O Curso de Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem de Reabilitação (CPLEER) foi preconizado para desenvolver competências nos domínios científico, técnico, humano e cultural, na investigação em enfermagem, na formação em contextos de trabalho, na gestão e desenvolvimento da qualidade em saúde.
Deste modo, a formação da especialidade em Enfermagem de Reabilitação visa proporcionar uma sólida formação cultural e técnica, desenvolver a capacidade criativa ministrar conhecimentos de elevado nível de exigência qualitativa, com vista ao desempenho e desenvolvimento profissional.
De acordo com o plano de estudos aprovado pelo Ministério da Educação foram definidas como principais finalidades:
- Proporcionar formação especifica desenvolvendo capacidades de auto análise e de prática reflexiva, assegurando a aquisição de competência cientifica, técnica, humana e cultural adequadas à prestação de cuidados de Enfermagem especializados na área da reabilitação;
- Contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços de saúde em Portugal através do desenvolvimento da investigação e de saberes, atitudes e comportamentos a nível clinico, da gestão e da formação em Enfermagem.
O enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação é um profissional de saúde, que possui um conjunto de qualificações que o habilita a exercer as suas funções de forma autónoma e em parceria, assumindo-se como perito em cuidados de enfermagem no seio das equipas de saúde, contribuindo para uma abordagem multi e interdisciplinar dos problemas.
O ensino clínico apresenta-se, no curso como uma componente formativa essencial para que se adquiram conhecimentos capacidades e habilidades profissionais. As competências a ter em consideração são:
- organizar e desenvolver programas globais de enfermagem de reabilitação centrados nas necessidades dos utentes (indivíduo, família ou grupos ) resultantes de deficiência, incapacidade ou doença;
- prestar cuidados personalizados diferenciados aos vários níveis de prevenção, na promoção da autonomia e independência funcional, minimizando os efeitos das deficiências e desvantagens apresentadas ou adquiridas ;
- utilizar conhecimento cientifico e outros saberes adquiridos para intervir em conjunto com equipas multidisciplinares no planeamento e implementação dos cuidados especializados;
- identificar , planear, executar e avaliar cuidados de enfermagem especializados de reabilitação de pessoas e família, ao longo do ciclo vital, tendo em vista a sua autonomia;
- colaborar na concepção, organização, planeamento, execução e de programas de cuidados especializados no âmbito da prevenção, tratamento e reinserção social da pessoa nos seus contextos de vida;
- promover o envolvimento e participação da família no processo de cuidados, nomeadamente no âmbito da reabilitação;
- promover uma adequada preparação e planeamento da alta do utente com ligação aos cuidados de saúde continuados, incluindo o assegurar os conhecimentos do doente e/ou familiares de referência, indispensável aos cuidados de saúde após alta;
- actuar cientificamente e desenvolver iniciativas ou práticas de investigação como forma de resolução de problemas no âmbito do serviço onde se desenvolve o ensino clínico;
- dar pareceres técnico científicos no âmbito da enfermagem de reabilitação;
- desenvolver uma atitude de questionamento e de reflexão sobre as práticas promovendo a actualização científica, técnica e a mudança organizacional, no seio das equipas de enfermagem;
- desenvolver e aplicar técnicas diversas, necessárias á prestação de cuidados de enfermagem de reabilitação quer enquanto profissional, quer como membro de equipas de saúde;
- Executar as intervenções de enfermagem, previamente seleccionadas e avaliar os seus resultados;
- Ensinar, instruir, treinar e advogar a adopção de estratégias adaptativas;
- Intervir desde a definição de diagnósticos às intervenções terapêuticas, junto da família, familiares significativos e meio social.
- Desenvolver capacidade de auto-aprendizagem.

