Este trabalho tem como tema “Nutrição e exercício materno-fetal”, tendo sido realizado no âmbito da unidade curricular de Enfermagem IV, sob orientação da professora Isabel Serra.
Para a maioria das mulheres, a gravidez corresponde a um periodo “mágico” . A mulher grávida vê o seu corpo transformar-se, ganhar novos contornos passando a constatar que um novo ser se está a desenvolver dentro de si.
Corresponde a um periodo de grandes exectativas e medos, sendo assim todos os factores condicionantes de uma vida saudável na mulher, tidos em cosideração.
A nutrição assume deste modo um papel bastante importante durante o período de gestação dado que toda a alimentação que a mãe faz, vai condicionar o crescimento e o desenvolvimento do feto, bem como a manutenção do seu estado de saúde. Estudos laboratoriais demonstram que dietas deficientes provocam efeitos prejudiciais tanto à mãe como ao feto.
O exercício é outro factor a ter em conta na gravidez, sendo importante para a preparação da mulher para o parto, manutenção da musculatura, funcionando também como técnica de relaxamento quando efectuado para o efeito.
Durante este periodo a mulher passa por um conjunto de alterações e sensações para as quais por vezes poderá não estar preparada A vigilância pré-natal regular torna-se assim importante, de forma a poder-se acompanhar da melhor forma a mulher grávida, esclarecendo as dúvidas que eventualmente possa apresentar, e ajudando-a a adaptar os seus hábitos quer alimentares ou físicos, a este novo estado que está a vivenciar.
1. Alimentação materno-fetal
A placenta humana é um órgão feto materno que conjuntamente com o cordão umbilical, funciona como meio de transporte (nutrientes, excreções) e meio de trocas gasosas entre a mãe e feto (o feto encontra-se ligado à placenta pelo cordão umbilical, sendo que a placenta se encontra ligada à mãe). É apartir destes órgãos que o feto é alimentado, onde através das 2 veias umbilicais, o sangue materno chega ao feto, promovendo a passagem de nutrientes e oxigénio. A nutrição da mãe é assim de extrema importância na medida em que se relaciona directamente com a do feto.
1.1. O estado nutricional da mulher
O estado nutricional da mulher é por vezes afectado por muitos dos factores inerentes à gravidez. Assim, a pobreza, carências educacionais, ambiente desfavorável, hábitos alimentares e estado de saúde deficiente, vão contribuir para o estado nutricional, crescimento e desenvolvimento do feto, bem como influenciar outros aspectos da gravidez.
As mulheres com estado nutricional deficiente, requerem cuidados especiais e individualizados. Torna-se assim imprescindível apostar numa nutrição adequada da mulher durante toda a sua vida fértil, de forma garantir que na altura da concepção, estas se apresentem bem de saúde.
Promove-se desta forma uma nutrição adequada da mulher, de modo a que posteriormente se reflita numa boa nutrição materna, influenciando assim de forma positiva a saúde da mãe e do feto.
1.2. Nutrição na gravidez
Quando a mulher sabe que está grávida, uma das suas principais preocupações deveria ser relativa à alimentação, pois o mais importante nesta fase é o bem estar do feto. E este depende da adequada alimentação e nutrição da mãe.
1.2.1. Ganho ponderal na gravidez
Não se deve enfatizar excessivamente a importância de um elevado ganho ponderal durante a gravidez.
A ideia que perdura na sociedade de que uma gestante necessita de comer por dois não corresponde à realidade. O mais importante é a qualidade do aumento ponderal e não a
quantidade de alimentos ingeridos.
O ganho ponderal na mulher grávida ditribui-se entre o feto em desenvolvimento e o aumento de líquidos e de tecido mamário. Algum peso encontra-se sob a forma de depósitos de gordura, essenciais para garantir o crescimento fetal durante o último trimestre, bem como para funcionarem como fonte de energia durante a fase inicial da lactação.
