Há meia dúzia de anos, as perturbações conhecidas como anorexia nervosa e bulimia eram praticamente desconhecidas do público em geral, não sendo muito familiares entre os psicólogos e psiquiatras. Os diagnósticos correctos eram raros, com frequência os doentes não recebiam qualquer tratamento, e quando este existia, não era necessariamente eficiente.
Com o passar do tempo as doenças do comportamento alimentar tornaram-se “doenças da moda” e alvo de grande cobertura na imprensa de divulgação.
Apesar de bastante frequentes e conhecidas, são de facto patologias mal compreendidas e até mesmo criticadas pela sociedade em geral. Sem escolher idade, sexo ou raça, estes distúrbios alimentares criam um mundo de pressões e obsessões levando ao isolamento de tudo e de todos.
Sendo difícil actuar na prevenção, é essencial existirerm métodos de tratamento eficazes e adequados para que estas perturbações não ultrapassem os limites da vida.
Tendo em conta a gravidade destas, foi-nos proposta, no âmbito do ensino clínico V e sob a orientação da Professora Jacinta e Enfermeira Teresa, a realização deste trabalho, tem como objectivo aprofundar conhecimentos sobre Anorexia Nervosa e Bulimia bem como a sua prevenção e tratamento, tendo em vista um ensino sobre o que é Anorexia Nervosa e Bulimia, quais os factores de risco e respectivas complicações;
2 – Conceito
A Anorexia Nervosa pode ser definida como um transtorno alimentar caracterizado por limitação da ingestão de alimentos, devido à obsessão de magreza e o medo mórbido de ganhar peso.
Normalmente a pessoa anoréctica mantém um peso corporal abaixo de um nível normal mínimo para sua idade e altura. Quando a Anorexia Nervosa se desenvolve numa pessoa durante a infância ou início da adolescência, pode haver fracasso em atingir os ganho de peso esperado, embora possa haver ganho na altura.
As características essenciais da Anorexia Nervosa são a recusa do paciente em manter um peso corporal na faixa normal mínima, associado a um temor intenso de ganhar peso. Na realidade, trata-se de uma perturbação significativa na percepção do esquema corporal, ou seja, da auto-percepção da forma e/ou do tamanho do corpo e, assim sendo, a recusa alimentar é apenas uma consequência dessa distorção doentia do esquema corporal.
O termo Anorexia que significa falta de apetite pode não ser de todo correcto, tendo em vista que não há uma verdadeira perda do apetite mas sim, uma recusa em se alimentar. Como refere BRUCH (1978) “as anorécticas não sofrem de falta de apetite mas de um medo imenso de aumentar de peso”.
“Na realidade, a anorexia nervosa não é apenas um padrão de uso inadequado de comida, pelo contrário, o uso da comida é apenas a “ponta do iceberg” de todo um sistema ou estilo de vida, mantido por um complicado sistema de crenças” (BUCKROYDE, 2001).
A anorexia pode ser de dois tipos, o tipo restritivo em que o indivíduo restringe o consumo alimentar e o tipo purgativo em que o indivíduo se envolve em episódios de hiperfagia ou purgação através de vómito auto-induzido, uso de laxantes ou diuréticos;
As características essenciais da Bulimia Nervosa consistem de compulsões periódicas e métodos compensatórios inadequados para evitar ganho de peso. Além disso, a auto-avaliação dos pacientes com Bulimia Nervosa é excessivamente influenciada pela forma e peso do corpo, tal como ocorre na Anorexia Nervosa. Para qualificar o transtorno, a compulsão periódica e os comportamentos compensatórios inadequados devem ocorrer, em média, pelo menos duas vezes por semana por 3 meses.
Uma compulsão periódica é definida pela ingestão, num período limitado de tempo, de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria dos pacientes consumiria sob circunstâncias similares.
Os métodos compensatórios inadequados após a compulsão periódica, são o recurso ao vómito, abuso de laxantes e/ou diuréticos, jejum e actividade física excessiva. A eliminação da comida é seguida freqüentemente por intensos sentimentos de culpa e vergonha.
A pessoa com bulimia pode não estar visivelmente com peso inferior ao normal e pode até mesmo estar ligeiramente acima do peso. Assim como o anoréctico, o bulímico tem comportamentos alimentares auto-destrutivos para lidar com problemas psicológicos que podem ser muito mais profundos que a sua obsessão com comida e peso. Normalmente, os indivíduos sentem-se descontrolados e reconhecem que o comportamento não é normal.
