Fobia escolar


            O aumento de crianças com Fobia Escolar tem-se vindo a verificar ultimamente, na comunidade em geral e nas Instituições de Educação em particular, com repercussões evidentes a nível individual, social e intelectual.
            É a consciência desse facto e o reconhecimento de que nem sempre lhes são prestados os cuidados a que têm direito que nos leva hoje a abordar um dos pontos que nos parece revestir de máxima importância: ”Fobia Escolar”. Esta situação implica, não só dos profissionais de saúde como também de toda uma equipa multidisciplinar, uma preocupação acrescida no sentido de se manterem actualizados a nível das Ciências Sociais e Humanas, pois só assim poderão prestar melhores cuidados e melhor qualidade de vida a estas crianças.
           Assim, antes de passarmos ao tema central, começaremos por referir os objectivos do trabalho:
Ø Aprofundar conhecimentos sobre a Fobia Escolar
Ø Identificar os mecanismos desencadeadores da Fobia Escolar
Ø Conhecer as manifestações clínicas do distúrbio em causa
Ø Identificar os problemas que afectam a criança
Ø Permitir que nos sirva de referência como futuros profissionais de Saúde na área de Enfermagem.
A estrutura do trabalho está organizada numa só parte.
A metodologia seguida baseou-se na pesquisa bibliográfica e pesquisa on-line de sites relevantes para o efeito.

1 - CONCEITO DE FOBIA

            A evolução filogenética, fez com que algumas emoções se desenvolvessem e que o Homem sobrevivesse.
            Destas emoções fazem parte o amor, a raiva, mas também o medo. O medo normal gera energia suficiente para evitarmos ou nos afastarmos de algo que pode vir a ser prejudicial tendo por isso um papel fundamental na adaptação Humana.
            Alguns tipos de medos são de grande magnitude para as situações que se apresentam e estes são chamados de Fobias.
            Essa palavra provém do grego  phobia  e esta, por sua vez, deriva de  phobos”, nome de um Deus grego e que significa pânico, terror).
            Esse Deus provocava, segundo a lenda, sentimento de medo a todos os seus inimigos, pois a sua face era terrivelmente feia e assustadora. (MESTRE, e CORASSA, 2000)
            Segundo TALBOH (1992): “uma fobia é definida como um medo persistente e irracional de um objecto, actividade ou situação específica que resulta num desejo compulsivo de evitar o objecto, actividade ou situação temidos (estímulo fóbico).
            Alguns autores referem que a fobia é, de um modo geral, um caso específico de ansiedade:
“A fobia é um caso específico de ansiedade gerada por agentes que provocam stress e que provêm do meio ambiente. Estes agentes interagem com o organismo sensível e susceptível às suas acções”. (MESTRE, e CORASSA, 2000)

O que  distingue a ansiedade da fobia é basicamente a quantidade. Isto é, depende:
Ø   Do tempo que dura o episódio de ansiedade;
Ø   Da quantidade de ansiedade que a pessoa vivencia;
Ø   Da frequência em que esta ocorre;
Ø   Do nível em que aparece o desejo de evitar o objecto, actividade ou situação;
Ø   A avaliação dada pela pessoa que está ansiosa.

A ansiedade é quase sempre vivenciada como uma sensação de apreensão a algum perigo futuro não bem delineado. É uma experiência universal, que tem, como principal função a nossa sobrevivência. (MESTRE, e CORASSA, 2000)


1.1– TIPOS DE FOBIA

            Actualmente a DSM-IV (American Psychiatric Association, 1994) caracteriza a Fobia em vários subtipos:
Ø   Agorafobia;
Ø   Fobia simples;
Ø   Fobia social (TALBOH, 1992)


1.1 .1 – Agorafobia

Entende-se por agorafobia o medo de ficar em lugares ou situações onde a fuga pode ser difícil (ou embaraçosa) ou nos quais pode não haver ajuda disponível no caso do desenvolvimento súbito de sintomas que podem ser incapacitantes ou extremamente embaraçosos.
Como resultado deste medo, a pessoa restringe viagens, necessita de uma companhia quando está longe de casa ou então suporta as situações agorafóbica apesar das suas intensas ansiedades.
As principais situações agorafóbicas incluem:
Ø  Sair de casa sozinhos;
Ø  Estar numa multidão ou ficar numa fila de pessoas;
Ø  Passar sobre pontes;
Ø  Viajar de autocarro, comboio ou automóvel.
(MESTRE, e CORASSA, 2000)

A incidência da sua ocorrência tem aumentado nos últimos anos. (fundamentos de psiquiatria).
1.1.2 – Fobia simples

“As fobias simples são medos limitados de objectos, situações ou actividades específicas”. (TALBOH, 1992)
Este distúrbio é composto por três constituintes:
Ø  uma ansiedade antecipatória (que é causada pela possibilidade   de confrontação com o estímulo fóbico);
Ø  o medo central;
Ø  comportamentos no sentido de evitar o estímulo fóbico e minimizar as ansiedades.