Actividades preconizadas
Doentes do foro neurológico
- Avaliação funcional da pessoa, família e comunidade;
- Exame neurológico;
- Posicionamentos anti-espásticos;
- Mobilizações articulares e exercícios terapêuticos no leito (ponte, auto-mobilizações, rotações);
- Treino de equilíbrio sentado e em pé;
- Transferências;
- Exercícios em cadeiras de roda e treino de marchas
- Treinos de vestir e despir
- Treino intestinal e vesical;
- Preparação do doente/família para a alta
- Elaboração de planos continuados para o domicilio
Doentes do foro ortopédico
- Ensinos pré operatórios específicos à reabilitação dos doentes
- Intervenções de enfermagem no pós operatório:
- Posicionamentos terapêuticos
- Mobilização do doente no leito
- Exercícios de mobilização articular e fortalecimento muscular
- Levante e treino de equilíbrio
- Transferências
- Ensino e treino de marcha
- Preparação do doente/família para a alta
- Elaboração de planos de cuidados para o domicílio
Doentes do foro respiratório
- Reeducação ventilatória, com dissociação dos tempos ventilatórios
- Treino da tosse para limpeza das vias aéreas
- Exercícios de correcção postural
- Exercícios de tonificação diafragmática e intercostal
- Realização de drenagens posturais
- Exercícios de abertura costal
- Intervenção nas terapias com aerossol
- Realização de percussões e vibrações torácicas
- Correcções posturais
2 - CONTEXTUALIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO
BREVE CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO
O primeiro estágio realizado no âmbito do curso de pós licenciatura especialidade em enfermagem de reabilitação foi realizado no Centro Hospitalar Zona Central nomeadamente no Hospital de São José, pelo que se torna pertinente a realização de uma breve caracterização.
A sua inauguração ocorreu no reinado de D. Manuel I em 1501.Resultado da fusão de pequenos hospitais a sua nomenclatura ficou determinada pela denominação comum aos que se juntaram como todos os Santos. Foi também “Hospital Real”, e simultaneamente Hospital dos Pobres. Na história de grandioso hospital contam-se alguns dramas contudo tem resistido nomeadamente aos incêndios sendo o primeiro a 27 de Outubro de 1601 outro deu-se a 10 de Agosto de 1750 e o terceiro e último, a 1 de Novembro de 1755 no incêndio resultante do Terramoto de Lisboa. A ironia foi a de que o Hospital Real de Todos os Santos foi destruído no seu próprio dia o de Todos os Santos.
O Hospital de São José é um hospital central cuja área de influência abrange a zona antiga da cidade de Lisboa e toda a região sul do país; esta área de Lisboa integra os Centros de Saúde da Graça, Lapa, Luz Soriano e São Mamede.
SERVIÇO DE MEDICINA
O Serviço de Medicina onde foi realizado este estágio encontra-se integrado no Departamento de Medicina no 3ºandar do edifício principal do HSJ. Este serviço pode comportar até 35 utentes, recebendo preferencialmente utentes com patologias do foro respiratório e neurológico embora possa receber outros que não tenham vagas noutros serviços, como é o caso de doentes do foro ortopédico e urológico. O serviço possui 18 camas de mulheres e 17 camas de homens. Uma grande percentagem possui idades compreendidas entre os 65 e os 85 anos.
Recursos Humanos
São vários os profissionais que trabalham neste serviço:
Equipa de Enfermagem
1 Enfermeira Chefe, 1 Enfermeira Especialista em Reabilitação, 1 Enfermeira Especialista em Saúde no Idoso, 9 Enfermeiros Graduados, 14 Enfermeiros (nível I)
Equipa Médica
Director do Serviço, Chefe de Serviço, Assistentes Hospitalares, Internos, Estagiários.
Secretariado Administrativo
Secretária da Unidade
Pessoal Auxiliar
10 Auxiliares de Acção Médica, sendo duas só de manhã e as restantes em horário rotativo.
Outros Colaboradores
Sempre que necessário podemos contar com a colaboração de:
Médicos das seguintes especialidades: Neurologia, Ortopedia, Medicina Física e Reabilitação, Psiquiatria, Neuropsicologia; Dietista; Fisioterapeuta; Psicólogo; Capelão; Assistente social;Terapeuta da fala, etc.
