Como já vem sendo amplamente referido pela comunicação social, o nosso país, à semelhança de outros, está a passar por uma rápida transição demográfica, caracterizando-se esta por um aumento progressivo e acentuado da população adulta e idosa. São tendências pesadas com fortes implicações estruturantes, mas uma das principais consequências desta transformação dá-se a nível do sector da saúde.
Já sabemos que as pessoas não envelhecem todas da mesma maneira. A par dos factores genéticos que determinam muito do processo, há que realçar que não é igual envelhecer no feminino ou no masculino, sozinho ou no seio da família, casado, solteiro, viúvo ou divorciado, com filhos ou sem filhos, no meio urbano ou no meio rural, na faixa do mar ou na intelectualidade das profissões culturais, no seu país de origem ou no estrangeiro, activo ou inactivo (Ministério da Saúde, 1998).
Se o início e as etapas do envelhecimento assentam em alterações estruturais e funcionais suficientemente significativas e evidenciáveis, as causas e a natureza
do processo estão ainda longe de se considerarem esclarecidas.
O envelhecimento tem início relativamente precoce no final da segunda década de vida, perdurando por longo tempo pouco perceptível, até que surjam no final da terceira década as primeiras alterações funcionais e/ou estruturais. Admite-se como regra geral, que ocorre a cada ano a partir dos trinta anos de idade perda de 1% da função.
O ritmo de declínio das funções orgânicas varia não só de órgão para órgão, como também entre idosos da mesma idade. Tal facto justifica a impressão de que o envelhecimento produz efeitos diferentes de uma pessoa para a outra.
ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS
O envelhecimento diferencial envolve preferencialmente os órgãos efectores e resulta de processos intrínsecos que se manifestam a nível dos órgãos, tecidos e células :
- Assim, a pele envelhece mais rapidamente que o fígado.
- As complicações vasculares afectarão o sistema cardíaco principalmente.
- A arteriosclerose acumulada por má alimentação, pelo stress e contaminação bacteriana, poderá ocorrer mais cedo ou mais tarde, de acordo com hábitos prevalecentes e resistência orgânica.
Seja qual for o mecanismo e o tempo de envelhecimento celular, este não atinge simultaneamente todas as células e, consequentemente, todos os tecidos, órgãos e sistemas.
Os problemas de saúde considerados "típicos da terceira idade", e que apresentam uma alta taxa de prevalência, foram denominados por Bernard Isaacs como os "gigantes da geriatria" e de entre eles destaca:
- Incontinência urinária;
- Instabilidade postural e quedas;
- Imobilidade;
- Demência;
- Delirium;
- Depressão.
Além dos défices de carácter físico e intelectual anteriormente descritos, com o envelhecimento podem verificar-se modificações nas reacções emocionais; acúmulo de perdas e separações, solidão, isolamento e marginalização social.
As principais características do envelhecimento emocional são: redução da tolerância aos estímulos, vulnerabilidade à ansiedade e depressão, sintomas hipocondríacos, autodepreciativos ou de passividade, conservadorismo de carácter e de ideias, e acentuação de traços obsessivos (Souza, e cols. 1996).
Considerando os aspectos mencionados, fica claro que, apesar da senescência ser um processo natural com o aumento da idade, aumenta a probabilidade do aparecimento de entidades patológicas, cuja hierarquia é variável para os diversos autores. No quadro podemos observar globalmente os principais problemas de saúde de que são alvo preferencial a população idosa.
Quadro - Principais problemas de saúde dos idosos
Sistema Nervoso Central | Demências Doenças neurológicas Padrões de sono Delírium Depressões |
Aparelho Locomotor | Limitações físicas incapacitantes Artropatias Imobilidade Instabilidade postural / quedas Reumatismos |
Sistema Cardiovascular | Arteriosclerose Hipertensão Cardiopatias |
Sistema Respiratório | Afecções pulmonares |
Sistema Urinário | Incontinência Perturbações renais |
A nível do sistema nervoso, existe fundamentalmente perda de neurónios substituídos por tecido glial, a diminuição do débito sanguíneo, com consequente diminuição da extracção da glicose e do transporte do oxigénio e a diminuição de neuromodeladores que condicionam a lentificação dos processos mentais, alterações da memória, da atenção, da concentração, da inteligência e pensamento .