Na fobia simples, o medo geralmente não é do objecto em si mas de alguma consequência terrível que pode resultar do contacto com aquele objecto (segundo os indivíduos que sofrem deste distúrbio).
Por exemplo: pessoas que têm medo de conduzir, têm medo de acidentes e indivíduos claustrofóbicos de sufocarem ou ficarem presos em locais fechados.
Embora a maioria dos indivíduos com fobia simples reconhecem facilmente que  “não há realmente nada a temer”, tranquilizá-los sobre isso não reduzem os seus medos. (TALBOH, 1992)


1.1.3 - Fobia social

O medo central que existe, nas pessoas com fobia social, é o de agir de maneira a humilhar-se ou embaraçar-se na frente dos outros.
Os indivíduos socialmente fóbicos temem uma variedade de situações nas quais seria necessário executar uma tarefa na presença de outras pessoas. As principais fobias sociais são:
Ø  Falar, comer ou escrever em público;
Ø  Comparecer a uma festa;
Ø  Ser entrevistado.
Como na fobia simples, a ansiedade está ligada ao estímulo. Quando as pessoas se encontram perante o objecto fóbico, elas apresentem uma variedade de sintomas fisiológicos da ansiedade como: palpitações, sudorese, tremores,...
Indivíduos que têm apenas uma fobia social podem ser relativamente assintomáticos.
Um medo comum aos indivíduos socialmente fóbicos é o de que as outras pessoas se apercebam e ridicularizem as suas ansiedades.  (TALBOH, 1992)

Os principais critérios de diagnósticos, para a fobia social, segundo TALBOH (1992), são:
Ø  Um medo persistente de uma ou mais situações, onde se encontram expostos à vigilância de outras pessoas, que podem ser humilhantes ou embaraçosas;
Ø  A exposição ao estimulo fóbico específico provoca obrigatoriamente uma resposta de ansiedade imediata;
Ø  A situação de pânico é evitada ou suportada com intensa ansiedade;
Ø  O comportamento para evitar o objecto fóbico, interfere no funcionamento profissional e nas actividades sociais;
Ø  A pessoa reconhece que o seu medo é excessivo ou irracional.
(TALBOH, 1992)

            FALCONE (1995) cit in (MESTRE, e CORASSA, 2000) admite algumas características da fobia social. A fobia, acontece em contextos:
Ø onde a dominância é incerta;
Ø onde há pressão pela boa performance;
Ø onde o indivíduo sente que pode haver possíveis críticas negativas.

Para a mesma autora, a fobia social aparece em três sistemas de respostas:
Ø Cognição: a pessoa parece provocar, involuntariamente, aquilo que ela mais teme. Apresenta uma reacção aparentemente paradoxal, pois avalia as próprias expectativas interpessoais baseando-se em crenças irracionais.
Ø Fisiologia: taquicardia, espasmos musculares, sudorese, tremor e rubor, distúrbios gastrointestinais, cefaleias, lombalgias,...
Ø Comportamento para evitar o objcto fóbico: a vida social fica impedida. O déficit em habilidades sociais parece comum entre os fóbicos. Os indivíduos que sofrem deste distúrbio, organizam as suas vidas de tal forma a nunca se confrontarem com o objecto fóbico e assim evitar toda a ansiedade que lhe está associada.
“são pessoas com senso de responsabilidade social aguçado e dificuldade de enfrentar críticas. Pensam no resultado antes do acto, por isso necessitam de mais energia em tudo o que fazem. Por medo de errar, deixam de fazer várias actividades ao longo do dia a dia. E o paradoxo é que, na maioria das vezes, acabam acertando, porque tudo é muito bem planeado”.
 (MESTRE, e CORASSA, 2000)

            As pessoas que sofrem de fobia escolar sofrem, portanto, de um dos vários tipos de fobia social.

