CONCEITO
“A espiritualidade é o princípio de vida que impregna todo o ser humano nas suas dimensões físicas, emocionais, intelectuais, morais, éticas e volitivas (o poder de escolher e de tomar decisões).” (Bolander, 1999:1822)
Espiritualidade é algo que nos dá sentido à vida, que nos permite viver o dia-a-dia e nos dá força para ultrapassar os obstáculos da vida. “É uma força invisível essencial nas nossas vidas, trazendo um sentido de continuidade e significação para a nossa existência.” ( )
ESPIRITUALIDADE E RELIGIÃO
“…a espiritualidade pode ser a necessidade de ser compreendido ou a tentativa de encontrar um sentido para aquilo que está a acontecer ou aconteceu ao indivíduo.” ( Bolander( 1998, p.1825))
“ Religião é um conjunto de crenças, valores, códigos de conduta e rituais que respondem à questão de o que é que significa ser humano em relação a si próprio, aos outros e a uma força superior.” ( Bolander( 1998, p.1824))
Espiritualidade e religião, embora se equiparem não são a mesma coisa e não devem ser confundidas. Da mesma forma, espiritualidade
também não deverá ser entendida apenas como a prática ou não de uma religião.
também não deverá ser entendida apenas como a prática ou não de uma religião.
Espiritualidade é diferente de religião, é algo mais profundo, é um sentimento de integração de valores, que é diferente de religião. Há duas dimensões, uma externa e uma interna, sendo a religião a externa e a espiritualidade a interna. A espiritualidade é o apoio que cada um tem para superar as situações de crise. Uns refugiam-se na igreja, na religião, na fé, outros na música, no ambiente, etc.
Deste modo, a “espiritualidade é um conceito muito mais amplo que a filiação ou prática religiosa”. Podemos encontrar pessoas com a sua necessidade espiritual satisfeita sem praticar qualquer ritual religioso, se entendermos, como já referido, que a “dimensão espiritual de uma pessoa é aquela que transcende as dimensões físicas e psicossociais : dá sentido à vida e torna-a abrangente.” ( Bolander, 1999 : 1825).
Com o apoio ou não da religião, o que é fundamental é não esquecer que o doente tem o seu lado espiritual e, a necessidade de se ligar ao transcendente, que o ajuda nos momentos de sofrimento, como é a doença. O cuidado espiritual deve assim ser valorizado pelos profissionais de saúde.
NECESSIDADES ESPIRITUAIS
Por necessidades espirituais podemos entender “as variáveis que nos inspiram para transcendermos o mundo material” (Bolander, 1999). Tal como definimos a espiritualidade, as necessidades espirituais centram-se no nosso objectivo de vida, e o sentido que lhe damos. É dar e receber amor, é a forma como nos relacionamos com os outros, é a experiência do perdão e da esperança. São todas estas variáveis e outras que nos ajudam a relizar estas, que satisfazem a necessidade espiritual do indivíduo, procurando cada um o seu caminho, à sua meneira e da forma como o pretende percorrer. Felizes daqueles que o encontram, pois vivem uma vida mais amena e aceitam melhor o sofrimento, seja ele decorrente de uma doença grave, da morte de um ente querido ou da vivência de crises graves e pessoais como a perda do emprego, o divórcio, etc. É melhor entendido e superado quando está presente a satisfação da necessidade espiritual.
De acordo com Bolander (1998), existem quatro tipos de necessidades espirituais: necessidade de um significado e um objectivo, necessidade de amor e relacionamento, necessidade de perdão e necessidade de ter esperança.
Necessidade de um significado e um objectivo: Estas necessidades procuram que os seres humanos analisem situações das suas vidas e percebam que estas têm um significado e objectivo.
Necessidade de amor e relacionamento: Estas necessidades subdividem-se em duas dimensões, horizontal e vertical.
A vertical refere-se quando o indivíduo orienta a sua vida segundo os seus valores e tendo em conta a existência de uma força superior.
A horizontal refere-se quando a vida do indivíduo se orienta segundo a interacção com os outros e o meio ambiente em que se encontra inserido.
Através da interacção com os outros e através da crença pessoal como fonte de amor, é que é satisfeita a necessidade de amor e relacionamento
Necessidade de perdão:No dia-a-dia, ao longo da vida, procuramos dar um significado aos momentos, às vivências e podemos sentir culpa. Quando necessitamos de aliviar a culpa temos de perdoar e procurar o perdão acaba por ser uma necessidade espiritual.
