O papel do homem no âmbito da saúde sexual e reprodutiva





No passado, o papel do pai reduzia-se à concepção. O homem acompanhava a gravidez de um modo distante, não partilhando as vivências emocionais e psicológicas da grávida.
Apesar de muitas mulheres tratarem a gravidez, consciente ou inconscientemente, como um assunto essencialmente feminino, por outro lado sentem a mágoa da indiferença dos seus parceiros. No entanto, cada vez mais o homem deseja participar activamente no processo de paternidade. (in artigo da Web “Paternidade”).
Uma barreira que existe à partilha total das fases de gravidez, parto e puerpério consiste, na diferença da vivência física destas etapas uma vez que é a mãe que acolhe no seu ventre o desenvolvimento do filho  e o traz à vida extra-uterina.
Devido às alterações sociais e culturais (emancipação da mulher, divórcio, famílias monoparentais, maior aproximação afectiva do casal, igualdade de direitos de paternidade e maternidade), tem se assistido a uma alteração na conceptualização e responsabilização dos vários papeis familiares. Em relação ao pai, observa-se uma maior participação deste no cuidar e na relação com a criança, fora da esfera materna.
Os tempos modernos têm exigido das pessoas uma nova forma de relacionamento. Papeis que outrora eram exclusivamente femininos e masculinos são agora exercidos sem distinção de sexo, quer no trabalho, nos relacionamentos, quer na vivência da maternidade e paternidade.
A enfermagem a par destas modificações sociais e de pensamento, deverá apurar conhecimentos para adequar as suas acções, de forma a realçar e apelar para a participação do homem/pai no âmbito da saúde sexual e reprodutiva.
Assim neste trabalho iremos abordar aspectos relativos à evolução histórica do papel pai. Em relação à problemática do corpo na paternidade, ás vivências do pai durante a gravidez, ao acompanhamento do parto pelo pai, ao reajustamento do casal à tríade pai – mãe - criança, educação para a sexualidade e legislação.
Os objectivos gerais são desenvolver conhecimentos relativos à importância do papel do pai na saúde sexual e reprodutiva; consciencializar os futuros profissionais de saúde para a importância do papel do pai e criar condições efectivas para que isso aconteça.
Como metodologia, foi adoptada a abordagem e estudo de vários autores, aparecendo as suas citações em itálico ou sendo apenas referenciados. Na conclusão será apresentada a apreciação feita pelo grupo.
Para a realização deste trabalho recorreu-se à Biblioteca da Escola Superior de Enfermagem de Artur Ravara; à Biblioteca do Instituto Superior de Psicologia Aplicada; à Biblioteca do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresas; à Biblioteca Municipal de Agualva-Cacém; Biblioteca Municipal do Seixal; aos sites da Internet mencionados na bibliografia.



Evolução do papel do homem
Nos anos 50/60, a sociedade é patriarcal. O pai era o chefe da família e o seu papel era disciplinar, “dar as ordens”, punir e prover o sustento da família. Valorizava-se o trabalho, a honra, a moral. Os sentimentos masculinos eram negados, o pai era pouco afectivo, a sua relação com os filhos era vazia, tornando-se um pai ausente. A mãe assumia o papel de cuidadora da família. A geração que se formou nesse período, em função da sua experiência, criticou este modelo, sentindo-se reprimida.
A partir dos anos 70, com os movimentos feministas, o homem passa a questionar-se e a rever todos os seus valores, conceitos e preconceitos. A busca pela nova identidade masculina permitiu ao homem expor os seus sentimentos e emoções. Surge um novo pai, aquele que deixa de ser só provedor, para ocupar o lugar de cuidador com a mãe. No entanto não deixou de estar no outro estremo, ou seja, expressou afectividade pelos filhos, deu-lhes amor incondicional e liberdade total para exercitarem as suas emoções, limites e potencialidades. A geração que se formou nesse período, sentiu dificuldades para se adaptar às leis e normas da sociedade.
Actualmente, a geração dos pais dos anos 90/2001 encontra-se diante de um grande desafio, de ser objectivo e claro, ao ditar as regras e condutas, ao saber dar limites. De aproveitar  o que há de melhor nos dois modelos anteriores, entendendo que a frustração, a raiva, o ódio, a disputa, a privação fazem parte da aprendizagem da criança, tanto quanto o amor, a protecção, o carinho, a confiança, o afecto que ele deve receber dos pais.
Com as alterações registadas no papel do pai, surgiu um novo conceito, o de casal grávido, não se considerando apenas a mulher grávida. Deve-se ao facto, de um grande numero de homens desejar participar no processo de paternidade, combatendo a ideologia ancestral de que a sua participação terminava no momento em que o bebe era concebido, sendo excluindo da relação. Assim irá constituir um elemento chave da equação pré-natal, contribuindo para o desenvolvimento harmonioso do seu filho e da relação com este e do casal. O pai não é um elemento passivo neste complexo processo. (in artigos da Internet: “Paternidade” e “De pai para filho”)