2 – FOBIA ESCOLAR


            Segundo MONIZ (1993) a fobia escolar é  “ o síndrome no qual a criança não frequenta a escola por várias razões ”.
            TAYLOR (1992) define fobia escolar como sendo: “a denominação empregada para descrever o que sentem crianças outras que aquelas que começam a frequentar a escola, que resistem a ir à escola devido ao pavor da situação escolar, a preocupação em abandonar o lar ou por ambas as causas”.
“A fobia escolar não é exactamente ter medo da escola, mas sentir angústia de algo nela existente ou como se algo estivesse na iminência de acontecer, sem que a pessoa saiba identificar onde está o perigo”. (CHARDIN, 2003)
            BERNST e GARFINKEL cit in MONIZ (1993) demonstraram através de um estudo que “70% dessas crianças sofrem de depressão, 60% de um distúrbio de ansiedade e 50% de depressão e ansiedade”.
            A criança, quando inicia a sua vida escolar, tem de se ajustar a outras crianças (com as quais ela pode ter muito pouco em comum), a uma professora (que pode ter muito pouca experiência), a regras, exigências, normas, horários,
 enfrentar um grande número de crianças e talvez, mais importante ainda, ficar longe do que lhe é familiar (ansiedade de separação).
            Para MONIZ (1993), a principal causa da fobia escolar é a ansiedade de separação que será mais a frente, no trabalho, abordada.
            Com a habituação à escola, a criança começará a ver no(a) professor(a) um(a) pai/mãe substituta sentindo, dia após dia, cada vez mais conforto e segurança com a sua presença. Logo que isto aconteça, a fobia escolar deixa de ser um problema. (MACHADO)
            A professora ou o professor tem por isso um papel essencial na resolução deste distúrbio. Devem tentar manter uma relação afectiva com os alunos, mostrando-lhes o quanto a escola pode ser benéfica. Para além de transmitir conteúdos, o professor deve conhecer todas as carências, dificuldades e medos da


criança para poder ajudá-la da melhor forma. Cabe por isso aos pais trocar regularmente informações com os professores sobre a respectiva criança.


2.1 - EPIDEMIOLOGIA

            Trata-se de um distúrbio que afecta cerca de 1 a 2 % das crianças em idade escolar, ocorrendo com a mesma frequência em ambos os sexos.
            Esta fobia pode ocorrer tanto em crianças que começam a frequentar a escola como em pré-adolescentes que, portanto, já iniciaram há algum tempo as suas vidas escolares.
            Para todas as crianças que enfrentam esse novo universo pela primeira vez, a escola pode significar uma ruptura com o mundo familiar, o que explica o aparecimento deste distúrbio nesta idade.
            Este é também bastante frequente em crianças com 10/11 anos que ingressam para o 5º ano de escolaridade. A mudança representa, para esta criança, uma situação nova (visto na maioria das vezes, mudar de escola, professores, amigos,...) que lhe causa ansiedade.
            Essas crianças têm, na maioria das vezes, uma inteligência média.


2.2 – ETIOLOGIA

            Segundo TALBOH (1992), existem várias teorias sobre a origem dos medos e fobias:

            Ø TEORIA PSICANALÍTICA
            Em 1895, Freud não considerava que as fobias tivessem uma origem psicológica. Ele entendia-as como sendo manifestações de um estado de tensão fisiologicamente induzido, como a neurose de ansiedade.
            Em 1909, com a publicação do caso do Pequeno Hans, Freud adoptou uma teoria psicológica da formação do sintoma fóbico. O Pequeno Hans era um menino de 5 anos que desenvolveu uma fobia a cavalos. Através da análise das conversas do menino com os pais durante alguns meses, Freud chegou à conclusão que a fobia era um sintoma de um conflito edípico inconsciente não resolvido.
            Generalizando, Freud postulou que os sintomas fóbicos ocorrem como parte da resolução de um conflito entre os impulsos por gratificação libidinal ou agressiva e o reconhecimento do ego do potencial perigo externo que pode resultar desta gratificação. O ego utiliza repressão e substituição para evitar a ansiedade produzida pelo conflito intrapsíquico e pelo potencial perigo externo por meio da ansiedade de alarme e agindo com o princípio do prazer. Os impulsos libidinais e agressivos são reprimidos, e a ameaça de perigo externo é deslocada para um objecto externo que possa ser evitado. A repressão do impulso inconsciente juntamente com o evitar do objecto “fóbico” eliminam a ansiedade de alarme e o medo de punição.