A Bulimia pode ser de 2 tipos, o tipo purgativo em que o indivíduo provoca vómitos regularmente ou utiliza indevidamente laxantes ou diuréticos e o tipo sem purgação em que o indivíduo usa outros comportamentos compensatórios inadequados para evitar ganho de peso, como jejuns e exercícios.
A Bulimia pode ser de 2 tipos, o tipo purgativo em que o indivíduo provoca vómitos regularmente ou utiliza indevidamente laxantes ou diuréticos e o tipo sem purgação em que o indivíduo usa outros comportamentos compensatórios inadequados para evitar ganho de peso, como jejuns e exercícios.
Tanto a anorexia como a bulimia estão relacionadas com pressões sociais que sobrevalorizam excessivamente a magreza. O uso da comida e o controlo do peso são um meio de lidar com crises de desenvolvimento e angústia emocional.
Os valores da anoréctica e da bulímica são semelhantes: ambas avaliam o corpo em função do peso e da forma, se bem que a primeira tenha preferência pela magreza extrema e a segunda fique satisfeita com um peso ligeiramente abaixo da média.
Os valores da anoréctica e da bulímica são semelhantes: ambas avaliam o corpo em função do peso e da forma, se bem que a primeira tenha preferência pela magreza extrema e a segunda fique satisfeita com um peso ligeiramente abaixo da média.
3 – EPIDEMIOLOGIA
Teoricamente os transtornos alimentares podem atingir as pessoas oriundas de todas as camadas sociais, de todas as raças, de todos os graus de escolaridade e de ambos os sexos. É realmente difícil saber quantas pessoas desenvolvem anorexia nervosa e bulimia. Existem certamente muitos casos não conhecidos ou sequer diagnosticadoss principalmente nos tipos mais suaves das doenças. Estes distúrbios alimentares são frequentemente conhecidos como patologias da adolescência. Ocorrem com mais frequência na classe média e média-alta e nas mulheres, principalmente com idades entre os 13 e os 30 anos.
Em relação à anorexia nervosa somente 5% dos doentes apresentam idade superior a 25 anos, verificando-se nos últimos anos um aumento significativo de casos em crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 13 anos. Surge em 45% dos casos após dieta de emagrecimento e em 40% por ocasião de uma situação competitiva. Como referido anteriormente, a prevalência é maior no sexo feminino em que mais de metade dos casos inicia antes dos 20 anos, cerca de ¾ antes dos 25 anos e 10% na pré-menarca. Por outro lado, os valores estatísticos mostram que a incidência dos jovens homens é de 1 em 20, verificando-se um aumento notório.
No que diz respeito à bulimia nervosa a taxa de prevalência é de 2 a 4% entre mulheres adolescentes e adultas jovens. A grande maioria dos pacientes com bulimia nervosa é do sexo feminino, na proporção de 9:1. O início dos sintomas vai dos últimos anos da adolescência até os 40 anos com idade média de início por volta dos 20 anos.
4 – FACTORES QUE INFLUENCIAM OS DISTÚRBIOS ALIMENTARES
A anorexia e a bulimia são tentativas muito pouco eficientes e altamente destrutivas para resolver os problemas da adolescência.
Os jovens que impõem a si próprios dietas compulsivas estão, normalmente a tentar enfrentar, ou evitar, alguns dos complexos desafios da transição da infância para a idade adulta, mas não dominam as tácticas adequadas. Por várias razões, descobrem a privação de alimentos como uma “solução”.
Os factores fundamentais que levam à Anorexia Nervosa não estão ainda bem definidos. Há autores que evidenciam como causa a interacção sócio-cultural mal adaptada, factores biológicos, mecanismos psicológicos menos específicos e especial vulnerabilidade de personalidade.
Os aspectos biológicos incluem as alterações hormonais que ocorrem durante a puberdade e as disfunções de neurotransmissores cerebrais, tais como a dopamina, a serotonina, a noradrenalina e dos peptídeos opióides, ligados à regulação normal do comportamento alimentar e manutenção do peso, além dos aspectos genéticos.
Vários trabalhos apontam para uma predisposição genética no desenvolvimento da anorexia. Parentes de primeiro grau de pacientes com anorexia exibem um risco de aproximadamente 8 vezes maior de apresentar a doença do que a população geral.