O ganho de peso na gravidez está directamente relacionado com o estado físico e nutricional antes da gravidez. Mulheres muito magras ou desnutridas podem ter um ganho de peso maior do que mulheres com sobrepeso ou obesas. Além disso é necessário ter-se em conta a idade, actividade física e se a gravidez é de um único feto ou não.
O adequado ganho ponderal na gravidez pode ser estabelecido através do IMC (índice de massa corporal) efectuado antes da concepção, que resulta da relação peso-altura da mulher, como mostra a tabela 1.
Tabela 1 Valores Totais de Ganhos Ponderal Recomendado para as Grávidas
Categoria peso/altura antes da gravidez | Ganho total recomendado (Kg) |
Baixo (IMC < 19,8) Normal (IMC entre 19,8 a 26) Excessivo (IMC entre 26 a 29) Obesidade (IMC > 29) | 12,5 a 18 11,5 a 16 7 a 11,5 ≥ 7 |
In Enfermagem na maternidade, Bobak,1999, p. 196
O ganho ponderal recomendado a uma mulher com peso normal é cerca de 1 a 2 Kg durante o primeiro trimestre e de 0,4 Kg por semana daí em diante. Durante o segundo trimestre o ganho ponderal refere-se essencialmente à mãe, mas o terceiro trimestre é quase totalmente relacionado com o crescimento do feto.
É importante a monotorização dos ganhos ponderais de forma a se detectar precocente eventuais disturbios, podendo-se assim fazer uma intervenção profissionalizada quando necessário. O ganho ponderal é avaliado em cada consulta pré-natal e registado em gráfico próprio.
Para que a gravidez seja encarada de uma forma saudável e sem preocupações psicológias para a mãe, deve-se esclarecer a futura mãe que o ganho ponderal que irá adquirir será perdido após o parto, não devendo esta realizar dietas durante a gravidez. A placenta de uma mulher desnutrida contém muitas vezes células mais pequenas e em menor quantidade, o que a torna menos capaz de sintetizar nutrientes necessários e de facilitar o transporte destes até ao feto. Os efeitos da subnutrição sobre o desenvolvimento do feto devem ser discutidos com a futura mãe.
Do mesmo modo, as mulheres com excesso de peso, devem ser aconselhadas a participar em programas de emagrecimento antes da gravidez, de forma a que durante o periodo gestacional ganhem apenas o peso que se refere ao feto, placenta e líquido amniótico. Deve-se incentivar alimentos ricos em nutrientes e evitar os alimentos que fornecem apenas calorias. A mulher que aumenta excessivamente de peso (cerca de 13,5% do seu padrão normal de peso) têm tendência a manter muito deste após o parto, podendo-se assim originar uma série de doenças crónicas geralmente associadas ao excesso de peso como a hipertensão, a diabetes e doenças cardiovasculares.
1.2.2. Ganho ponderal e crescimento fetal
O ganho ponderal durante o segundo e terceiro trimestes de gravidez, constitui um factor determinante para o crescimento fetal. Quando não se verifica um ganho de peso adequado, este factor associa-se ao risco de nascer um bebé com atraso de crescimento, usualmente denominado como atraso de crescimento intra-uterino.
Por outro lado, quando a gestante tem um aumento ponderal excessivo ha uma maior incidência de recém nascidos com peso elevado, o que por sua vez se associa a um aumento da probabilidade da incompatibilidade feto- pélvica, do parto por fórceps, traumatismos de parto, asfixia e mortalidade. Este problema torna-se mais agravado em mulheres de pequena estatura.
1.2.3 Necessidades nutricionais
Para se suportar as alterações que se verificam durante o periodo gestacional, são necessárias maiores quantidades de alguns nutrientes que as normalmente exigidas para a manutenção do adulto.
A mulher grávida deve efectuar uma alimentação fraccionada (cerca de 6 por dia) e variada, devendo-se familiariza-la a consultar a pirâmide alimentar na escolha das suas refeições (ver anexo I).