A problemática do corpo na paternidade

“Suportar a criança antes do nascimento, não consiste apenas no suporte feito pelo corpo da mulher, mas também é suportada pelo sentimento dos pais” ( Clerget, 1980).
Toda a problemática do papel do pai, nomeadamente, sentimentos, vivências, atitudes e comportamentos, reside numa realidade puramente biológica, o facto de o desejo do homem em ter um filho, realizar-se no corpo de uma mulher, na forma de gravidez.
Assim, a paternidade não sendo visível no corpo masculino é uma questão significante. Aquando do desejo de ser pai, o homem depara-se com a confrontação dos seus limites.
Perante estas limitações impostas pela natureza, o homem sente-se frustrado, injustiçado por terem sido traçados duas vias que limitam experiências corporais diferentes em cada um dos sexos, questionando-se sobre a razão de não poder experimentar um prazer próprio, não revelado, não declarado sobre o da mulher.
            Nesta ordem de ideias, é de referir que, a mulher experimenta uma relação fusional, mesmo antes de sentir, tem consciência de ter uma criança dentro de si e de estabelecer uma comunicação com ela. Em relação ao homem, a sua percepção da existência do filho inicia-se depois de presenciar as alterações significantes no corpo da mulher. Assim segundo Sto. Agostinho, “a maternidade é qualquer coisa da ordem dos sentidos, experimentada e a paternidade, da ordem da espiritualidade, princípio simbólico”. Durante o processo de gravidez ser pai e mãe comporta inúmeras alterações psicológicas e físicas, que serão vivenciadas desigualmente, o homem percepciona a presença do filho mais tarde que  a mulher, no entanto esta percepção pode ser antecipada o mais precocemente possível, pelo simples facto de ser falada e colocada como uma das prioridades, se não a maior. As mulheres falam da criança dentro delas, os homens tentam falar da sua comunicação, mas falta-lhes algo.
Assim todas estas considerações, fundamentam frases como: “a maternidade é evidente e a paternidade é apenas aparente, a mãe é sempre certa e o pai nunca”;. (Clerget, 1980, .....); “juridicamente a filiação materna é sempre uma declaração enquanto a paternidade é um reconhecimento”; (Clerget, 1980, .....); ”filhos de minhas filhas meus netos são, filhos de meus filhos serão ou não”; (sabedoria popular).