Informações Diversas:
Processo Individual do Utente
Toda a documentação referente ao processo dos utentes (processo médico, registos de enfermagem, papeleta, análises, relatórios, etc.) e os exames complementares de diagnóstico encontram-se em armários próprios para o efeito, situados na sala de trabalho de enfermagem.
Visitas/Informações
As informações relativas aos utentes poderão ser dadas pelo médico ou pelo enfermeiro responsável, tendo em conta que as informações clínicas só podem ser fornecidas pelos médicos.
Nos dias úteis entre as 10 e as 13 horas os familiares podem dirigir-se ao serviço a fim de contactar o médico assistente do utente, no sentido de obterem informações clínicas. Os médicos são informados pelos enfermeiros da necessidade de fornecer informações devendo os familiares aguardar na entrada do serviço a situação oportuna desta informação.
O período das visitas é entre as 12,30 e as 16 horas (e visitas de cada vez) e entre as 18 e as 20 (1 visita de cada vez), no entanto é permitida a entrada de visitas noutros horários, quando possível.
É permitido aos utentes receberem telefonemas, dispondo o serviço de um telefone portátil para seu uso, no entanto os familiares devem organizar-se de modo a que não telefonem persistentemente pois isso vai interferir nos cuidados prestados aos utentes.
Existe no serviço um folheto informativo para ser facultado aos utentes/familiares.
Métodos de Distribuição de Trabalho
O método de trabalho é o método de distribuição de trabalho por enfermeiro. Cada enfermeiro é responsável pela globalidade dos cuidados necessários aos seus utentes.
Os enfermeiros especialistas em horário fixo são responsáveis diariamente por um grupo de utentes, pela supervisão e orientação dos restantes enfermeiros na prestação de cuidados de enfermagem, pela supervisão, orientação e integração dos outros enfermeiros e também pela colaboração da gestão da unidade com a enfermeira chefe do serviço.
3 – DELIMITAÇÃO DA PROBLEMÁTICA
A enfermagem de reabilitação tem como preocupação as necessidades de auto-cuidado, promovendo a independência emocional, a auto-estima, o bem estar e a qualidade de vida e oferecendo um conjunto contínuo de cuidados que visam sustentar a vida, recuperar a saúde ou compatibilizar a pessoa com a deficiência, incapacidades e desvantagens, através de processos de readaptação entre as capacidades optimizadas e os objectivos de vida que a pessoa e/ou família perseguem.
“A amostragem é o procedimento pelo qual um grupo de pessoas ou um subconjunto de uma população é escolhido com vista a obter informações relacionadas com um fenómeno, e de tal forma que a população inteira esteja representada.” (Fortin,1999.p.202)
Ao iniciar esta pratica clínica, foi relativamente fácil constatar a existência de inúmeros utentes com necessidades de uma intervenção de enfermagem de reabilitação. O serviço de Medicina engloba uma diversidade de utentes com patologias respiratória tais como pneumonia, bromquiectasia, derrame pleural, tuberculose, enfisema pulmonar, infecção respiratória, etc.; patologias neurológicas como os acidentes vasculares cerebrais quer isquémicos quer hemorrágicos, doença de Alzheimer, doença de Parkinson,etc. e ainda por vezes utentes com patologia urológica e ortopédica, portanto houve a necessidade de se limitar a área de intervenção, sendo no entanto importante salientar que esteve sempre presente o espírito de inter ajuda entre os restantes profissionais de saúde com a enfermeira de reabilitação nomeadamente a preocupação com na participação da sua intervenção na decisão do programa para os outros utentes que não aqueles que nos estavam atribuídos.
“Os campos da práctica podem levantar muitas interrogações e constituir desta forma uma fonte importante de domínios a explorar” (Fuller,1982), in Fortin,1999, p.49.