Os modelos de sistemas familiares procuram identificar determinados padrões de funcionamento familiar alterado, por exemplo, minimização de conflitos, envolvimentos da criança em tensões familiares, pais ausentes, mães que competem com as filhas, etc. Porém, estes factores encontram-se mais relacionadas com a manutenção do comportamento do que como factores causais.
Em cerca de um terço dos pacientes com Bulimia Nervosa ocorre Abuso ou Dependência de Substâncias, particularmente envolvendo álcool e estimulantes. O uso de estimulantes frequentemente começa na tentativa de controlar o apetite e o peso. É provável que 30 a 50% dos pacientes com Bulimia Nervosa também tenham características de personalidade que satisfaçam os critérios para um ou mais Transtornos da Personalidade (mais frequentemente Transtorno da Personalidade Borderline).
Evidências preliminares sugerem que os pacientes com Bulimia Nervosa, Tipo Purgativo, apresentam mais sintomas depressivos e maior preocupação com a forma e o peso do que os pacientes com Bulimia Nervosa, Tipo Sem Purgação.
Também os factores que levam à Bulimia Nervosa são pouco conhecidos. Possivelmente múltiplas causas devem interagir para o aparecimento da doença, incluindo aspectos sócio-culturais, psicológicos, individuais e familiares, neuroquímicos e genéticos.
A influência cultural tem sido apontada, actualmente, como um forte desencadeante; o corpo magro é encarado como símbolo de beleza, poder, auto-controle e modernidade. Desta forma a propaganda dos regimes convence o público de que o corpo pode ser moldado. Assim, a busca pelo corpo perfeito tem se manifestado em três áreas: nutrição/dieta, actividade física e cirurgia plástica.
Distúrbio da interacção familiar, eventos estressantes relacionados com a sexualidade e formação da identidade pessoal são apontados como desencadeantes ou factores de manutenção da bulimia. Postula-se que alterações de diferentes neurotransmissores podem contribuir para o complexo sintomático, notadamente dos mesmos neurotransmissores envolvidos na depressão emocional.
5 – SINTOMAS
Os sintomas da Anorexia Nervosa são:
- Perda de peso significativa (15% ou mais abaixo do peso)
- Dieta rígida causando perda de peso severa
- Imagem corporal distorcida
- Medo intenso de engordar
- Preocupação excessiva com alimentos, calorias, e gordura.
- Continuar a dieta mesmo estando muito magra
- Ausência de menstruação
- Perfeccionismo
- Exercícios em excesso ou hiperactividade
- "Rituais" em relação comida
- Mentir sobre comida
- Dificuldade em manter a temperatura do corpo
- Desmaios
- Falta de fôlego
- Queda de cabelos
- Preferir alimentar-se isoladamente
- Extremidades frias
- Depressão, ansiedade
- Fraqueza, exaustão
- Obstipação (Prisão de Ventre)
- Crescimento de finos pelos nos braços, pernas e outras partes
- Pele seca e frágil
Os sintomas da Bulimia são:
· A pessoa come compulsivamente
· Não controla o que come
· Vomita, usa indevidamente laxantes, exercícios ou jejum para se livrar das calorias
· Imediatamente após as refeições dirige-se ao W.C.
· Glândulas salivares inchadas
· Dentes e gengivas danificados
· Faz dieta na fase não compulsiva mas quando sente fome torna-se novamente compulsiva
· Acredita que não vale nada se não for magra
· Pode roubar, ser promiscua, abusar de alcool, drogas e gastar dinheiro demais.
· O peso pode ser normal ou perto do normal, a menos que anorexia também esteja presente
· Vergonha e depressão
· Perfeccionismo
· Preocupação excessiva com o peso corporal
· Exercita-se compulsivamente
· Flutuações significativas de peso corporal
6 - CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO
Anorexia Nervosa:
A. Recusa em manter o peso corporal a um nível igual ou acima do mínimo normal adequado à idade e à altura;
B. Medo intenso de ganhar peso ou tornar-se gordo mesmo com o peso abaixo do normal;
C. Perturbação no modo de vivenciar o peso ou a forma do corpo, influência indevida do peso ou da forma do corpo sobre a auto-avaliação, ou negação do baixo peso corporal actual.