Uma dieta baseada na variedade de alimentos de todos os níveis da pirâmide alimentar, fornece os nutrientes necessários durante a gravidez com excepção do ferro. A base da pirâmide refere-se ao pão e aos cereais integrais, que são uma fonte de vitaminas do complexo B e fibras; o segundo nível engloba a fruta e os vegetais, que também são fontes de nutrientes e fibras; o terceiro nível engloba a carne, peixe, aves e produtos lacteos que constituem boa fonte de proteínas, cálcio, ferro e zinco. No topo da pirâmide situam-se as gorduras, os óleos e os doces que, por sua vez, constituem uma fonte de calorias e de paladar aos outros alimentos; no entanto devem ser utilizadas em pequenas quantidades.
A mulher grávida apresenta um acréscimo das necessidades em calorias. As necessidades energéticas estão correlacionado com o peso da mulher antes da gravidez, ganho de peso, idade, periodo de gestação e actividade física. É necessário um acréscimo diário de cerca de 300Kcal no periodo de gestação e em especial no segundo e terceiro trimestre. Estas calorias adicionais podem ser obtidas através da introdução na alimentação diária de uma chávena de leite magro, duas fatias de pão e uma laranja. Durante o 1ºtrimestre as necessidades nutricionais variam mais em qualidade que em quantidade ou seja, a dieta da grávida deve ser equilibrada incluíndo todos os alimentos presentes na pirâmide alimentar, não sendo obrigatório aumentar a ingestão calórica. As necessidades calóricas aumentam no terceiro trimestre de gestação na medida em que é aqui que se verifica o maior crescimento fetal e um maior armazenamento de gordura por parte do feto para responder às suas necessidades pós- parto.
As recomendações calóricas devem ser individualizadas, não podendo ser utilizadas de forma indiscriminada para todas as grávidas.
São também necessários os suplementos proteicos para garantir o fornecimento de compostos azotados essenciais às necessidades provocadas pelo crescimento do tecido mateno e fetal. A recomendação proteica diária é de cerca de 60 g, presumindo-se que a mãe efectua uma ingestão calórica adequada, poupando as proteínas para a síntese dos tecidos. As fontes de proteínas podem ser: a carne, o peixe, aves, ovos, queijo, leite, feijão, que para além de fornecerem os aminoácidos essenciais, são também fornecedores de outros nutrientes importantes.
Não é recomendado um aumento excessivo no aporte proteico, tendo sido este associado a partos prematuros e mortes neonatais.
É recomendado incluir-se líquidos na dieta da gravida. Estes desempenham um papel fundamental no que respeita à digestão, troca de nutrientes e produtos de catabolismo, manutenção da temperatura corporal e promovem um bom funcionamento intestinal que usualmente se encontra comprometido.
É recomendada a ingestão de 6 a 8 copos de líquidos (cerca de 1500 a 2000ml), sendo estes preferencialmente a água e sumos de fruta. Devem ser evitadas bebidas que contenham cafeina como o café e cocacola, bebidas que tenham sacarina, dado esta estar associada ao cancro da bexiga.
Durante a gravidez verifica-se um acréscimo nas necessidades de vitaminas A, D, E e K. Devido aos seus efeitos tóxicos, aconselham-se as grávidas a só ingerirem suplementos de vitaminas lipossolúveis mediante a prescrição médica. As vit. A e D são transportadas directamente para o feto e acomulam-se nele quando se encontram em elevada quantidade na mãe. A vit. D é importante para o balanço positivo do cálcio, durante a gravidez, podendo-se encontrar em óleos de peixe, ovos, manteiga e fígado. A ingestão de vit. D em excesso pode provocar hipercaliémia no bebé, podendo surgir convulsões neo-natais.
Durante o segundo e treceiro trimestre as necessidades calóricas aumentam, aumentando também as necessidades de vitaminas hidrossolúveis. Encontram-se em cereais integrais, vísceras de animais, carne de porco, produtos lácteos e legumes verdes. É recomendada uma ingestão diária de 70 mg de vit C que se pode encontrar em frutas ou sumo de citrinos.
