliente em risco para uma transição difícil.
SIGNIFICAÇÕES
A significação refere-se ao julgamento subjectivo de uma transição antecipada ou experienciada e a eventual avaliação do seu efeito possível na vida de cada um.
A significação associada à transição pode ser positiva, neutra ou negativa. A transição pode ser desejada, ou não e pode ou não ser resultado de uma escolha pessoal. A consciência da significação da transição é fundamental para que os clientes possam entender a sua experiência e as consequências para a sua saúde.
A inclusão de significações numa teoria e transição confere maior atenção à importância do entendimento a transição na perspectiva daquele que a vive. A importância da perspectiva da pessoa que atravessa a transição tem sido enfatizada por alguns autores. Por exemplo, Adlersberg(1990) estudou a viuvez e descobriu que para além de constituir uma experiência uniforme negativa de perda, muitos experienciaram um sentimento de alívio e de novas oportunidades para acrescimento pessoal. As significações devem também ser entendidas no contexto cultural da transição. Por exemplo, a significação da transição menopausica varia consoante a cultura ( Fishbein,1992).
As significações têm também uma conotação existencial, tal como a procura de significação durante a transição familiar da perda de um membro por morte, tal como descrito por Reimer(1991). Brown et all (1991)descobriram que era necessário tempo para que as significações dos acontecimentos e das experiências fizessem sentido no cuidado aos seus entes queridos com SIDA.
EXPECTATIVAS
As expectativas são outro fenómeno subjectivo que influenciam colectivamente as experiências de transição. As pessoas que atravessam fenómenos de transição podem ou não saber o que esperar e as suas expectativas podem ou não ser realistas. Quando alguém sabe o que esperar, o stress associado à transição pode, e alguma forma, ser aliviado.
As expectativas são influenciadas pelas experiências anteriores. Contudo o modelo de referência criado com base nas experiências anteriores pode ou não ser aplicado a uma nova transição. Quando não pode ser aplicado as expectativas para a nova transição pode não ser claro ou realista .
No decorrer de uma transição, as expectativas podem provar ser incogruentes com a realidade. Shea (1987) descreveu sentimentos de surpresa quando a realidade difere das expectativas. A Incongruência também pode ocorrer entre expectativas do eu e dos outros. As expectativas de alta realização podem não ser realistas durante uma transição.
NIVEL DE CONHECIMENTOS/COMPETÊNCIAS
O nível de conhecimento e as competências relevantes para uma transição são uma outra condição que influencia os resultados em saúde e que se podem revelar insuficientes para enfrentar os desafios da nova situação.
Muitos investigadores e clínicos documentaram a necessidade de novos conhecimentos e competências durante a transição. Os pais de crianças prematuras e de crianças com doenças crónicas e os doentes adultos e os seus cuidadores informais têm necessidade de informação durante a transição do hospital para casa e do cuidado hospitalar para o cuidado domiciliário. As famílias necessitam informação quando um dos seus elementos está de saída para um lar ou a morrer. A transição para novos papéis profissionais também necessita de novos conhecimentos e competências.
AMBIENTE
Um dos temas proeminentes em muitos artigos é a importância atribuída aos recursos no ambiente durante a transição. Numa teoria base de transição para a parentalidade, Imle (1990) conceptualizou o ambiente como um recurso externo facilitante. Este recurso foi definido como o processo cíclico de percepção, construção e avaliação do valor de ajuda e apoio dos suportes externos à pessoa e que a podem ajudar durante a transição.
O papel de apoio social dos membros da família, espero que estejas a ler esta merda que me deu um trabalhão a traduzir e se não o comentares vou saber que não o leste e vais ter que me ouvir até já não poderes mais com dores de ouvidos, dos parceiros e dos amigos foi também referido na bibliografia consultada. O apoio de enfermeiros e grupos de apoio terapêutico foi também identificado como sendo importante. Quando não havia apoio ou quando a comunicação com os profissionais era inferior a óptima, os clientes (atenção, não estão a falar de putedo) em transição experienciavam sentimentos de impotência (mas não dessa que estás a pensar), confusão, frustração (também eu sentia se não pudesse pô-lo de pé) e de conflito.
Transições pessoais que acontecem no contexto de organizações formais também são moldadas pelo ambiente. As existências de um tutor, mentor, elemento de referência, foi descrito como sendo um importante recurso durante transições profissionais. Os tutores promovem a transição do papel clínico e quando têm experiência podem suavizar a transição servindo como guia (não o cão do ceguinho), modelo (se fosse a Giselle!!! Até a velhinha Cláudia marchava…) e referência. Além do mais, no relacionamento entre a pessoa e a organização é importante ter em consideração muitos aspectos éticos e legais.
Quando uma organização se encontra em transição, as interacções entre as pessoas e os subsistemas facilitam ou impedem o processo. Colaboração, trabalho em equipa, comunicação eficaz e apoio de pessoas ou grupos chave, todos contribuem para um ambiente em que a transição pode ser gerida eficazmente.