D. Nas mulheres pós-menarca, amenorréia, isto é, ausência de pelo menos três ciclos menstruais consecutivos.
Bulimia:
A. Episódios recorrentes de compulsão periódica. Um episódio de compulsão periódica é caracterizado pelos seguintes aspectos:
1. - ingestão, num período limitado de tempo (por ex., dentro de um período de 2 horas) de uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria durante um período similar e sob circunstâncias similares;
2. - um sentimento de falta de controle sobre o comportamento alimentar durante o episódio (por ex., um sentimento de incapacidade de parar de comer ou de controlar o que come ou a quantidade ingerida);
B. Comportamento compensatório inadequado e recorrente, com o fim de prevenir o aumento de peso, como auto-indução de vômito, uso indevido de laxantes, diuréticos, enemas ou outros medicamentos, jejuns ou exercícios excessivos;
C. A compulsão periódica e os comportamentos compensatórios inadequados ocorrem, em média, pelo menos duas vezes por semana, por 3 meses;
D. A auto-avaliação é indevidamente influenciada pela forma e peso do corpo;
E. O distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de Anorexia Nervosa.
C. A compulsão periódica e os comportamentos compensatórios inadequados ocorrem, em média, pelo menos duas vezes por semana, por 3 meses;
D. A auto-avaliação é indevidamente influenciada pela forma e peso do corpo;
E. O distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de Anorexia Nervosa.
7 – Prevenção
Ainda não existe uma estratégia de prevenção conhecida. O que pode ser feito é detectar a doença o mais rápido possível, apostando nos três níveis de prevenção.
A prevenção primária pretende evitar o início da doença, com a intervenção nos factores de risco. O objectivo primordial consiste na redução da prevalência de comportamentos de dieta e comportamentos inadequados para controle de peso tais como o vómito induzido e o uso de laxantes.
Deve incidir-se sobre as intervenções que previnem a existência de dietas e comportamentos alimentares inadequados e não necessariamente diminuir a incidência dos transtornos alimentares. A prevenção primária deve focalizar factores sociais com significado etiológico nomeadamente a indústria da moda e da dieta.
A prevenção secundária deve incidir na redução do período entre o início de doença e a obtenção de ajuda efectiva, isto é, a intervenção precoce. Constatou-se que quanto mais crónicos são os sintomas, pior é a resposta ao tratamento. Esta procura de tratamento nem sempre é fácil uma vez que quem sofre de um transtorno alimentar não o aceita como um problema. Deste modo, a grande maioria dos pacientes são levados a um terapeuta pelos familiares.
A principal prioridade no desenvolvimento dos programas de prevenção secundária deve incidir no aumento do conhecimento à cerca da origem e dos sintomas iniciais da anorexia nervosa e da bulimia.
No que concerne à prevenção terciária, esta raramente é considerada nos transtornos alimentares no sentido de que alguns doentes com anorexia nervosa e bulimia não obtêm resultados muito favoráveis nos tratamentos e as recaídas são mais prováveis e frequentes. O principal objectivo consiste na redução da morbilidade, já que estes números são os mais elevados no âmbito dos transtornos psiquiátricos.
No entanto, nem sempre é fácil actuar de modo eficaz na prevenção, tornando-se essencial a avaliação das mudanças nas áreas do conhecimento e do comportamento.
7.1 – RECOMENDAÇÕES GERAIS SOBRE A ALIMENTAÇÃO E O EXERCÍCIO FISICO
1 – Não fazer refeições volumosas;
2 – Fraccionar os alimentos do dia pelo menos por 6 refeições;
3 – Comer devagar, isto é mastigar e engolir os alimentos lentamente;
4 – Optar por cozidos ou grelhados;
5 – Pôr de parte alimentos ricos em gorduras (natas, manteiga, chouriço, queijos gordos);
6 – Usar só raramente as frituras e quando o fizer utilize o azeite, que é uma gordura menos prejudicial;
7 – Dentro das gorduras sólidas, para cozinhar ou temperar, dê preferência à manteiga de vaca e à banha de porco, mas utilizadas nas mínimas quantidades;
8 – Consuma mais peixe que carne, não se tema de comer peixes gordos, desde o momento que não o sujeite a altas temperaturas;
9 – Coma de preferência queijos magros e só raramente queijos com 40% de gordura ou mais, incluindo requeijão;
10 – Os ovos cozidos e escalfados são muito saudáveis. Os estrelados e mexidos são um veículo de gordura indesejável;
11 – Beba no mínimo meio litro de leite por dia, sendo metade magro e metade meio gordo;
12 – A sopa é um exemplo de um prato desejável porque é um cozido de vegetais, leguminosas e tubérculos e cereais só moderamente temperados de azeite;
13 – Os produtos hortícolas devem entrar abundantemente na dieta, crus ou cozidos, na sopa ou fora dela;
14 – Comer no mínimo 2 peças de fruta por dia;
15 – Beber água em abundância, chá e café com moderação;
16 – As bebidas alcoólicas não são aconselhadas;
17 – Comer pouco sal. Sustitua-o por especiarias e ervas aromáticas;
18 – Faça exercício físico conforme as suas capacidades mas regularmente;
19 – No mínimo, deve dedicar 30 minutos, por dia, a fazer uma actividade física moderada;
20 – Estes 30 minutos podem ser realizados sem parar, ou em períodos minímos de 10 a 15 minutos.