No campo de actuação da enfermagem de reabilitação são diversas as experiências vividas e as observações efectuadas que poderão suscitar interesse como objecto de estudo no sentido de se contribuir para a evolução da ciência da enfermagem.
“A questão pode provir de observações em meio de trabalho ou de comportamentos observados, por exemplo, os comportamentos de pacientes e da sua família em situação de crise...” (Fortin,1999,p.49)
Ao longo do estágio foram inúmeras as situações em que a intervenção de enfermagem de reabilitação se assumiu como indispensável e necessária, no entanto houve necessidade de delimitar a área de intervenção, e neste sentido foram conciliados os factores como; utentes com maior necessidade de intervênção de enfermagem de reabilitação; utentes com capacidade cognitiva suficiente para aderir a um projecto de intervênção; utentes com diagnósticos que suscitavam maior interesse para a área a desenvolver competências. Assim, durante esta práctica clínica a delimitação da intervênção relacionou-se fundamentalmente com utentes com necessidade reeducação funcional respiratória e reeducação funcional motora.
“Quaquer pessoa que quer empreender uma investigação começa por encontrar ou delimitar um campo de interesse preciso. Este campo de interesse é habitualmente associado aos estudos empreedidos, a preocupações clínicas, profissionais, comunitárias ou sociais.” (Fortin,1999,p.49)
4 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
COMPETÊNCIAS NA ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO
A reabilitação é um processo global, dinâmico e contínuo, dirigido ao ser humano, ao longo do ciclo vital e aos grupos sociais em que ele está integrado, de forma a corrigir, conservar, melhorar ou recuperar as aptidões e capacidades funcionais tão rapidamente quanto possível, para o exercício de uma actividade considerada normal no âmbito do seu projecto de vida.
“A reabilitação, mais do que uma disciplina, é o testemunho de um espírito particular; o do intresse sentido pelo futuro da pessoa, mesmo quando a cura ou a reparação do seu corpo – regresso do mesmo à normalidade – deixam de ser possíveis. Este interesse pelo outro não pode ser confundido com a ajuda que se presta a um índividuo indeterminado; è um interesse particular, requerido pela singularidade da existência de determinada pessoa. Cuidados individualizados não são sinónimo de cuidados personalizados.” (Hesbeen,2001, introdução).
O processo de reabilitação, para além de envolver o aconselhamento e a orientação individual e familiar, pressupondo a pessoa como ser único que procura viver em equilíbrio e harmonia, compreende medidas diversificadas e complementares nos domínios da prevenção, do apoio psicossocial e sócio-profissional, das ajudas técnicas, da cultura, recreio e desporto e de outras que visem favorecer autonomia pessoal, com a cooperação de profissionais aos vários níveis sectoriais e empenhamento da comunidade.
“O processo de reabilitação, para além da pessoa que recebe cuidados e da sua família, recorre a inumeros intervenientes, a diversos profissionais. Todos eles, no lugar que ocupam e com a sua profissão ou actividade, contribuem para a cultura da reabilitação, nas instituições ou serviços especializados.
A multiplicidade da equipa de reabilitação é vital, porque ao doente um ambiente humano diversificado, essêncial à vida em sociedade.” (Hesbeen,2001,p.63)
Os cuidados de enfermagem de reabilitação desenvolvem-se considerando o utente (indivíduo, família, conviventes significativos ou grupo social) ao longo do seu ciclo vital como sujeito activo e decisivo, central no processo de cuidados e portanto parceiro fundamental da equipa de saúde. O utente é considerado com autonomia e com poder de decisão devendo ser ajudado a tomar as suas opções e decisões de forma consciente e informada no processo de reabilitação. OS cuidados de enfermagem de reabilitação desenvolvem-se tendo como princípios fundamentais o respeito pela pessoa e pela sua individualidade.