            Ø TEORIAS DO REFLEXO CONDICIONADO
            Na teoria da aprendizagem, a ansiedade fóbica é considerada como uma resposta condicionada adquirida através da associação do objecto fóbico (estímulo condicionado) com uma experiência nociva (estímulo não condicionado).
            Recentemente o modelo foi criticado por ser considerado inconsistente com uma grande quantidade de aspectos empiricamente observados do comportamento fóbico em humanos.

            Ø TEORIAS BIOLÓGICAS
            Algumas hipóteses recentes sobre a origem das fobias resultaram da integração de abordagens teóricas etológicas, biológicas e de aprendizagem.

            Relativamente à etiologia da fobia escolar, a criança geralmente tem medo de sair de casa, em vez de temer algo em particular na escola.
            Frequentemente, para a criança a primeira prova de independência surge quando ela deve ir à escola diariamente. Em geral os pais são exageradamente protectores e carinhosos, e a criança tem dificuldade em separar-se deles (ansiedade de separação). A criança não tem controlo das tensões normais da vida sem assistência dos pais.
            Por vezes uma mudança de escola, um professor rigoroso, as provas difíceis, ou um colega brigão ou abusador, podem ser consideradas causas do medo que a criança tem de ir à escola.
2.2.1– Ansiedade de separação

A fobia escolar pode estar associada com o transtorno de ansiedade de separação. Até 60 a 80% de crianças com fobia escolar têm transtorno de ansiedade de separação, especialmente crianças menores que têm recusa escolar aguda, de curta duração.
O aspecto fundamental no transtorno de ansiedade de separação é a ansiedade excessiva em relação à separação dos pais ou de figuras de ligação importantes.
De acordo com GARFINKEL (1992), ansiedade de separação “é um fenómeno normal do desenvolvimento dos 6 meses até à idade pré-escolar”. O grau de reacção à separação pode indicar a força da ligação.
Embora os medos de separação sejam geralmente irracionais, eles podem estar baseados em preocupações reais. Por exemplo, a criança pode preocupar-se que um pai deprimido, suicida, tente o suicídio enquanto ela estiver na escola; ou a criança pode preocupar-se que um dos pais abuse fisicamente do outro se houver história de abuso. Nestas ou em situações semelhantes pode haver inversão de papéis, com a criança a ficar em casa para cuidar dum pai deprimido, ansioso ou dependente.
Segundo MESTRE (2000) uma grande percentagem das crianças com distúrbio da ansiedade de separação apresenta sensações de pânico quando forçada a separar-se dos pais.
Os meninos tendem a ter mais ansiedade de separação que as meninas em todas as idades, uma vez que o desenvolvimento dos meninos é mais demorado que o das meninas. (GARFINKEL, 1992)


2.2.2     – Atitude do(a) professor(a)

            Os (as) professores(as) sabem muito bem que a sua missão não é só ensinar, é também estabelecer uma boa relação afectivamente com os seus alunos, mas por vezes esta não se consegue estabelecer. Também há casos em que, por alguma razão, a criança sente que o(a) professor(a) não gosta dela e outros (muitos) que usam a desculpa de que o(a) professor(a) os odeia.
            Frases como: “O meu professor não gosta de mim”, “É verdade que me tenho aplicado muito, mas o professor embirra comigo...”, “O meu teste estava tão bom como o do Rui, mas como ele está nas graças do professor e eu não, então...”, são por vezes ouvidas pelos pais do nosso país. Por detrás delas podem esconder-se muitas coisas: uma simples e vulgar conversa para atirar com as culpas para outra pessoa, mas também pode haver uma certa dose de verdade, e que realmente entre professor(a) e aluno não um relacionamento adequado.
            Os (as) professores(as) são pessoas que sentem e sofrem e que, como toda a gente, têm as suas preferências pessoais. Torna-se então normal, que entre os seus alunos, ele goste mais de uns do que de outros. O que acontece é que não deveriam mostrar nenhum tipo de preferências, pois pode ser prejudicial para as crianças o facto de saberem que não estão no “pódio” da simpatia.
            Há determinados tipos de crianças que podem alterar o decorrer ideal das aulas, e é esse tipo de crianças que não costuma ser a “preferência” dos(as) professores(as) (por exemplo, crianças inquietas, que não param de falar nem de se mexer, com traços marcados de hiperactividade; crianças muito criativas que têm sempre ideias geniais na hora de começar as actividades mais rotineiras; crianças muito contestatárias e que refilam por tudo e deixam o(a) professor(a) “mal” perante os seus companheiros...). mas também, por vezes, pode ser a criança tímida, que está tranquila e calada no seu lugar, que vive mal a relação com o(a) seu(sua) professor(a), pois nota que ele(a) dedica-lhe menos atenção que aos seus companheiros, mais activos do que ela.
            Estas situações de ansiedade são muito típicas nas fobias escolares, e normalmente costumam aparecer entre os 5 e os 13 anos. Quando uma criança tem vómitos, dores de cabeça ou de estômago, enurese, medos, e todos os sintomas que posteriormente se irão referir, é possível que se esteja perante uma fobia provocada por dificuldades na sua relação com o(a) professor(a). Esta situação pode resultar em passividade face ao ensino, recusa em ir à escola e, inclusivamente, em fracasso escolar. (MACHADO, 2004)