7.2 – ENSINO AOS PAIS E ADOLESCENTES
Um objectivo importante para quem tenta ajudar adolescentes com este tipo de problemas é fazer com que eles sejam capazes de reconhecer que um comportamento dessa natureza não resolve nenhum problema e apoiá-los no processo de aprendizagem de melhores tácticas de resolução dessas situações. Encarar o distúrbio alimentar dessa maneira é realmente muito mais animador. Pelo contrário, pensar nele como uma doença emocional complexa, misteriosa e impenetrável é assustador, confunde e tende a desencorajar qualquer esforço para lidar com ele.
A situação passará assim, a ser vista, não como qualquer coisa que necessita de cura, mas como algo que pode ser resolvido com a ajuda apropriada.
Geralmente é alguém de fora que se apercebe do estado de extrema magreza da adolescente, até porque o contacto diário ilude a mudança, turva o olhar dos pais. Por isso, há sinais a que a família deve estar atenta, de modo a evitar que se chegue a um extremo. São eles:
- mania das dietas - repare se a sua filha, de repente, começou a limitar a ingestão de alimentos a fruta, saladas e legumes cozidos. Normalmente, as adolescentes abandonam rapidamente estas dietas, por isso, se persistir várias semanas consecutivas pode ser sintoma de uma doença do comportamento alimentar.
- mudanças de comportamento - se, além de alterações nos padrões alimentares, a sua filha mostrar mudanças de comportamento, pode estar perante um quadro de doença. Se a adolescente, que sempre foi franca e aberta, agora passa horas fechada no quarto, se perde o interesse pelos amigos ou pelas suas actividades habituais, a situação pode ser séria.
- excesso de exercício físico - uma das coisas mais impressionantes neste tipo de doenças é que uma pessoa que mal se alimenta o suficiente para agarrar um lápis consiga ter energia para passar horas a fazer jogging ou a pedalar. Quando o exercício físico é levado ao extremo, é sinal de que algo está mal.
- perda de peso sem dieta - se uma adolescente come normalmente, ou mais do que o normal, e perde peso, os pais devem suspeitar de que se está a desfazer da comida. O grau de suspeição deve aumentar se ela se levantar logo da mesa a seguir à refeição e se enfiar na casa de banho. Esta é uma pista muito forte para descobrir a síndroma da ingestão compulsiva seguida de vómito - bulimia.
- depressão - Se a sua filha apresentar sinais de doença do comportamento alimentar e também parecer deprimida ou excessivamente reservada, se aparentar não ter ambições ou começar a fazer comentários acerca de não ter futuro e se sentir vazia, deve actuar de imediato e pedir ajuda. Qualquer alusão a temas relacionados com o suicídio deve ser encarada de uma forma muito séria.
Os distúrbios alimentares - anorexia ou bulimia - põem à prova toda a família. Ajudar uma magricela ou uma comilona requer mais paciência, firmeza, amor, sabedoria e força do que a maioria dos pais julga ter. Assim, os pais devem:
Evitar:
- Evitem sentir-se culpados. É claro que vocês não são pais perfeitos. No entanto, problemas familiares são apenas uma parte da história da anorexia e, de qualquer modo, o passado é o passado e não pode ser mudado. O que interessa é o que pode ser feito agora em relação aos problemas do vosso filho e da vossa família.
- Evitem transformar a comida num problema, se a vosso filho quiser comer sozinho deixem-no . Mas não se esqueçam de lhe dizer que gostariam que ele tomasse as refeições com a família, e que todos sentem a sua falta. Não critiquem os seus hábitos alimentares. Qualquer conflito relacionado com a comida dá-lhe a oportunidade de manipular. Se ele quiser cozinhar, deixem-no, mas não sempre.