Os enfermeiros de reabilitação têm por excelência a oportunidade e a responsabilidade de desenvolver instrumentos teóricos acerca dos cuidados.
“As enfermeiras de todos os níveis de formação têm a responsabilidade de participar no desenvolvimento do conhecimento em ciências de enfermagem e na sua utilização na prática.” (Fortin,1999,p.29)
Os enfermeiros de reabilitação na área da gestão beneficiariam com a integração de teorias de sistemas familiares e modelos ecológicos de desenvolvimento do percurso de vida no seu repertório de bases teóricas para a prática. É função dos enfermeiros de reabilitação tornarem-se mais visíveis e participantes activos na legislação e na política pública em relação a si próprios, à sua profissão e dos benefícios aos utentes de todas as idades.
A confiança e o bom relacionamento são componentes tão essenciais e básicos para o desenvolvimento e a manutenção de relações produtivas que constituem o espírito das relações durante os vários estádios de vida de uma pessoa.
“Este espírito é sinónimo de um interesse autentico pela pessoa, sem a reduzir a afecção ou ás suas características, é testemunho de uma atenção subtil dada às pessoas, às coisas que lhes acontecem ao longo da existência, que as tornam diferentes daquilo que eram antes e que afectam igualmente aqueles que as rodeiam.” (Hesbeen,20001,p.35)
O estabelecimento da confiança e do bom relacionamento é um pré-requisito para a criação de relações de ajuda entre os enfermeiros de reabilitação e as pessoas com deficiências crónicas, incapacitantes ou de desenvolvimento familiar.
O enfermeiro de reabilitação deve ter a capacidade de integrar saberes de enfermagem com outros saberes de outras áreas, deve estar esclarecido acerca do seu papel e saber justificar as suas acções e comportamentos fundamentando-os à luz do último saber adquirido. Um dos seus objectivos será o de promover intervenções preventivas em enfermagem de reabilitação de modo a assegurar que os utentes mantêm as capacidades funcionais de modo a evitar mais incapacidades, para prevenir complicações, como para defender a qualidade de vida, dignidade e socialização do indivíduo.
A prática de enfermagem de reabilitação deve conceder ao enfermeiro um estatuto de membro de equipas interdisciplinar e de profissionais de saúde, profissionais comunitários.
“Uma estrutura de reabilitação é um local vivo onde coexistem a par, dinamismo, técnica, reúniões, reflexão, pequenas coisas, constrangimentos, alegrias, inquietações, sofrimento – todos eles componentes que marcam a vida das pessoas que aí são internadas, que aí trabalham ou que aí passam, às vezes, apenas alguns minutos como acontece com as visitas.”(Hesbeen,2001,p.91)
Assim os papéis que o enfermeiro de reabilitação pode e deve assumir sempre que necessário, podem ser: Educador, Conselheiro, Gestor de Caso, Investigador, Defensor dos Direitos de Utentes, Facilitador, Moderador, Líder, Perito e Membro de Equipa.
Num futuro devem ainda participar em mudanças do papel das equipas transdisciplinares, dos papéis de sub-especialidades e dos papéis de áreas avançadas em áreas avançadas com múltiplos cenários.
Quando os enfermeiros de reabilitação baseiam a sua prática nas descobertas fidedignas da investigação teórica e de resultados, estão melhor preparados para a articulação clara dos seus papéis, a defesa dos utentes, a coordenação e a gestão dos cuidados em múltiplos contextos e a participação como membros de equipas de profissionais de saúde interdisciplinares.