2.3 – MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

            A principal manifestação da fobia escolar é a ansiedade de separação (da mãe ou do lar).
            Como na fobia simples, a ansiedade está ligada ao estímulo. Assim, quando forçadas ou surpreendidas numa situação fóbica, estes indivíduos experimentam profunda ansiedade acompanhada de uma variedade de sintomas:
            Ø palpitações;
            Ø sudorese;
            Ø tremores;
            Ø gagueira;
            Ø desmaio;
            Ø rubor;
            Ø cautela e alterações de humor que antes não existia na companhia de estranhos.

            O distúrbio da ansiedade de separação caracteriza-se por:
            Ø preocupações irreais e persistentes de possíveis lesões dos responsáveis;
            Ø relutância em ir à escola;
            Ø relutância em dormir sem estar perto dos pais;
            Ø recusa persistente em estar só;
            Ø pesadelos;
            Ø anorexia;
            Ø náuseas e vómitos;
            Ø diarreia;
            Ø tonturas e cefaleias;
            Ø dores nos membros inferiores ou abdominais;
            Ø febre moderada.

            As crianças são encaminhadas para terapia psiquiátrica quando as medidas de apoio habituais não conseguiram o retorno da criança à escola ou a redução dos sintomas.
            Na terapia deve ser coordenado um programa envolvendo a escola, os pais e a criança, para reduzir o uso de fuga e manipulação pela criança.
            O segundo grupo com fobia escolar é o de alunos de 12 a 14 anos com uma apresentação crónica insidiosa. Esses adolescentes podem apresentar-se com um quadro misto de sintomas de ansiedade e depressão. Metade desses adolescentes satisfaz totalmente os critérios para um episódio depressivo maior e um transtorno de ansiedade.
O padrão sintomático é característico, com sintomas mais comuns no Outono do que na Primavera, mais comuns nas segundas-feiras do que nas sextas-feiras, e mais prevalentes pela manhã do que à medida que o dia avança, especialmente se a criança convence os pais de que deveria ficar em casa. Os sintomas estão ausentes no Verão e no fim-de-semana.
Uma característica surpreendente da fobia escolar é o desaparecimento imediato dos sintomas quando a criança tem evidências de que vão deixar que ela permaneça em casa, como já foi referido. Se o problema persistir, deve-se recomendar a ajuda de um especialista.