Segundo Lourenço (2004), o perdão pode ter um efeito terapêutico na pessoa, uma vez que o bem-estar «holístico» pode estar bloqueado pelo egoísmo ou qualquer outra ganância ou ainda por uma ferida de humilhação e ofensa, acompanhada de ódios e ressentimentos duradoiros. Se os profissionais de saúde não estiverem alheios às necessidades espirituais, este bloqueamento pode ser aliviado, para que seja possível «um processo espiritual de perdão dado e recebido» (Gameiro, 1997).
A influência da religião, através da oração, na saúde pode ajudar a pessoa a curar-se da sua doença ou aceitá-la; pode ser entendida como uma auto-sugestão ou como acto religioso e recurso de fé a Deus, como meio de estimular energias da cura e recuperação.
Gameiro diz-nos que entendendo a oração como um acto de relação pessoal com Deus ou Jesus Cristo, é neste sentido um «acto profundamente em penhado que pode ajudar a recuperar o sentido de vida, do projecto pessoal e, por isso mesmo, a saúde integral».
Necessidade de ter esperança:A esperança faz-nos acreditar num futuro melhor.
Existem dois tipos de esperança: esperança concreta e esperança abstracta. A primeira faz parte de uma experiência individual e a segunda de um desejo ou de uma expectativa que vai para além da existência material.
Todos experienciamos os dois tipos de esperança, o que acontece é que por vezes a esperança concreta falha, o que leva a pessoa a modificar os objectivos de esperança, quando tal acontece resulta a esperança abstrata.
Segundo Lourenço (2004), a fé pode ajudar-nos a alimentar o nosso organismo espiritual, os que não acreditam em Deus procuram algo que os ajude espiritualmente, pois há uma necessidade extrema de ter algo em que se acredite e muitas vezes é em situação de crise, de necessidade de alimentar o nosso organismo espiritual.
Bolander (1999) diz-nos que «a fé é considerada como estando universalmente presente nas pessoas, quer elas sejam religiosas ou não. Ela é a qualidade que dá sentido á vida e que dá aos indivíduos a capacidade de ter e manter o sentido da vida».
ATENDER ÀS NECESSIDADES ESPIRITUAIS
Para atender às necessidades espirituais de uma pessos não há uma regra nem forma única para o fazer, pois, de acordo com a sua variedade, também os recursos para as satisfazer são de vários tipos. E não é só o enfermeiro que as deve satisfazer e valorizar. Este sendo o advogado do doente, deve ter a capacidade de as avaliar e reconhecer, de modo a transmiti-las a outros, para sejam satisfeitas.
Bolander (1999) refere que “a procura por parte do doente de expressão e cuidados espirituais está frequentemente ligada às práticas e crenças religiosas”. Por esta razão, é importante que o enfermeiro tenha algum conhecimento das várias religiões e respectivas práticas, para assim poder ajudar o utente na saisfação das suas necessidades espirituais, atendendo-as ou solicitando a ajuda para que sejam atendidas e respeitadas.
É importante avaliar cuidadosamente as necessidades espirituais do utente, é disponibilizando tempo e ouvindo o utente que o enfermeiro consiguirá atender às necessidades espirituais do utente.
A medicina e a enfermgem não têm respondido às necessiades espirituais do utente, pois estas não são identificadas na história clínica, normalmente só se questiona a religião que o utente professa, e não se aprofunda mais nada
DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL AO LONGO DA VIDA
Cada pessoa, ao longo do seu percurso, desenvolve a sua espiritualidade, atribuindo-lhe um significado único, pessoal. O processo de desenvolvimento espiritual pode ser de ordem religiosa – dimensão vertical, ou de ordem psicossocial – dimensão horizontal. O desenvolvimento espiritual de ordem religiosa depende do sistema de valores, crenças e rituais da religião específica, enquanto que o desenvolvimento espiritual de ordem psicossocial vai-se alterando de acordo com as relações estabelecidas pelo indivíduo com os outros, atribuindo significado às suas experiências.
A espiritualidade não constitui, de forma alguma, um processo estático. Pelo contrário, assume várias formas ao longo das várias etapas de vida. Inicialmente a criança não nasce com um eu espiritual definido. Constitui um processo complexo no qual a família, com crenças e valores definidos, tem um papel primordial no seu desenvolvimento saudável.
Segundo Bolander na idade pré-escolar a criança começa a desenvolver um sentido de valor próprio. Esta é influenciada pelas crenças e valores da família, que incute regras e um início do desenvolvimento espiritual.
Na idade escolar a criança interioriza as crenças espirituais da sua cultura, rituais, rezas, etc., desenvolvendo, também, o raciocínio lógico, moral, caracterizado pelo desejo de ser bom ou mau, tomando as regras como absolutas.