“O objecto da investigação em ciências de enfermagem é um estudo sistemático de fenómenos presentes no domínio dos cuidados de enfermagem, o qual conduz à descoberta e ao desenvolvimento de saberes próprios da disciplina. Este saber organiza-se em torno de conceitos, de modelos e de teorias que estão na base da investigação e da prática em ciências de enfermagem.” (Fortin,1999,p.26)
5 – ASPECTOS METODOLÓGICOS / PROCEDIMENTOS
Aspectos Metodológicos
De modo a facilitar a compreensão da Dinâmica da equipa multidisciplinar constituinte do Serviço de Medicina, houve necessidade de apelar á observação. Analisando e reflectindo sobre a realidade vivenciada no Serviço de Medicina tendo em conta a diversidade de patologias bem como os cuidados de enfermagem diferenciados de Reabilitação inerentes a estas, a pesquisa bibliográfica foi crucial. O empenho atribuído ao estudo das mobilizações posicionamentos e cinesiterapia respiratória serviu como fortalecimento e enriquecimento pessoais em termos teóricos bem como a transmissão de um maior grau de segurança e diferenciação nos cuidados prestados. Composta por elementos jovens mas competentes nos cuidados de enfermagem prestados aos utentes, a actuação da equipa recai sobre as necessidades básicas não satisfeitas tendo em conta a família com vista a alta. Analisando crítica e construtivamente este objectivo, posso contudo afirmar que, as actividades planeadas foram pertinentes e adequadas á concretização do objectivo de desenvolver a actuação da enfermagem de reabilitação. Como é óbvio, esta integração surgiu de forma gradual e progressiva resultando num objectivo alcançado.
Este relatório preconiza um trabalho de multicasos durante o qual se realizou uma selecção de casos que exigiam uma maior especificidade técnica na área da reabilitação. O instumento de medida utilizado foi a observação directa e a pesquisa documental.
“Os métodos de observação são técnicas que permitem obter informação relativa ao objectivo do estudo com a ajuda da observação directa e do registo de dados.” (Fortin,1999,p.263)
A metodologia de observação directa e de pesquisa documental é uma metodologia portadora de novas relações entre a observação e a acção, produtora de novos conhecimentos e facilitadora de novos processos de formação.
.Este tipo de investigação permite também:
¨ Abordar a complexidade em contextos reais, envolvendo actores com diversos estatutos.
¨ Implicar actores na investigação e produção de saberes, contribuindo assim para um reinvestimento dos espaços profissionais.
¨ Articular investigação e intervenção, elaborar novos conceitos, novas questões que enriquecem as práticas escolares e pedagógicas.
¨ Conhecer, analisar, sistematizar e generalizar aspectos de processos de construção de novos conhecimentos e novas práticas.
¨ Mostrar espaços e mecanismos sem iludir dificuldades de várias naturezas, mas antes reconhecendo-as como questões reais e não apenas “acasos” irrelevantes.
A observação porque observar é perceber e perceber é o que se quer fazer, para tal não basta saber ouvir e saber ver, pois a percepção humana não se confunde com uma operação de registo de tipo audiovisual. É seguramente uma operação complexa, de selecção, de descodificação e reconstrução do real. É onde intervêm, seguramente, as limitações cognitivas e psicossociais próprias do observador humano.
“Um estudo de observação é o que consiste em colocar questões relativas a comportamentos humanos aparentes ou acontecimentos e obter respostas a essas questões por meio da observação directa dos comportamentos dos sujeitos ou dos acontecimentos, num dado período de tempo ou segundo uma frequência determinada.”(Fortin,1999,Op.263)
Procedimentos
Após a delimitação da área de intervênção e a abordagem dos aspectos metodológicos, serão enunciados os planos de cuidados realizados em função das necessidades de esfermagem de reabilitação dos utentes inseridos no programa de reabilitação.
5 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS OBSERVADOS
(MULTICASOS)
Após desenvolver conhecimentos teórico-práticos no âmbito da enfermagem de reabilitação em relação às patologias mais comuns no Serviço de Medicina, adequada para as situações encontradas e os cuidados de enfermagem de reabilitação prestados pode ser considerado que foi bastante enriquecedor e construtivo para ambas as partes.