2.4 - DIAGNÓSTICO

            Antes que o diagnóstico de transtorno fóbico possa ser feito, a presença de outros transtornos que possam causar medos irracionais e comportamentos evitatívos deve ser excluída.
            Quer a ansiedade quer a fobia sempre foram associadas à construção de significações de perigo ou ameaça. Por exemplo, para DOLLARD e MILLER (1950) a ansiedade e o medo constituem respostas semelhantes, diferindo apenas na capacidade da pessoa para identificar o que provoca a ameaça.
            A expressão emocional da fobia pode variar da sensação vaga de ansiedade ao terror ou pânico.
            Para  WHALEY (1985) “a emergência do medo exagerado ou a sua intensidade emocional dependem por um lado, da avaliação da plausibilidade do contacto efectivo com o objecto e/ou situação fóbica e, por outro’ da avaliação dos recursos próprios ou das ajudas exteriores para os enfrentar. Em geral, quanto mais perto, no tempo e no espaço, e menos recursos, há mais receio e mais atitudes de evitamento e fuga.”
            Muitos medos da infância derivam da chamada causalidade mágica que corresponde a uma atribuição de poderes animistas e psicológicos e fenómenos físicos. Mas, também, a uma indiferenciação entre a realidade e a fantasia, quase sempre consequência das narrativas atemorizantes ou das superstições, que são transmitidas à criança.
A DSM – IV propõe uma lista de comportamentos que facilitam a identificação dum diagnóstico de quadro fóbico. A lista engloba aspectos como:
            Ø medo persistente de estímulo limitado (excepção ao ataque de pânico) ou de situação social generalizada;
            Ø A exposição ao estímulo fóbico provoca intensa ansiedade;
            Ø O objecto fóbico é evitado;
            Ø Há reconhecimento da irracionalidade do medo;
            Ø O medo e/ou o evitar interferem na rotina normal;
            Ø O medo não se relaciona a obsessões ou ao stress pós-traumático.

            Crianças com transtorno de conduta manifestam comportamentos como mentira, furtos, fuga de casa ou violação das regras de casa ou da escola. Porém, crianças com fobia escolar geralmente demonstram um alto padrão de trabalho e comportamento na escola em comparação com crianças com transtorno de conduta, cujos padrões de trabalho são frequentemente insatisfatórios.
            Enquanto que as crianças “gazeteadoras” entram pela porta da frente da escola e rapidamente saem pela porta de trás, as crianças com fobia escolar nem sequer chegam à porta da frente.


2.5 - TRATAMENTO

            A maior parte das fobias que se iniciam na infância tendem a desaparecer sem tratamento.
            O tratamento do distúrbio envolve o tratamento dos problemas psiquiátricos subjacentes, terapia familiar, treino da assistência parenteral e trabalho conjunto com a escola da criança.
            É importante detectar os sintomas precocemente de modo a intervir-se rapidamente. Deixar que a criança falte à escola temporariamente, valida e apoia os seus medos. Quanto mais tempo uma criança com fobia escolar permanecer em casa, mais difícil será para a criança retornar à sala de aula. É necessário diminuir a atracção de ficar em casa e aumentar a atracção de ir para a escola.
Os professores particulares em casa são contra-indicados pelas seguintes razões:
            Ø receber educação em casa torna-se confortável demais para uma criança ansiosa;
            Ø retornar à escola é frequentemente mais difícil após o estudar em casa.
           
            O tratamento à fobia escolar engloba uma abordagem tripartida que é constituída por: tratamento comportamental, consultadoria à escola, medicação e psicoterapia.


2.5.1     - Tratamento comportamental

O reingresso de uma criança na escola é realizado com um programa comportamental. Neste modelo a criança identifica os estímulos para medos e ansiedade.
No condicionamento clássico, os medos são tratados por dessensibilização.
Dessensibilização envolve terapia de relaxamento. A criança aprende a usar uma resposta de relaxamento enquanto introduz pensamentos e imagens que anteriormente provocavam ansiedade. O terapeuta geralmente fica com o paciente na escola antes de passar a responsabilidade para os pais.
Com o método operante o comportamento desejado é reforçado, poe exemplo o retorno à escola é reforçado. Assim, o sistema de reforço é reorganizado para diminuir o medo da criança de deixar a mãe, para encorajar o regresso à escola.
Segundo estudos efectuados por BLAGG e YULE (1984) a teoria comportamental incluía um esclarecimento profundo dos problemas das crianças, dos pais e dos professores e acompanhamento. A teoria comportamental foi mais efectiva para diminuir a ansiedade de separação e facilitar um regresso e permanência na escola. A terapia comportamental foi mais económica, mais rápida e menos intrusiva que os outros dois tratamentos.

2.5.2 - Consultoria à escola

A consultoria à escola é uma parte integral do tratamento. Um funcionário da escola (assistente social, supervisor, professor de educação especial, enfermeiro ou administrador) deveria estar envolvido no planeamento e instituição de um programa comportamental e reingresso. É aconselhável designar uma pessoa-chave na escola a quem a criança possa recorrer se for necessário apoio emocional.
Se os sintomas forem extremos e a criança não for capaz de funcionar o tempo todo numa classe normal, é recomendado o encaminhamento para uma classe emocional e comportamentos perturbados. Os professores nessas classes são treinados para trabalhar com crianças que têm necessidades emocionais especiais.
O encaminhamento para instrução de tempo integral numa escola especial ou para tratamento residencial é reservado para crianças que não melhoram nos locais menos restritivos.