As vivências do pai durante a gravidez
“Em certas espécies de insectos a fêmea mata o macho após a fecundação. É assim que o pai se sente muitas vezes. Descartável, tamanha a sensação de inutilidade que aparece após a sua mulher engravidar. As dificuldades habituais da gravidez e dos primeiros meses de vida do bebé, as alterações no relacionamento sexual com a mulher nesta fase, tornam este período muito delicado para o relacionamento do casal”(in “Carta de um Pai”)
O pai tem um papel fulcral na vida da criança, não se devendo reconhece-lo como idêntico à mãe ou como competindo com esta. (Eduardo Sá). O modo como o homem vivência a gravidez é diferente da mulher, assim como de homem para homem, influenciado pelo contexto social, cultural, familiar em que está inserido.
Em primeiro lugar há que ter presente que desejar um filho é diferente de o homem se projectar como pai, mesmo que a gravidez tenha sido planeada. Enquanto que o desejo remete para o plano da fantasia, do imaginário, a projecção introduz o conceito de real, de responsabilidade levando a sentimentos de insegurança e “de que não está preparado”. Segundo Brazelton, quando o pai sabe que a esposa está grávida, pode vivenciar um tumulto de sentimentos alguns de alegria, ansiedade e outros conflituantes. Considera-se dois tipos de pais, aqueles que demonstram empatia e interesse pelas esposas e aqueles que demonstram pouca consciência sobre os seus sentimentos.
 Por outro lado, este período vai reactualizar os conflitos infantis conscientes e inconscientes, na relação que tinha com os pais de origem, incutindo um estado depressivo. É o equilíbrio entre a sua identificação maternal e os comportamentos masculinos, que dá voz ao seu papel na criação dos filhos e lhe permite identificar-se com a gravidez da mulher. Frequentemente, os pais anseiam por um filho pois simboliza a sua masculinidade, potência, reproduz a sua própria imagem, assegura a sua linhagem, sentem-se por isso completos e omnipotentes.
Outros sentem-se incompreendidos, desamparados nas suas angústias e ansiedades, pois sentem-se fragilizados, com dúvidas, medo do futuro; sem ninguém para os ouvir, uma vez que o ambiente mais próximo está voltado para a gestante, pois todos perguntam pela saúde, sentimentos da mulher, esquecendo-se do pai. Saem em procura de amigos, de alguém que os oiça, afastando-se do ambiente doméstico, sofrendo sozinhos ou procurando refúgio em relações extra-conjugais, no alcoolismo. Situação que é agravada por a mulher começar a direccionar toda a sua atenção, energia no futuro bebé, que pode ser encarado como um rival pelo pai.(segundo Brazelton)
Embora o homem e a mulher contribuam igualmente para a concepção do filho, é a mulher que vai vivenciar as transformações físicas e sentir o bebe 24h por dia. Isto pode causar inveja, ciúme no homem por não poder participar directamente na díade mãe-bebé, o que pode levar a que se sinta excluído da relação. Por vezes para combater estes sentimentos, produz sintomas semelhantes ao da gestante (Síndroma Couvade, caracterizado por sintomas como aumento da fome, sono, problemas gastrointestinais, dores de dentes, náuseas), que são expressões inconscientes do seu desejo em vivenciar directamente este período e de exprimir a sua frustração por serem deixados de lado. (Com base nos autores Eduardo Sá e Brazelton)
Outro dos mecanismos de defesa, reside na procura de informação sobre a gravidez, o parto, o puerpério, e em captar os movimentos fetais, colocando a mão no ventre da parceira, por exemplo. O pai como a mãe exprime enorme ansiedade, preocupação em relação à possibilidade de o seu filho não ser normal ou completo tendo a necessidade de saber se tudo está bem, de se informar.( In “Paternidade”) O homem sente-se diminuído, receoso, muitas vezes culpado pela situação da sua esposa. O que poderá levar o pai, no final da gravidez, a afastar-se abandonando a família ou refugiando-se na indiferença emocional e no não-envolvimento. (Brazelton)
A representação da criança pelos pais é transmitida pela fala, pelas palavras entre ambos, partilhando assim a sua própria representação do bebé. A relação que se estabelece no pré-parto, é essencial para a motivação do pai em acompanhar o parto e participar nos cuidados à criança. (Casimiro Gronita )
“A gravidez da mulher é uma época importante para a consolidação da identidade do homem, que sofrerá, paralelamente, toda a ansiedade e o autoquestionamento que assaltam as mães.”(in artigo da Web Paternidade)