O ambiente sociocultural mais abrangente é outro dos factores que molda a experiência de transição. A consciência (vê lá se acordas Ó!!!) do contexto sociocultural onde a transição se desenrola permite aos enfermeiros o desenvolvimento de terapêuticas a nível do grupo, comunidade e sociedade. Por exemplo, a falta de apoio institucional e de flexibilidade, tais como falta de licença parental e horário de trabalho inflexível, são impedimentos para uma transição de paternidade saudável (não o fizesses que já não tinhas que transitar…).
Fica claro que os enfermeiros se preocupam com o efeito do ambiente nas tarnsições a muitos níveis (estes também se não nascessem tinham que ser inventados a partir de um cagalhão, preocupam-se com toda a merda…).
Escusas de andar à procura de mais disparates que estão todos neste capítulo, azar!
NIVEL DE PLANEAMENTO
O nível de planeamento que acontece antes e durante a transição é outra condição que influencia o sucesso da mesma. O planeamento ajuda a criar uma transição suave e saudável. Mesmo quando precipitada por um acontecimento crítico ou não planeado, tal como um ferimento catastrófico, o planeamento pode ser realizado durante cada fase da transição para que seja atingida uma preparação óptima.
O planeamento eficaz requer identificação compreensiva dos problemas, assuntos e necessidades e que podem surgir durante a transição (tipo: deixa-me levar uma sandocha de courato e uma garrafinha de tintol, não me vá dar larica no meio da transição, e como todos nós sabemos, quando estamos em transição nunca aparece uma puta de uma tasca para aconchegar o ratito - afinal como viste sou mesmo tramado, menti acerca dos disparates…). As pessoas chave devem ser identificadas, incluindo os que se encontram em transição (à procura da puta da tasca) e aqueles que se encontram em posição de dar ajuda (tipo: Pessoas GPS). A comunicação entre estes elementos é um elemento chave no planeamento. Este planeamento acontece durante o progresso do processo de transição, sendo acedido e avaliado nas suas fases. O desenvolvimento de uma linha temporal que mostre fases da transição facilita uma abordagem organizada ao planeamento.
BEM-ESTAR FÍSICO E EMOCIONAL
Havia tanto a dizer sobre este assunto…
As transições fazem-se acompanhar de um leque variado de emoções, muitas das quais atestam as dificuldades encontradas durante o processo. Muitos autores notaram que o stress e o distresse emocional acontecem durante a transição, especificamente, ansiedade, insegurança, frustração, depressão, apreensão, ambivalência e solidão. Conflito de papéis e baixa auto-estima podem também estar presentes. Algumas das descrições mais vividas de distresse podem ser encontradas em experiências pessoais de transição. Medo de fracasso ou de autocrítica injustificada, bem como sentimentos de esmagamento, derrota e isolamento e que podem resultar em incapacidade de concentração, de correr riscos e de enfrentar o desconhecido.
O bem-estar físico é também importante durante a transição. Quando a transição é acompanhada de desconforto físico, ela pode interferir na assimilação de nova informação. A imprevisibilidade do físico pode ser angustiante ao passo que energia, previsibilidade do corpo e normal funcionamento facilitam a transição. Alterações físicas profundas estão inerentes em algumas transições de desenvolvimento e o nível de conforto com estas mudanças tem influência no bem-estar durante a transição.
INDICADORES DE TRANSIÇÕES SAUDÁVEIS
Verificou-se haver mais ênfase colocado no processo de transição do que na identificação de factores que indicassem um resultado positivo na transição. È muito importante, crítico, que os enfermeiros (lá vêm estes outra vez!) identifiquem resultados positivos das transições para que sejam facilitadas os trabalhos de pesquisa dos investigadores e a avaliação das intervenções clínicas. Encontrámos três indicadores de transições saudáveis que parecem ser relevantes ao longo de todos os tipos de transição: um sentido subjectivo de bem-estar, domínio sobre novos comportamentos e o bem-estar das relações interpessoais.
Embora tenhamos utilizado o termo resultado na descrição destes indicadores de transição saudável, fazemo-lo com a moderação de que estes “resultados” podem acontecer em qualquer momento do processo de transição. Por exemplo, o domínio pode acontecer precocemente nuns e tarde noutros. Logo, o acesso a estes indicadores deve ser realizado ao longo do processo e não no final do mesmo (avaliação intercalar).
BEM-ESTAR SUBJECTIVO
Quando se está a desenrolar uma transição saudável, sentimentos de distresse podem gerar sentimentos de bem-estar. Estes sentimentos incluem adaptação (coping) eficaz e gestão de emoções pessoais, bem como um sentimento de dignidade, integridade pessoal e de qualidade de vida. O trabalho, o casamento ou outras satisfações em papéis sociais são indício de respostas subjectivas saudáveis. O crescimento, libertação, auto-estima e empowerment também podem acontecer durante uma transição.