Realizando uma introspecção relativamente à concretização da aplicação, posso afirmar que o empenho dedicação aplicados na pesquisa bibliográfica e na procura de novas aprendizagens durante o ensino clínico, proporcionaram segurança no domínio do conhecimento bem como na realização de técnicas de enfermagem especificas, e, apesar de ser um processo que exigiu muito empenho e muita pesquisa bibliográfica, resultou, sem dúvida, num crescimento e amadurecimento pessoais.
Durante realização da prática clínica, da aplicação da aprendizagem relacionada com a enfermagem de reabilitação, da execução dos planos de cuidados e posteriormente da sua aplicação nos utentes previamente seleccionados, a análise e interpretação da interacção da enfermagem de reabilitação em conjunto com a equipa multidisciplinar tem um resultado bastante positivo.
“Os resultados provém dos factos observados no decurso da colheita dos dados; estes factos são analisados e apresentados de maneira a fornecer uma ligação lógica com o problema de investigação proposto” (Fortin, 1999,p.230)
A enfermagem de reabilitação apresentou-se como uma mais valia para a recuperação dos utentes, uma vez que se conseguiu minimizar as dificuldades sentidas pelos mesmos, torná-los mais independentes, remetendo-os para uma realidade muitas vezes diferente da anteriormente vivida. A participação dos familiares no processo de recuperação, a preparação para a alta e o preparar muitas vezes o domicílio para uma nova realidade foram uma constante.
O interesse demonstrado pelos restantes profissionais de saúde como enfermeiros, auxiliares de acção médica, médicos, fisioterapeutas, dietista, assistente social, secretária de unidade, entre outros foi gratificante, pois demonstraram o quanto consideram importante a intervenção da enfermeira especialista na programação dos cuidados a prestar aos utentes e a sua participação na equipa multidisciplinar.
A presença de uma enfermeira de reabilitação, diária e constante ao longo do turno tornou possível a rápida recuperação de todos os utentes envolvidos nos cuidados. Os exercícios de reeducação funcional respiratória e reeducação funcional motora foram executados com maior frequência ao longo do dia, o que, de facto, contribuiu para a diferença. O incentivo e o acompanhamento permanente de uma enfermeira de reabilitação, a disponibilidade para o acompanhamento da família, para a preparação para a alta promovem no utente e na família uma sensação de maior segurança, de motivação para o desenvolvimento de estratégias para a recuperação parcial ou total.
6 – CONCLUSÃO
O ensino clínico contribui de forma uníssona para a formação dos enfermeiros especialistas em reabilitação. Na base deste projecto, está a noção de que a formação pós licenciatura em enfermagem deve estimular o envolvimento entre uma prática clínica quotidiana, uma preocupação de análise critica e metodológica da realidade e um desejo de evolução na efectiva prática dos cuidados.
É importante desmistificar e incentivar uma permanente formação ao longo da vida, criando uma sólida e tranquila ponte entre a prática de cuidados e a sua análise reflexiva; a ponte inevitável e imprescindível entre as estruturas formadoras formais e estruturas prestadoras de serviços de saúde.
Esta experiência clínica permitiu o enriquecimento e amadurecimento pessoais, o aumento do grau de conhecimento e confiança na execução de técnicas e procedimentos de enfermagem específicos e o meu desempenho e dedicação pessoais no desenvolvimento de competências técnicas e relacionais capazes de dar resposta às necessidades humanas básicas alteradas do utente/família em regime e internamento através de uma prestação de cuidados de enfermagem diferenciados de qualidade.
A elaboração do presente projecto de estágio foi, certamente, um processo agradável e gratificante que proporcionou crescimento e desenvolvimento tanto ao nível pessoal como no desempenho de futuro. Considero que a realização deste projecto de estágio foi de extrema importância, pois permitiu a construção de uma introspecção individual, através da reflexão baseada na auto-analise, auto-critica e auto-avaliação do meu desempenho, durante a experiência clínica, o que proporcionou a tomada de consciência das minhas potencialidades e limitações bem como do modo estratégico de as contornar.