O acompanhamento do parto pelo pai
“ Somos dois a fazê-lo, somos dois a recebê-lo” ( fonte)
Como consequência da modificação da conduta paternal, os pais exerceram pressões sobre as equipas hospitalares no sentido de verem satisfeita a sua pretensão, ou melhor, o seu direito, de estarem presentes na sala de partos (Gronita, 1994).
E, através de observações e trabalhos de investigação, os técnicos de saúde já não mais consideram o pai como um elemento passivo neste processo (Parke referido por Gronita, 1994).
Em Portugal, também é notória a alteração das atitudes dos pais face à gravidez e ao nascimento dos filhos, através da sua cada vez maior presença na sala de partos, criação de leis nesse sentido…
No entanto, geralmente o acompanhamento não abrange todas as fases do parto, sendo limitado (por razões físicas ou de privacidade) à fase terminal ou período expulsivo.
Para Gronita (1994), acompanhar o parto significa estar em efectiva companhia da grávida durante todo o trabalho de parto e período expulsivo, ou seja, estar presente em todas as fases do nascimento da criança.
O pai é considerado um elemento activo, participante e importante no período perinatal, pelo que, a sua intervenção no decurso de todo o trabalho de parto é benéfico para este e para a mãe. Ao verificar-se que as mulheres têm maior gosto no parto e nos primeiros contactos com o filho, o principal beneficiado é o bebé, pois será alvo de comportamentos afectivos.
Na prática, observa-se um reforço das futuras relações da tríade mãe-pai-filho, perspectivando-se estabilidade familiar e social com sucesso (Gronita, 1994).
O pai é, então, uma pessoa significativa, indispensável no período perinatal e nas experiências precoces do bebé.
A participação do pai no parto não é uma decisão de momento: é fruto de uma evolução, de uma continuidade da experiência dos nove meses de gravidez.
A presença do pai no parto pode ser determinante para a eficácia das aulas de preparação para o parto, contribuindo também para uma percepção mais positiva da experiência do parto pela mãe no que diz respeito ao controlo psicológico e regulação da dor, afirma Parke, mencionado por Gronita, (1994).
Para Levine e Block, referidos por Gronita (1994) a presença dos pais na sala de partos pode ser activa na medida em que poderão, não só presenciar, mas também “fazer de médico” (em partos normais, sem complicações e sob supervisão), “apanhar” o bebé logo que ele nasce, cortar o cordão umbilical, levá-lo para o berçário, vigiá-lo… O pai tem um acesso ilimitado à criança e à mulher já não está preso à imagem de “homem que espera” segundo Spock, referido por Gronita (1994).
Embora não esteja absolutamente correlacionado, a presença do pai no parto faz despoletar sentimentos paternais positivos relativamente ao nascimento e potencia o contacto, segundo Pederson referido por Gronita, (1994).
Apesar, de não se poder garantir que a presença paterna no parto surta este ou aquele efeito em particular, pode concluir-se que o contacto precoce com o recém-nascido pode incrementar a relação marital e os sentimentos de pertença à família em fase de expansão. 
Quando se tem em conta a relação pai-filho, o acompanhamento do parto pode ser um dos factores intervenientes e facilitadores desta relação.
A motivação para acompanhar o parto está, de certa forma, dependente do desenvolvimento de uma ligação emocional ao bebé, tendo a sua génese durante a gravidez.
Parke, referenciado por Gronita (1994) refere que o pai não é um adulto qualquer, mas tem um efeito diferente, em qualidade, dos demais adultos.