O suplemento de ferro é recomendado durante toda a gravidez, pois mesmo com uma alimentação saudável é dificil obter-se todo o ferro que se necessita. Deve-se iniciar o suplemento de ferro, sob forma de sal ferroso numa dose de 30mg diários, apartir da primeira consulta pré-natal. Os suplementos de ferro podem ser administrados entre as refeições e conjuntamente com uma fonte de vitamina C de forma a diminuir as náuseas, vómitos, diarreia e obstipação referidas por algumas gestantes. Não é recomendada a combinação de ferro com multivitaminicos. A carência de ferro ou a anemia da mãe, pode condicionar uma menor oxigenação do feto, que pode levar a atrasos no crescimento intra-uterino, e a ocorrência de complicações maternas durante o trabalho de parto.
O cálcio é necessário para o desenvolvimento dos ossos do bebé e também ajuda a prevenir problemas de ossos relacionados com a mãe após a gravidez. A necessidade de cálcio é crucial durante o terceiro trimestre de gravidez, quando a formação dos ossos é finalizada. Se a mãe não ingere calcio suficiente, o feto vai recorrer às reservas maternas para satisfazer as suas necessidades de desenvolvimento deixando a mãe desfavorecida. O feto retira cerca de 250 a 300mg de cálcio por dia, sendo necessário uma ingestão diária de 1200mg de cálcio por dia pela mãe. Deve-se consumir um litro de leite diário. Quando o leite não pode ser ingerido, recomenda-se o queijo, iogurte, vegetais de folha verde como a couve lombarda, couve e folhas do nabo.
O folato é muito importante para a síntese de DNA e para a eritopoiese. É recomendado que mulheres em idade fértil, susceptíveis de engravidar recebam uma quantidade diária de 0,4 mg de folato. As principais fontes alimentares são vegetais de folha escura, laranjas, bananas, trigo integral, fígado e batatas. Níveis elevados de folato podem encobrir sintomas de carência de ferro e vit. B12.
O zinco é o constituínte das enzimas envolvidas nos processos metabólicos. Níveis baixos de zinco podem provocar complicações no periodo pré-natal e intra-parto. O consumo de álcool interfere na transferência placentária do zinco, podendo surgir sindroma de alcolismo fetal. Recomenda-se 15mg diários de zinco, que se podem obter com a carne, moluscos e pão de cereais integrais.
As necessidades em sódio durante a gravidez aumentam visto ser um dos principais constituíntes do líquido extracelular, cujo volume por sua vez aumenta durante a gravidez, aumentando também a taxa de filtração glomerular. Deve-se ingerir cerca de 2 a 3mg de sódio por dia, excepto quando as condições da mulher não o permitem.
Está ainda em estudo o efeito que o flúor pode potencialmente ter sobre a resistência dos dentes às cáries.
1.3 Desconfortos da gravidez relacionados com a nutrição
A maioria dos problemas gastrintestinais mais comuns são normais, no entanto é necessário um aconselhamento individualizado. Uma adaptação do regime alimentar, pode constituir uma intervenção eficaz no combate a alguns destes desconfortos, como náuseas e vómitos, pirose, obstipação e cãibras dos membros inferiores.
Algumas estratégias para combater as náuseas e vómitos frequentemente referidos, consistem em tem sempre bolachas, tostas ou cereais junto à cama, e comer antes de se levantar de manhã; efectuar refeições mais reduzidas e mais frequentes; evitar consumir bebidas com cafeína; ingerir quantidades adequadas de líquidos, principalmente entre as refeições; evitar odores que provoquem náuseas, como o de comida ou tintas; limitar a ingestão de alimentos muito condimentados.
A pirose pode ser controlada através da ingestão lenta de refeições pequenas, frequentes e pobres em gorduras; ingestão de líquidos entre e não durante as refeições; ingestão de alimentos pouco condimentados; evitando permanecer deitada após uma ou duas horas após as refeições; utilização de roupa larga e confortável.