- Evitem que a preocupação com o filho doente desvie a vossa atenção do vosso casamento ou dos outros filhos. Tornar-se o centro das atenções é reconfortante para ele e leva-o a prolongar os comportamentos anormais.
- Não tenha pena dele. Sejam atenciosos e empenhados, mas não exagerem na compaixão. Ele precisa de oportunidades para ser independente e responsável, e não de miminhos.
- Evitem sentir-se intimidados pelas ameaças de suicídio. Essa ameaças devem ser discutidas com o terapeuta que poderá dar conselhos sobre quando e como tomá-las a sério, sem se deixarem manipular por elas.
- Evitem permitir-lhe que imponha as actividades ou os comportamentos da família, ou que determine as horas a que a família há-de de comer, dormir ou sair.
- Se o problema do vosso filho é bulimia, evitem ajudá-lo a esconde-lo. Mostrem-lhe que sabem o que se passa e eu estão dispostos a ajudá-lo.
Fazer:
1. Mostrem-lhe, por palavras e por actos, que gostam dele e eu o respeitem. Mas certifiquem-se de que ele compreende que a vida também é importante.
2. Deêm-lhe todas as oportunidades de assumir responsabilidades, mas não o obriguem a isso.
3. Combatam o perfeccionismo. Admitam os vossos erros, não fazendo cenas a propósito dos dele.
4. Reconheçam e respeitem as ideias e valores dele, mesmo que sejam diferentes dos vossos. Conversem acerca das diferenças dele, mas não o traem como uma criança que “não sabe o que quer”.
5. Tentem ser pacientes e aceitar cada dia como se apresenta. Recuperar de uma doença do comportamento alimentar pode ser demorado; se se concentrarem no tempo que falta para ele ficar bom, o tempo ainda custará mais a passar.
6. Procurem ajuda para pais, através de um psicólogo ou de um grupo de apoio. Falem do vosso problema com parentes próximos ou com amigos, respeitando sempre a privacidade do vosso filho, se ele assim o desejar.
7. Dediquem a máxima atenção a qualquer problema grave do foro emocional ou de comportamento de um dos progenitores.
8 – COMPLICAÇÕES DECORRENTES
O anoréctico fica entre a espada e a parede. Se era vista como obediente, transforma-se em dominadora, exigente e instável, obrigando a família a ceder às suas imposições. À medida que o peso baixa, torna-se profundamente egocêntrica.
E manipula a família - impondo ementas restritas, estabelecendo horários de refeição muito rígidos, inviabilizando visitas, exigindo acesso exclusivo a certas zonas da casa, apoderando-se mesmo da balança com medo que a estraguem. Sem darem por isso, os familiares estão escravizados.
As rotinas do anoréctico podem tornar-se tão rígidas como treinos militares. Algumas planeiam o dia ao minuto e cumprem esses horários independentemente da interferência que possam ter na família.
O corpo sofre com os efeitos secundários das dietas excessivas: a anoréctica deixa de ter o período menstrual, ou, se ainda não o tem, apercebe-se de que está a ser poupada - o que lhe agrada, porque, dada a sua obsessão pela higiene, a menstruação é vista como algo repugnante.
Os padrões de sono também sofrem alterações.
Os efeitos físicos da privação de alimentos começam por ser visíveis na aparência esquelética, palidez, pele seca, temperatura corporal baixa (a anoréctica está sempre com frio), lábios e dedos arroxeados.
Mas outras consequências, de natureza neurológica e endrocrinológica, estão mais escondidas. A anoréctica fica extremamente sensível a estímulos exteriores, como ruídos ou cheiros. Revela comportamentos obsessivos, perturbações de raciocínio e desordem mental.
O doente bulímico, devido à repetição regular de vómitos induzidos pela introdução de um dedo na garganta pode originar calos no sítio onde os dedos raspam a pele e também destroi o esmalte dos doentes pela exposição aos ácidos do estômago. Os dentes tornam-se sensíveis a alimentos quentes e frios.
Além disso, a ingestão compulsiva de alimentos e as subsequentes manobras purgativas podem afectar seriamente vários órgãos sensíveis à perda de potássio e à desidratação, incluindo os rins e o cérebro. Também o esófago pode sofrer irritações graves provocadas pela acidez gástrica.