De Casal a Tríade: que ajustamentos?
“Além disso, o pai fica quase sempre com um incómodo papel secundário, atrás dos avós, comadres, até do médico (...) a atenção da mulher antes exclusiva para o marido é  agora dividida com o filho.”
Segundo Brazelton (1992),o nascimento do bebé força o pai a aceitar a transição de um relacionamento dual para um relacionamento triangular. O pai pode sentir-se desvalorizado nesta nova tríade – por um lado, vai-se sentir despojado de um tratamento especial e exclusivo por parte da sua companheira e por outro lado, a mãe, e particularmente o recém-nascido constituem o centro das atenções  e carinhos dos familiares e amigos.
A primeira tarefa dos pais, é desenvolver um sentimento de vinculação com o filho, descobrindo as suas sensibilidades e necessidades específicas, expressas através do choro, sorriso, ou movimento. Na base da vinculação com o recém - nascido, encontra-se o afecto, o amor e carinho da tríade mãe - pai - criança
Assim que uma criança nasce necessita de cuidados que devem ser prestados pelos pais. A alimentação, o banho, a mudança das fraldas e vestir o recém-nascido são cuidados tradicionalmente assegurados pela mãe, mas onde o pai beneficiará ao ajudar, visto que é uma forma de fortalecer a vinculação com o filho. Parke citado por Gronita (1994), refere que num dos seus estudos, descobriu-se uma correlação positiva entre a aproximação do bebé em relação ao pai e o número de fraldas que o pai mudava por semana. É importante ter em conta que o mais importante não é estar muito tempo em contacto com a criança, mas sim a qualidade desse tempo, ou seja, o modo como os pais tratam a criança.(por citação) Alguns estudos efectuados comprovam a ideia de que os pais interessam-se mais e estão mais vocacionados para participarem em actividades lúdicas com a criança e transmitirem disciplina e princípios, enquanto que as mães possuem um talento verbal e educativo.
De acordo com Gronita(1994), os pais influenciam mais as interacções sociais do recém-nascido enquanto que as mães determinam principalmente as futuras relações íntimas dos seus filhos.
O tipo de envolvimento que cada homem assume está directamente relacionado com o seu conceito de papel de pai, o qual, segundo Gronita (1994) pode ser definido como o conjunto de acções e funções atribuídas ao homem, tanto em situação familiar como social, a partir do nascimento do seu filho, sendo aquelas influenciadas pela própria cultura da pessoa, relação pai-filho vivenciada ao longo da vida, bem como pela comunicação social.
O pai no entusiasmo do seu novo estatuto, e na sua solidariedade e carinho para com a mãe depois do parto, contribuirá de forma crucial para tornar o nascimento num acontecimento realmente marcante e feliz para o casal, factor de crescimento e maturação da relação conjugal.



Educação para a sexualidade
            Apesar de hoje em dia se atribuir uma outra importância à existência das crianças a verdade é que, como explica Eduardo Sá, ainda se continua a cultivar uma atitude “xenofóbica” em relação ao seu mundo. Uma das áreas em que isso se denota diz respeito à sexualidade, em que se continua a mascarar as diferenças da vivência da sexualidade nas crianças com as duvidas e receios dos pais, que hesitam com pudor acerca dos reflexos dos seus comportamentos nelas.
            Isto acontece talvez porque é do conhecimento geral de que no passado as crianças eram correntemente vítimas de violação ou iniciação sexual traumática no interior das suas famílias, tendo sido provada a intima ligação dessas experiências perturbadoras com distúrbios nos adultos. É então pertinente questionar acerca da actual e constante banalização do sexo dos “mass media”, não poderá também ser instigadora de sequelas traumáticas. Actualmente tem se consciência das perturbações se risco que alguns dos gestos do quotidiano podem trazer para o saudável desenvolvimento infantil, neste sentido torna-se também relevante reflectir acerca da indiferença e silêncio perante as questões de educação para a sexualidade das crianças.
A relação das crianças com a sexualidade, em particular com a dos pais não tem malícia, o sexual é inacessível ao seu pensamento e o contacto com o acto sexual dos pais, mesmo que acidental, é perturbador e traumático, como explica Eduardo Sá. O mais significativo para as crianças é a dimensão relacional, assim segundo Eduardo Sá, para as crianças “... o espaço das pessoas da família faz-se de relações”. Desta forma, para conseguir conceptualizar os pais unidos, exteriormente a criança liga-os no seu íntimo.
Emerge compreender a complexidade do conceito de sexualidade – ele não se esgota no acto reprodutivo ou no gesto erótico em si. Citando ainda Eduardo Sá, “ o erotismo serve para ir ao encontro do outro, mas só a ternura permite que se vá de encontro ao interior do outro”. Assim, em qualquer relação humana amorosa onde o sexual se sobrepõe ao relacional, nasce uma falsa intimidade.
Segundo este psicólogo educar para a sexualidade, pressupõe a educação com afectos, educando as crianças para as relações humanas regidas por valores éticos fundamentais. Ambos, pai e mãe, devem estar despertos para todos estes aspectos, não interditando informação acerca da sexualidade, mas não encobrindo o relacional com o sexual. Deve-se ensinar as crianças a aceitar o não como resposta possível, educá-las igualmente para o eu como para a relação com os outros, educar para a intimidade e para a interioridade, e sobretudo educar para o porquê, respondendo sempre ás perguntas das crianças, tomando em conta que as respostas não se devem antecipar ás perguntas.