O problema da obstipação pode ser combatida através da ingestão diária adequada de líquidos (água, sumos de fruta, leite e caldos); ingestão de pão e cereaia ricos em fibras; quantidades adequadas de frutos frescos e vegetais; praticando exercício.
Como estratégias para as cãibras dos membros inferiores, não são recomendadas restrições na ingestão de leite, mas sim uma restrição da ingestão de alimentos ricos em fósforo, tais como bebidas gaseificadas, produtos de pastelaria refrigerados e queijo fundido.
1.4 Desejos, aversões e crenças alimentares
Durante a gravidez, a maioria das mulheres sente aversão por certos alimentos que até aí considerava como seus preferidos. Outras sentem “desejos” ou “apetites”. Estas aversões não são propriamente consideradas más, desde que não sejam prejudiciais para a nutrição materno fetal.
No aconselhamento nutricional, enfermeiro e utente sofrem influência de crenças e de valores culturais e pessoais. Os alimentos não têm apenas um valor nutritivo, mas também sócio cultural. Em algumas religiões e culturas são proibidos, periodicamente o totalmente certos alimentos. Deve-se ter em conta as crenças e valores da mulher ao se aconselhar um determinado tipo de dieta. Mulheres provenientes de determinados algumas culturas podem manifestar desejos ou mesmo ingerir substâncias não nutritivas (preversão alimentar).
1.5 Restrições na nutrição
O álcool interfere na absorção e utilização de nutrientes e na síntese proteica. Desta forma, uma mulher que abusa cronicamente do álcool provavelmente é subnutrida. Mesmo nos casos em que a mulher parou de beber antes da concepção, as suas reservas vitamínicas e proteicas podem ser deficientes. Por este motivo, essas mulheres precisam de uma orientação nutritiva especial. Embora a ingestão ocasional de álcool possa não ser prejudicial para a mãe e para o embrião/feto, a abstinência completa de álcool é aconselhada. O alcoolismo materno apresenta elevados índices de associação com o aborto espontâneo, e com o risco deste acontecer.
As grávidas devem ser aconselhadas a evitar a ingestão de cafeína, sal, conservas em lata, doces, gorduras e fritos e bebidas gaseificadas.
1.6 Cuidados essenciais à grávida
Como foi anteriormente referido, estado nutricional da mulher grávida é um componente importante durante a gravidez, pois tem um efeito directo no crescimento e desenvolvimento do
feto.
Desta forma, no início dos cuidados pré-natais, deve ser efectuada uma avaliação inicial do estado nutricional, sendo esta actualizada no decorrer da gravidez. Esta avaliação é composta por entrevista, exames laboratoriais e exame físico.
¨ Na entrevista são recolhidas informações, para que o aconselhamento nutricional seja eficaz e individualizado, recorrendo-se ao preenchimento de um questionário de forma a identificar os seus habitos alimentares (ver anexo II).
¨ Os exames laboratoriais a efectuar durante os cuidados pré-natais são a hemoglobina e o hematócrito. Para determinar os valores das reservas de ferro, pode-se realizar uma avaliação da ferritina sérica. Entre as 24 e as 28 semanas de gestação, deve ser efectuado o despiste de diabetes gravídica em todas as mulheres.
¨ No exame físico, deve-se avaliar a altura e o peso, para se calcular o índice de massa corporal (IMC); efectuar o exame das mamas, de forma a identificar possíveis problemas; avaliar o estado geral da saúde dos dentes, de forma a despistar distúrbios dentários que podem levar a dificuldades mecânicas e de mastigação, que por sua vez podem interferir com a ingestão de certos alimentos.
Com base nas necessidades identificadas na avaliação inicial e tendo em conta os possíveis factores de risco nutricional durante a gravidez (ver anexo III), o enfermeiro deve definir os diagnósticos de enfermagem. Aqueles que geralmente são identificados, incluem alteração da nutrição inferior às necessidades orgânicas; alteração da nutrição superior às necessidades orgânicas; alteração da nutrição potencial para ser superior às necessidades orgânicas; e obstipação.