Rosto inchado, como se tivesse papeira, é um dos sinais mais óbvios da indução sistemática do vómito.
Por vezes, quando não consegue induzir o vómito, a bulímica vira-se para os laxantes. Mas também aqui a escalada é inevitável: o intestino torna-se insensível à dose inicial e deixa de reagir, ao ponto de em casos extremos o doente ingerir 30 a 50 vezes a dose diária recomendável.
Com os inerentes efeitos prejudiciais a prazo - lesão das extremidades nervosas que alimentam as fibras musculares do intestino. Já não consegue efectuar os movimentos naturais de contracção coordenada, evacuar torna-se mais difícil. O desconforto abdominal é por demais evidente: aumenta o volume do abdómen, é como se o doente tivesse um melão oco na barriga.
Quer a indução do vómito quer o recurso a laxantes podem perturbar gravemente o equilíbrio bioquímico do corpo.
Mais dissimulado do que o anoréctico, o bulímico apresenta, contudo, formas muito estranhas e assustadoras de comportamento.
A culpa esmagadora que sente após cada crise de voracidade empurra-a para a auto-mutilação e flagelação - bater com a cabeça nas paredes, esfregar as mãos e os braços com uma superfície áspera até sangrar são gestos frequentes. É que a dor física põe fim momentaneamente à angústia mental que não é capaz de suportar.
9 – TRATAMENTO
O tratamento da anorexia nervosa consiste numa combinação de psicoterapia e medicamentos. O tratamento tem que começar rápido, com muita firmeza, sem deixar absolutamente nenhuma alternativa para a paciente, de modo que fique claro que ela tem que ganhar peso.
Os principais objectivos do tratamento são:
O aumento do peso corporal, já que o tratamento visa permitir à pessoa voltar ao seu peso normal e readquirir hábitos alimentares saudáveis. Em casos graves de desnutrição e baixo peso corporal, a alimentação intravenosa pode ser necessária.
Tratar intercorrências orgânicas da desnutrição.
Deixar claro para a paciente que se trata de salvar asua vida, quer ela queira ou não.
Consciencializar o paciente a respeito da sua doença (quando os sintomas já estiverem sob controle, a pessoa pode tentar entender o significado desta doença e como ela pode afectar a sua vida em todos os sentidos.)
Implementar um tratamento:
a) Anti-depressivos.
Quase sempre a Anorexia é acompanhada de um estado depressivo. Os anti-depressivos diminuem o carácter compulsivo dos vómitos e da distorção da auto-imagem e também agem no sistema de neurotransmissores que se encontram alterados devido à doença.
O tempo de espera para começar o efeito é de várias semanas; além disso o paciente não aceita estar doente e não quer tomar remédios (a não ser aqueles que a façam perder mais peso). Portanto aí já começa a primeira batalha entre os pais e o paciente.
Além disso, existem muitos anti-depressivos diferentes e pode ser que as primeiras tentativas não tenham um resultado bom. Nesse caso, é preciso ter paciência para uma tentativa com outro medicamento que também precisará de algumas semanas para ser avaliado.
Embora os medicamentos, principalmente os anti-depressivos, se mostrem eficazes no tratamento tanto da bulimia quanto da anorexia nervosa, há algumas evidências que o tratamento com anti-depressivos tem sido mais proveitoso nos casos de anorexia. Os medicamentos mostraram-se necessários para aqueles pacientes com sintomas de depressão, ansiedade e desordem obsessiva-compulsiva.
b) Psicoterapia
É muito importante, embora geralmente os pacientes só vão ao terapeuta para que a família os deixe em paz. Esse é um dos motivos pelos quais a psicoterapia não se aprofunda, fica arrastada, e parece que é um castigo semanal para o paciente. A forma de psicoterapia mais eficaz é a Cognitiva - Comportamental.