Conclusão
“Apesar dos enormes avanços legais e tecnológicos que têm ocorrido no sentido de aproximar os pais de uma vivência da gravidez e do parto, os factores que têm historicamente e culturalmente trabalhado para exclui-los ainda são fortes.” (Brazelton, 1992, p.39) Estes factores podem ser modificados por meio de programas, que promovam a participação do pai na gravidez e no parto, tais como aulas de educação para o parto, consultas e exames pré-natais, programas de apoio à família.
 Para além das modificações já ocorridas, continuam a ser necessárias modificações a nível das atitudes dos profissionais de saúde, para quer seja permitido um maior contacto entre a tríade mãe - pai - criança, em todas as fases que rodeiam o nascimento e o desenvolvimento.

O papel  do pai encontra-se condicionado pelo facto da paternidade,  de certo modo, se efectiva no corpo feminino confrontando-se deste modo com os seus limites físicos.
A mulher, é que na verdade vivencia todas as mudanças no seu corpo, decorrentes do desenvolvimento do bebé, consciencializando-se muito mais precocemente com o facto estar grávida e ser mãe. No que se refere ao pai, este processo inicia-se geralmente aquando da objectividade dessas mudanças, começando a sua vinculação ao bebé.

            Tendo presente o contexto social, cultural e familiar em que o homem se insere, a sua vivência face à gravidez é diferente da mulher e de homem para homem. Vivem assim uma diversidade de emoções que devem ser percepcionadas individualmente, de forma a compreender como é que ele se envolve na gravidez. Deve-se assim considerar esta etapa fulcral visto que é a base da futura relação pai – filho; permite a reestruturação da identidade do homem tendo por suporte uma análise introspectiva face aos sentimentos que vivencia e redefinição da relação do casal.

Através  do acompanhamento do parto, o homem é confrontado com a sua nova realidade enquanto pai: o bebé é-lhe entregue nas mãos. Desta forma, a sua participação activa ajuda-o a sentir-se envolvido no processo de gravidez, contribuindo para a sua auto-valorização e assumpção do novo papel de pai. Isto constitui um factor determinante para o futuro da relação mãe-pai-filho.

Tal como em relação a outros aspectos a ter em conta na educação dos filhos, deve também existir e desde sempre, uma preocupação em educar para a sexualidade por parte dos pais. Os pais, mais do que preocuparem com conteúdos fisiológicos e genitalizados, devem transmitir às crianças valores e princípios morais universais, de forma a prepara-las para a construção de relações amorosas onde haja respeito e partilha verdadeira de emoções e construção de uma intimidade saudáveis



O nascimento de uma criança pode conduzir a que o pai por um lado, se sinta desvalorizado por receber pouca atenção e ,por outro, mais responsável e realizado. Esta discrepância de vivências fundamenta-se no  papel de pai ser interiorizado diferentemente por cada homem durante o seu processo de socialização. Assim como enfermeiros deveremos conhecer a forma  como o pai se  ajusta à nova tríade, para que deste modo se possa construir uma vinculação saudável.  


O grupo chegou à conclusão, que depois de tudo o que foi desenvolvido ao longo deste trabalho, que se torna impossível dissociar o papel do pai do papel da mãe desde a concepção até à educação dos filhos, correspondendo cada um a parcelas importantes para o crescimento e desenvolvimento saudável do ser humano.
Bibliografia

Ø BRAZELTON, T. Berry – As primeiras relações; Bertrand G. Crammer; 1ª edição; São Paulo: Martins Fontes; 1992; 287 p; isbn?
Ø SÁ, Eduardo – Psicologia do Feto e do Bebé; Fim de século_Edições;2001;136p.;ISBN:972-754-172-0;
Ø DE SINGLY, François – Le soi, le couple et la famille; Éditions Nathen;1996; ISBN 209-190-4225-0
Ø  CLERGET, JoelSer pai hoje,1ªedição;moraes editores;Lisboa; 1980;ISBN ? 155 p.
Ø SÁ, Eduardo – Manual de instruções para uma família feliz; Fim de século_Edições; 1999; ISBN 972-754-124-0