DOMÍNIO DO PAPEL
Um outro indicador de transição saudável é o domínio do papel, que indica que foi atingido um nível de performance de competências no comportamento necessário para fazer face à nova situação. O domínio tem vários componentes, que incluem competência, conhecimento e habilidades cognitivas, tomada de decisões, habilidades psico-motoras e auto-confiança. As transições de particular interesse para os enfermeiros podem envolver o desenvolvimento de competências complexas no auto e no hetero cuidado.
O domínio é indicador de uma transição bem sucedida aos níveis individual e organizacional. Neste contexto os componentes são cuidados de elevada qualidade e trabalho eficientemente desempenhado.
BEM-ESTAR RELACIONAL
O bem-estar das relações individuais significa que se está a desenrolar uma transição saudável. Transições que envolvam ostensivamente um ou dois membros da família devem ser avaliadas em termos de “toda a família”. Desentendimentos ou rupturas familiares pode ter lugar, mas o bem-estar familiar é restaurado ou promovido quando o processo se desenrola saudavelmente. O bem-estar relacional tem sido conceptualizado em termos de adaptação familiar, integração familiar e interacção significativa. A integração com redes sociais mais alargadas e com a comunidade são também bons indicadores de transição saudável e são fundamentais na prevenção do isolamento social como possível resultado da transição. As intervenções durante a transição devem ser dirigidas à mitigação da ruptura das relações e à promoção do desenvolvimento de novos relacionamentos.
Ao nível organizacional, níveis indesejáveis de resultados incluem falta de coesão, elevado absentismo, rumores, suspeitas, aumento das lutas, diminuição na cooperação, resignação e falha no recrutamento e retenção de novos elementos. Por outro lado, a cooperação entre a equipa, comunicação efectiva, trabalho de equipa, e confiança reflectem uma transição saudável.
INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM
Identificamos três intervenções de enfermagem que podem ser aplicadas de forma alargada às intervenções de enfermagem durante transições. A primeira é a prontidão, que é uma característica multidisciplinar e requer uma compreensão do cliente.
Preparação para a transição é outra das intervenções. A educação é a modalidade primária na criação de condições óptimas para a transição. Uma preparação adequada requer tempo suficiente para que sejam assumidas novas responsabilidades e implementadas novas competências.
Alguns enfermeiros descreveram ambientes que foram especialmente criados para preparação de clientes ou de colegas para a transição. Incluídas nestes estão Cuidados Infantis Transicionais, Programa de Tratamento Transicional, a Unidade de Enfermagem para Orientação Transicional e uma casa de acolhimento para transição de mulheres abusadas. Muitos outros programas formais elaborados para facilitar a transição incluem programas de orientação para enfermeiros recém licenciados, programas dentro dos serviços, seminários e prática tutorada para profissionais de enfermagem em aquisição de novas competências, cursos de transição e grupos de apoio. São necessários durante a transição organizacional programa educacionais que promovam o desenvolvimento de competências nos funcionários.
A terceira intervenção de enfermagem é o papel de suplemento, o qual foi introduzido inicialmente por Meleis , teórica e empiricamente e usada em pais pela primeira vez e em doentes em fase de recuperação de enfarte do miocárdio. Mais recentemente tem sido usado com cuidadores informais e crianças vítimas de maus tratos.
DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
A revisão bibliográfica aqui apresentada demonstra que a transição é um conceito relevante a um leque alargado de fenómenos da área de enfermagem. Isto deve-se ás suas implicações na saúde das pessoas, famílias e comunidades.
A bibliografia sugere uma conceptualização dos resultados na saúde das transições que incorporem as dimensões subjectivas, comportamentais e interpessoais. As intervenções de enfermagem visam promover e restaurar a saúde nestas dimensões individuais, familiares e organizacionais. Além disso, a bibliografia revela uma compreensão holística das condições que influenciam as experiências transicionais. As intervenções de enfermagem visam, também , a assistência aos seus clientes no sentido de criarem condições que os conduzam a transições saudáveis. A larga variedade de condições subjectivas, cognitivas, comportamentais, ambientais, emocionais e físicas sugerem uma abordagem compreensiva ás intervenções, tendo em conta a experiência holística que constitui a transição.
As descobertas da nossa revisão entende o modelo original de transição de Chick e Meleis. São adicionados substância e especificidade nos domínios dos tipos de transição, condições de transição e indicadores de transição saudável (resultados) Figura 1. A expansão e clarificação das condições de transição e dos resultados fornecidos pela literatura recente são contributos significantes para os investigadores e para a prática clínica. Ao serem especificados resultados de sucesso e saudáveis, os profissionais podem avaliar na prática os seus trabalhos e os investigadores podem fornecer um entendimento de transição útil e efectivo.