Os cuidados e o ensino relativos à nutrição, geralmente pressupõem: familiarizar a mulher com as necessidades nutricionais durante a gravidez e, com as características de uma dieta adequada; colaborar com a mulher na criação da sua dieta, com o objectivo de alcançar uma ingestão adequada, tendo em conta as necessidades pessoais, culturais, económicas e de saúde; informar sobre algumas estratégias que a ajudem a suportar e aliviar alguns desconfortos da gravidez, relacionados com a nutrição; informar sobre práticas potencialmente prejudiciais, como o álcool, tabaco e outras substâncias.
O exercício produz efeitos nas necessidades nutricionais da grávida. Desta forma, deve ser aumentada a ingestão calórica, com o objectivo de dar resposta ao gasto de energia durante o exercício e permitir o ganho ponderal recomendado. Quando se pratica exercício, é fundamental aumentar a ingestão de líquidos.
Se a mulher não estiver habituada, a prática de exercício rigoroso e intenso, conduz a um desvio da glicose do feto e da placenta para os músculos da mãe, com o objectivo de lhes fornecer a energia necessária. Esta situação pode levar ao aparecimento de hipóxia fetal, condicionando uma diminuição no aporte de oxigénio.
1.7 Práticas alimentares vegetarianas
Últimamente existe um crescimento no vegetarianismo. Todas as dietas vegetarianas têm como alimentos base os vegetais, frutos, legumes, nozes e sementes. Existem cinco tipos de dietas vegetarianas, e algumas delas não respondem às necessidades nutricionais da grávida como a dieta vegetariana e a dieta de fruta (ver anexo IV ).
1.8 Recursos a ser utilizados
Com o objectivo de fornecer informação e orientação nutricional à grávida, existem vários recursos, entre os quais a pirâmide alimentar, exemplos de refeições e menus padrão, programas alimentares suplementares para grávidas, lactentes e crianças ou outros similares (para pessoas de rendimentos fracos, que necessitam de uma ingestão nutricional mais adequada), e informações sobre preferências alimentares étnicas, culturais e dietas vegetarianas.
2. Exercício materno - fetal
A prática de actividades físicas durante a gravidez traz inúmeras vantagens e é indispensável para o bem-estar da mulher. A prática de exercício por parte das mulheres grávidas é benéfica na medida em que melhora a circulação e a digestão, aumenta o apetite, incrementa a função intestinal, promove um sono repousante e afasta a atenção das responsabilidades da vida diária. Além disso, o exercício possibilita também a redução da percentagem de gordura corporal, o fortalecimento da musculatura e a diminuição da percepção da dor na hora do parto.
No entanto, existem muitas mulheres que mesmo antes da gravidez praticam exercício físico intenso e regular, preocupando-se com a eventualidade de perderem a forma física durante a gravidez. Essas mulheres muito viradas para o exercício físico, continuam a andar, a correr ou a jogar ténis durante a gestação. Por outro lado, para as mulheres mais sendentárias, a gravidez é uma boa altura para se empenharem num programa de aptidão física, em que criarão hábitos que poderão manter após o parto. Estas mulheres que levam um estilo de vida sedentário, devem iniciar uma actividade física de intensidade moderada e gradualmente, ir avançando para outros níveis.