Ø Internet:
Ø : http://www.maternidade.hpg.com.br, Carta de um Pai, Dr. Rui Pupo Filho,27/10/2002;
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Ø  http:.//cadernodigital.uol.com.br/guiadobebe/artigos/depaiparafilho.htm, De pai para filho, Ana Sílvia Teixeira, Vera Risi, 27/10/2002;
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Ø http:.//cadernodigital.uol.com.br/guiadobebe/artigos/aemocaodeserpai.htm, A emoção de ser pai, Revista Selecções, 27/10/2002
Ø http://www.viasaude.com.br/famikia/gravidez_h.htm, O Homem e a gravidez, Stephanie Sapin-Lignieres,Prof. Marcus Renato de Carvalho, 21/10/2002;
Ø http://www.viasaude.com.br/familia/h_amamentacao.htm, O Homeme e a amamentação, Prof.Marcus Renato de Carvalho, 27/10/2002;
Ø http://www.aleitamento.com/dir_sp.htm, Direito do pai no parto, 27/10/2002;
Ø http://www.viasaude.com.br/artigos/relacionamento.htm, Relacionamento Masculino-Feminino, Márcia Homem de Mello, 27710/2002;
Ø http://www.maisde50.com.br/artigo.asp?id=520, Estimulando bebês: as ligações afectivas; Dra. Marlizete Maldonado Vargas, 27/10/2002;


Anexo (1)
Entrevista

O Papel do homem

Com a emancipação da mulher e a sua entrada no mercado de trabalho, será que surge a necessidade de um novo pai? Tem se vindo a discutir a importância do papel do pai na família, na vida da criança na sociedade.
Com o intuito de recolhermos algumas informações sobre este tema, no dia 28 de Outubro, efectuámos algumas questões à enfermeira Elisabete Osório (da área de consultas de planeamento familiar/sexualidade, pré-natais) e à enfermeira Salomé (da área de consultas pediátricas), do módulo de Saúde Materna do centro de Saúde de Oeiras.

1. É frequente o homem acompanhar a mulher nas consultas de planeamento familiar, gravidez, pediatria?

Enfermeira E:
São mais as mulheres que vêm à consulta de planeamento familiar e pré-natais, estatisticamente 99% das vezes. Raramente vêm os casais.
Após o nascimento, na primeira visita que denominam de “teste do pezinho” habitualmente vêem sempre os dois.
Na revisão do puerpério, a frequência continua a ser mais da mulher ou de outro familiar que não seja o marido, muitas vezes a irmã, a mãe ou a sogra.

Enfermeira S:
Nos últimos vinte anos, registou-se uma mudança radical, o homem tem vindo a participar activamente na vigilância da saúde do seu filho. Os homens de vários níveis socio-económicos e de diferentes etnias, têm demonstrando interesse em assumir o seu papel de pais. Por exemplo, os homens de etnia cigana consideravam que esse papel competia exclusivamente à mulher pois ponha em causa a sua masculinidade. No entanto, hoje em dia os ciganos querem assumir a saúde dos seus filhos, começando a acompanhá-los nas consultas de pediatria.
 Há uma grande diferença, o homem não quere prescindir do seu papel de pai; querem saber tudo e responsabilizar-se pela saúde dos seus filhos.
Muitas vezes é o pai que vem sozinho porque a mãe não pode vir. Temos até um caso, que é o avô quem toma conta do bebé.


2. Quais os principais receios/duvidas do pai, em relação à gravidez, nascimento e posterior desenvolvimento do filho?

Enfermeira E:
Os homens são mais inibidos do que as mulheres, quando têm duvidas, mandam as mulheres efectuar as perguntas nas consultas. A pessoa está muito carente, trazendo muitas vezes as perguntas num papel ou efectuando-as verbalmente. Algumas dessas duvidas são relacionadas com o receio do parto, se a criança tem alguma anomalia, complicações na gravidez. Esta situação permite a criação de um clima de grande empatia entre a enfermeira e a grávida, sendo encontros cordiais.