A adolescência constitui a etapa de vida onde existe muito a procura e a exploração de experiências espirituais.
O adulto jovem utiliza o pensamento nas suas tomadas de decisão relacionadas com dilemas éticos, pessoais ou morais, baseando-se em princípios como a autonomia, a fidelidade, a justiça, a fim de solucionar dilemas difíceis, sem sofre influências dos outros.
Na velhice o desenvolvimento espiritual depende grandemente do contexto cultural e étnico em que o idoso está inserido.
Assim, é de extrema importância que no cuidar da pessoa, se tenha em atenção a sua idade e o correspondente desenvolvimento espiritual, a fim de satisfazer ao máximo todas as necessidades espirituais da pessoa.
O ENFERMEIRO NO CUIDAR ESPIRITUAL
O cuidar como já foi referido anteriormente, cada vez mais tem uma perspectiva holística, trata o utente como um todo e não por partes. O enfermeiro nos cuidados holísticos tem presente que deve tratar quer a parte biológica, psicológica e espiritual.
Bolander (1998), refere que as tendências mais recentes nos cuidados de saúde apontam para que cada enfermeiro cuide do utente no seu todo, em vez de fragmentar os cuidados. Também menciona que o enfermeiro deve estar preparado para ajudar o utente individual, os membros da família e as pessoas significativas a lidarem com a situação clínica e com o sofrimento do utente e ajudá-los a encontrar um significado nestas experiências.
O significado da vida é procurado por todas as pessoas, mas quando estas se encontram numa fase de vida menos positiva, como por exemplo em crise de saúde ou na presença de uma doença aguda ou crónica, a necessidade de encontrar o significado de vida é mais intenso. Ou seja, quando uma pessoa se encontra perante uma crise emocional ou física pode gerar a necessidade espiritual.
O enfermeiro com a perspectiva holistica, tem que cuidar o utente a nível espiritual como a nível físico e psicológico.
Neste contexto, Bolander( 1998) , define duas barreiras que podem dificultar os cuidados espirituais por parte dos enfermeiros, a primeira barreira é quando eles não se apercebem que o utente tem uma necessidade espiritual insatisfeita ( os utentes podem mostrar relutância em expressar as suas necessidades espirituais, porque consideram a espiritualidade um tema “tabu”) e, a segunda barreira é quando os enfermeiros não sabem como dar ajuda espiritual ( a literatura de enfermagem reflecte os valores de medicina cientifica e geralmente ignora a espiritualidade quando discute crises, doenças e tratamentos).
“A Saúde Espiritual duma pessoa é o estado de equilíbrio que transcende as coisas materiais e físicas. Revela receptividade para aceitar uma força superior tal como o indivíduo o define. Para a maioria das pessoas, essa força superior é definida como uma força sobrenatural ou Deus tal como as crenças religiosas o concebem. Para outras, contudo, a força superior pode ser, “ a ordem natural das coisas” : ciência, destino ou mesmo uma grande fortuna.”
Bolander ( 1998, p. 1823)
O enfermeiro tem que ter em conta o estado físico, psicológico e espiritual na prestação de cuidados holisticos. É importante o utente estar bem física, psicológica e espiritualmente para se manter em equilíbrio.
O utente tem um papel importante na resposta às suas necessidades reçigiosas. Este deve verbalizar as mesmas ao enfermeiro para que este possa prestar os cuidados holísticos.
CONCLUSÃO
Este trabalho foi deveras importante pois permitiu-nos explorar com mais profundidade e compreender melhor a espiritualidade no idoso.
O cuidar espiritual envolve não apenas a preocupação e os cuidados com o utente, mas também ajudá-lo a encontrar um significado nas experiências da vida, tais como os seus problemas e o sofrimento.
A saúde espiritual de uma pessoa é o estado de equilíbrio que transcende as coisas físicas e materiais.
Ao satisfazer as necessidades do cliente holisticamente, devem contemplar-se todas as dimensões da saúde (fisiológica, psicológica e espiritual).
O enfermeiro precisa de entender a espiritualidade humana e conhecer algumas crenças e práticas religiosas para assim poder desempenhar o seu papel no que diz respeito a cuidados espirituais.
A espiritualidade é um conceito muito mais amplo do que a filiação ou a prática religiosa.
O enfermeiro pode promover o crescimento espiritual pessoal através da auto-análise, da fé, da meditação, da imaginação orientada, da leitura, da apreciação da arte, da música, da actividade física e do relaxamento.
A educação e o crescimento espiritual contínuos devem ser uma prioridade pessoal para todos os enfermeiros.
Assim, concluímos que a espiritualidade no idoso é muito importante para a recuperação da saúde.
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