Geralmente, durante o período da gravidez, as actividades físicas mais indicadas são as que possuem intensidade leve ou moderada, de baixo impacto e que causem pouco impacto físico, tais como:
- a natação: é permitida durante uma gravidez normal. A natação em água morna pode ter uma função terapêutica uma vez que facilita o relaxamento dos músculos tensos e cansados, e também porque ajuda a combater as insónias e provoca bem-estar. No entanto o mergulho não é aconselhével, devido à possibilidade de lesão traumática devido à pressão;
- a hidroginástica: mexe tanto com o aspecto físíco quanto psicológico da mulher. Proporciona um alívio de stress, a redução do inchaço e das dores lombares e cervicais. Os exercícios estimulam ainda a produção de endorfina, responsável pela sensação de bem-estar e bom humor. Uma parte das aulas de hidroginástica direccionadas às grávidas consiste na realização de alongamentos, exercícios respiratórios e fortalecimento muscular do períneo e do abdómen; sendo que a restante parte acontece na piscina onde são feitos exercícios aeróbicos e localizados e exercícios de relaxamento ( a água facilita a prática de movimentos que fora da água são difíceis para a gestante );
- o “tai-chi-chuan” ou watai: movimentos adaptados à agua, que trabalham o equilíbrio e a coordenação, através de movimentos suaves, com uma música tranquila de fundo. Promove o conhecimento corporal, elimina o stress, melhora a musculatura que será usada no parto e ensina a mulher a suportar as contracções;
- o yoga: uma das suas vantagens é o facto de envolver todo o corpo da grávida, não sendo a musculatura a única preocupação. São também praticados no yoga exercícios para a respiração, concentração, equilíbrio, alongamentos e relaxamento. Além disso, o yoga contribui para o bem-estar geral porque mexe com a circulação, (diminuindo o inchaço), porque tranquiliza e relaxa. Os movimentos possibilitam ainda a oxigenação perfeita do feto, uma vez que a respiração da mãe melhora.
Estes são apenas alguns dos exemplos de actividades físicas a adoptar pela mulher grávida, existindo muitas outras aconselhéveis ( caminhadas, alongamentos... ). No entanto independentemente da actividade física praticada, esta deverá ser indicada, autorizada e realizada com a supervisão do seu médico.
No entanto a prática de actividades que condicionem fadiga e cansaço excessivo, devem ser evitadas uma vez que comprometem a perfusão uterina e a oxigenação feto-placentária ( o sangue aflui em maior quantidade aos musculos, afluindo em menor quantidade à placenta ). Do mesmo modo, uma mulher que tenha por hábito correr, pode continuar a faze-lo, devendo no entanto evitar a fadiga, porque o aumento da temperatura corporal por ela provocada também pode ser prejudicial ao feto.
Para além disto, com o avançar da gravidez, o centro de gravidade da mulher altera-se, o apoio dos ossos pélvicos fica mais relaxado e a capacidade de coordenaçção de movimentos normalmente diminui, pelo que a mulher poderá sentir-se incapaz.
As mulheres grávidas cansam-se facilmente, pelo que devem ser planeados períodos regulares de repouso, sobretudo à medida que a gravidez avança. A posição mais indicada para o repouso é a de decúbito lateral (ver anexo V), dado promover a perfusão uterina e a oxigenação feto-placentária, ao diminuir a pressão sobre a veia cava ascendente.
Além da fadiga causada pelo esforço físico, a mulher grávida sente muita fadida durante o ínicio da gravidez, pelo que esta fase requer muitas horas de sono comparativamente àquelas de que antes necessitava. Esta fadiga acentuada à mais comum no 1º e 3º trimestre da gravidez.
O relaxamento consiste na libertação da tensão do corpo e da menta da grávida. Esta capacidade de relaxar é benéfica na medida em que alivia o desconforto relacionado com a gravidez, diminui o stress e a percepção de dor durante o parto e ajuda a lidar com o stress das situações da vida diária.