Enfermeira S:
Como os pais não querem prescindir do seu papel, querem saber tudo: como se deita, como se dá banho ao bebé, o que este deve comer. Há uma mudança significativa. Hoje em dia é frequente os pais virem as consultas de pediatria, demonstrando-se até mais ansiosos e “piquinhas” com o bebe do que as mães. Possivelmente esta mudança deve-se ao aumento da escolaridade, compreendendo melhor a sua importância na preparação do parto, no desenvolvimento do seu filho.


3. Qual a importância da presença e acompanhamento do pai durante todo o processo de gravidez e no puerpério?


Enfermeira Elisabete:
Os que acompanham as grávidas demonstram-se carinhosos. Um caso que se registou no centro foi de um senhor que espancava a mulher, no entanto com o desenrolar da gravidez agora já acompanha a mulher nas consultas.

Enfermeira Salomé:
A presença do pai é muito importante para o desenvolvimento da criança, pois é a referência paterna, a presença masculina.
Se o homem desempenhar o seu papel de pai, vai estar mais envolvido e compreender melhor o papel da mãe face ao bebe. Este vai permitir que não haja tantos sentimentos de ciúme pelo pai face ao bebe, vivendo o pai e a mãe em harmonia com o bebé pois há uma mudança na relação que passa de dois a três elementos. Assim o pai sentirá também a necessidade de se adaptar ao bebé e de desempenhar o seu papel e não só a mãe. É um período muito complexo, de mudanças mas muito rico em experiências.
Até nas depressões pós-parto, o seu papel é fundamental pois não sofreu as alterações hormonais e fisiológicas que a mulher sofreu, estando mais apto para compreender a mulher e apoiá-la no pós-parto. É fundamental a sua presença para que tudo corra bem. A relação tornar-se – à mais fortificada pois a mulher sente-se mais acompanhada e compreendida.
Os técnicos têm que estar despertos para esta mudança, para fomentar o papel do pai pois é muito importante para o desenvolvimento da família.


Agradecemos a disponibilidade e a partilha de conhecimentos e experiências destas duas enfermeiras que tiveram a amabilidade de nos receber.


Anexo (2)
Questionário
1 – Na tua opinião, o conceito de paternidade, envolve:

            o sobretudo o aspecto biológico – a participação do pai, resume-se à concepção.
            o função educadora e disciplinadora, segundo códigos frequentemente  rígidos e repressivos.
            o a ideia do pai  que em conjunto com a mãe, participa desde o planeamento até à educação, cuidados e  estabelecimento de relações afectivas com o filho(s).

2 – Com base na tua experiência do dia-a-dia, indica as actividades e tarefas em que vês os homens/pais participarem de forma activa:

            o Compras para o lar e família
            o Tarefas domésticas e de manutenção do lar
            o Cuidar em conjunto e alternadamente com a sua companheira, dos filhos
            o Ir buscar e levar os filhos à escola
            o Desenhar e planear o quarto do futuro filho
            o Participar na escolha e compra do enxoval e brinquedos do futuro filho
            o Acompanhar a companheira a consultas de vigilância da gravidez  e exames de diagnóstico(ecografias, análises laboratoriais...)
            o Colocar a mão sobre o ventre da companheira e conversar com o bébé
            o Apoiar, compreender e acarinhar a sua companheira na debilidade física e psicológica provocada pela gravidez, parto e puerpério
            o Frequentar aulas de preparação para o parto com a companheira
            o Ler literatura acerca da sua participação na gravidez, parto e educação do seu filho
            o Assistir ao nascimento do filho
            o Participar nos cuidados ao bébé alternadamente com a mãe, nomeadamnete o trocar as fraldas, dar banho e alimentação ao filho


Trabalho elaborado:
Ana Torrinha
Bruno Costa
Lara Barquinha
Marisa Jesus
Susana Correia