“Terapia Comportamental” é um conceito alargado ao qual se pode atribuir vários significados. Nas doenças de comportamento alimentar refere-se a uma abordagem de longo prazo para alterar os maus hábitos alimentares, os comportamentos distorcidos e inadequados e as tendências auto-destructivas. Baseia-se fundamentalmente em tentar repor o peso da pessoa anoréctica/bulimica até um valor em que o seu estado físico deixe de interferir com a forma e capacidade de lidar com os problemas.
c) Programa nutricional
Às vezes é necessário que o endocrinologista e um nutricionista façam um programa de nutrição. Uma vez que já se conhece o problema, uma variedade de técnicas de terapia podem ser aplicadas. Um nutricionista pode preparar um programa alimentar que ajude na recuperação da saúde do paciente e o faça ganhar peso. A terapia faz com que a pessoa volte a reconhecer a sua verdadeira imagem corporal. Uma terapia familiar também é indicada.
d) Internamento hospitalar
d) Internamento hospitalar
O internamento hospitalar por algumas semanas é também recomendado. Mas, atenção: hospitalização não é castigo. Ela deve ser encarada da seguinte maneira: o tratamento da anorexia é como se fosse uma corrida.
De um lado está o paciente, o seu tratamento medicamentoso e psicológico. De outro lado está a natureza da doença, que frequentemente é fatal. Chega a uma altura em que o paciente e os seus terapeutas começam a perder a corrida. Isto quer dizer que o estado de emagrecimento chegou a um ponto em que há riscos para a saúde física da paciente. Nesse momento, recorre-se ao internamento. Embora seja muito pouco aceite pela família (pelo paciente nem se fala), o internamento hospitalar no início de um tratamento proporciona os melhores resultados.
Quando a pessoa perde 3/4 do seu peso corporal, a doença atinge um nível muito perigoso, sendo absolutamente necessário o internamento.
Se a bulimia não for tratada, pode ser igualmente fatal. No entanto, se a Bulimia não fizer parte da evolução de uma Anorexia, o prognóstico é melhor.
O tratamento da bulimia é parecido com o da anorexia, pois inclui o uso de medicamentos anti-depressivos e sessões de terapia. Embora o tratamento da bulimia seja de certa forma mais simples que o da anorexia, as melhoras demoram a serem notadas, pois o tratamento precisa de um longo prazo para ser realmente eficaz.
O seu foco consiste na quebra do ciclo vicioso que se estabelece na vida da pessoa - come em excesso, depois vomita ou toma laxantes e exercita-se em demasia para poder voltar a comer tudo de novo. O tratamento também está voltado para a família, ensinando-a a lidar com o problema, o que pode ser feito através de terapias de grupo ou aconselhamento familiar. Os Anti-depressivos são indicados para pacientes que sofram de depressão. Além disso, devem procurar apoio em grupos de ajuda.
O internamento hospitalar torna-se necessário numa minoria dos casos, uma vez que o paciente tem consciência dos sintomas e aceita melhor o tratamento em casa.
Em ambos os distúrbios alimentares, a recuperação é, para as doentes, uma descoberta - uma aprendizagem da qual saem mais fortes e confiantes, com mais conhecimento de si próprias. O mesmo acontece com os pais, que saem mais fortalecidos dessa luta.
10 - CONCLUSÃO
A elaboração deste trabalho permitiu-nos adquirir um vasto conhecimento do tema que nos foi proposto, portanto esperamos com este trabalho elucidar quanto à intervenção numa situação de anorexia ou bulimia.
Estas alterações, não são certamente apenas um conjunto de sinais e sintomas, um quadro patológico que enquadra distúrbios mentais e alimentares, mas sim um refúgio, uma tentativa de resolver problemas ou conflitos interiores que muitas vezes preenchem o nosso inconsciente.
Desta forma, devemos levar estes adolescentes a consciencializar-se que fugir dos problemas, procurando um refúgio não adianta. É necessário enfrentá-los para que um dia esses mesmos conflitos não marquem a sua vida de uma forma ainda mais dolorosa e angustiante. Por isso, não adianta esquecer ou simplesmente tentar passar por cima de um distúrbio alimentar, que destrói progressivamente a mente e o corpo. É preciso vence-lo e dizer não quando a vontade é menor que o vício.
As pessoas com doenças do comportamento alimentar não são malucas, nem esquisitas, nem absurdas e não devem ser desprezadas. São seres humanos como todos nós com sentimentos e ideias interessantes: com efeito, elas passam por toda a escala de comportamentos e personalidade. Por conseguinte, cada uma delas deve ser ajudada e compreendida na sua individualidade, sem regras rígidas que possam originar confusão.
Sendo assim, cabe a cada um de nós como futuros profissionais de saúde e a população em geral, ajudar e tentar compreender estes doentes, não criticando ou julgando e lembrando-nos que uma palavra pode significar uma vida. Pois, não basta querer comer, é preciso saber viver.