Algum dos desconfortos e dores relacionadas com a gravidez, são devidas a posturas incorrectas por parte das grávidas, pelo que deve ser demonstrado á grávida as posturas correctas a adoptar ao baixar-se e levantar-se, por exemplo (ver anexo V – fig.3) . Existem também posições, que permitem aliviar e prevenir as dores dorsais (ver anexo V – fig.4), através do relaxamento e fortalecimento muscular e da manutenção da flexibilidade da articulações (ver anexo V – fig.5)
A título conclusivo, no exercício materno-fetal, existem aspectos a ter em conta:
- Relativamente ao exercício, a primeira atitude da mulher grávida deverá ser consultar o seu médico, de modo a discutirem as actividades físicas mais indicadas à grávida, estabelecendo uma rotina adaptada aos seus limites de tolerância;
- A grávida deverá considerar diminuir exercícios de manutenção como corrida e “jogging”, preferindo actividades como natação ou hidroginástica; deverá também evitar desportos de risco;
- A grávida deverá evitar na prática de exercícios, levar os movimentos ao ponto máximo de resistência, bem como evitar mudanças bruscas de direcção;
- A prática de exercício na gravidez deverá ser regular, desde que a grávida se sinta bem
- A actividade física deverá ser executada por períodos curtos ( de 10 a 15 minutos, com intervalos de 1 a 2 min para descansar ), de modo a evitar a fadiga e o cansaço excessivos, que estão contra-indicados; os períodos de actividade também deverão ser curtos para evitar que a mulher fique com calor muito tempo (o calor transmite-se ao feto, podendo causar lesões );
- No final da actividade física, a mulher grávida deverá descansar cerca de 10 minutos, de preferência em decúbito lateral esquerdo
- A medida que a gravidez avança a mulher deverá diminuir a intensidade dos exercícios;
- No ínicio de cada actividade física, a mulher deverá fazer exercícios de aquecimento e alongamento, que preparam as articulações para um exercício mais intenso;
- A mulher grávida deverá beber 2 ou 3 copos de água para repor a perda de liquidos, devendo também aumentar a sua ingestão calórica para repôr a energia gasta;
- Na prática de exercicío a mulher deverá utilizar um sutien de suporte adequadao e sapatos confortáveis durante a prática de exercício;
- A grávida deverá para o exercício imediatamente ao 1º sinal de mal-estar.
Conclusão
Após a elaboração deste trabalho, pode-se constactar que tanto a nutrição como o exercício na gravidez são dois factores essenciais à saúde da mãe e do feto.
A mulher deve durante todo o periodo fértil (desde a menstruação até à menopausa) deve manter o melhor estado nutricional possível, não só para o seu próprio bem estar, mas também para que quando engravidar, possua condições favoráveis para um correcto desenvolvimento e crescimento fetal.
Quando a mãe tem IMC baixo, tende a gerar bebés pequenos e de baixo peso à nascença na medida em que a placenta está menos capaz em fornecer os nutrientes necessários ao feto.
Quando a mulher é obesa, incentiva-se que esta relize o programa de emagrecimento antes da gravidez de forma a que o peso que ganhe corresponda apenas ao do feto, placenta e líquidos.
A gestante deve fazer uma alimentação equilibrada e adequada às suas necessidades, recorrendo ao uso da pirâmide alimentar como possível guia da sua alimentação, na medida em que esta fornece os nutrientes necessários.
O ferro é um mineral que é bastante necessário na gravidez, sendo quase sempre necessário a toma de suplemantos, dado uma alimentação saudável não fornece a quantidade desejada.
O ganho ponderal na gravidez deve ser de forma proporcional, aumentado este especialmente no terceiro trimestre, onde se dá o maior crescimento fetal.
A gravidez não pode ser utilizada como desculpa para os excessos alimentares.
Do mesmo modo, os desconfortos característicos da gravidez, podem ser atenuados através de estratégias, não devendo constituir barreira à adequada nutrição da grávida.
Embora o exercício não deva apenas ser praticado durante a gravidez, a sua prática durante este período tão especial para a mulher traz inúmeros benefícios, quer para a mãe, quer para o feto. No entanto, qualquer actividade física da grávida, deve antes de mais ser discutida com o seu médico, de modo a adequar uma rotina de exercícios ao seu limite de tolerância. A prática de exercício não deve nunca causar fadiga e cansaço intenso à mulher grávida, e deve ser alternada e seguida no final por períodos de repouso.