2.5.3 - Farmacoterapia e Psicoterapia

            Diversos estudos têm avaliado a eficácia de medicação em crianças com fobia escolar. FROMMER (1967) empregou um modelo cruzado que comparava fenelzina e clordiazepóxido com fenobarbital. O tratamento de combinação revelou-se superior ao fenobarbital isolado. Os resultados deste estudo são encorajadores, mas devem ser vistos com cautela.
            GITTELMAN-KLEIN (1973) efectuaram estudos com imipramina sendo 100-200 mg/dia significativamente melhor que o placebo usado como controlo, para levar as crianças de retorno à escola.
            ABE (1975) relatou a administração de sulpiride a 21 crianças com fobia escolar e sintomas depressivos que fracassaram na psicoterapia ou no tratamento comportamental.
            Experiências na School Refusal Clinic sugerem que tanto o alprazolam, uma nova diazepina, como a imipramina são úteis no tratamento da fobia secundária à ansiedade e depressão.
            Uma terapia individual ou familiar pode ser indicada como foco no papel do indivíduo, comunicação e solução de problemas entre os membros da família. Na terapia familiar, o tema família deve ser abordado como um sistema interactivo. O objectivo da família deve ser o retorno da criança à escola.


2.5.4 – Técnicas para recuperar da fobia escolar

Ø O QUE OS PAIS DEVEM FAZER:
·         Conversar bastante com a criança, explicando-lhe tudo o que poderá acontecer com ela, sem omitir dados ou inventar histórias;
·         Dar autonomia e liberdade necessárias à criança, para que descubra o que a escola lhe pode oferecer, sem criar grandes expectativas quanto ao universo escolar;
·         Levar a criança à escola antes do começo do ano lectivo, uma vez que, esta iniciativa faz com que ela começa a familiarizar-se com o ambiente escolar;
·         Conhecer o professor da criança e as pessoas que estarão a trabalhar na escola.

Ø O QUE OS PAIS NÃO DEVEM FAZER:
·         Nunca devem demonstrar a sua ansiedade aos filhos e, sim, reagir com naturalidade no primeiro contacto com a escola;
·         É fundamental que os pais nunca se atrasem para ir buscar os filhos à escola, de forma a que eles não tenham a sensação de que não vão voltar para casa. Os filhos sentem-se mais seguros ao ver os pais à porta da escola;
·         Ao deixar a criança à porta da escola, os pais não devem usar estratégias para a distrair de forma a poderem ir embora. Mesmo que a criança chore, é melhor que veja os pais a irem embora, do que pense que eles desapareceram de repente;
·         No período de adaptação escolar da criança, os pais não devem deixar de levá-las à escola;
·         Não devem mudar os hábitos da criança durante o período de adaptação escolar.

Ø O PAPEL DA ESCOLA NA RESOLUÇÃO DA FOBIA:
Como segundo “lar” das crianças, a escola deve permitir que os alunos tenham
O papel da escola é fundamental para que a fobia escolar seja reduzida. liberdade e autonomia para agir, sem deixar de lado as regras necessárias à boa manutenção da ordem e do bom comportamento dos alunos.
É também, necessário que o ambiente escolar seja transformado, por cada professor, num lugar onde a criança possa sentir-se segura e que saiba que pode contar com a ajuda dos funcionários e dos professores sempre que precisar.
A realização de reuniões com os pais todos os períodos, para a obtenção de informação, pode também contribuir para a resolução deste distúrbio. (MACHADO, 2004)


2.6 – EVOLUÇÃO/PROGNÓSTICO

            Crianças pequenas (5 a 7 anos) com recusa escolar de início agudo, frequentemente têm ansiedade de separação pura e um bom prognóstico. Elas tendem a responder bem à intervenção comportamental.
            Estudos longitudinais indicam que a maioria das crianças com recusa escolar volta para a escola. RODRIGUEZ e seus colaboradores (1959) demonstraram que o prognóstico para o retorno bem sucedido à escola é melhor com as crianças mais jovens. 89% das crianças com menos de 11 anos, na época da apresentação inicial, estavam a comparecer à escola regularmente no acompanhamento. Apenas 36% das crianças com mais de 11 anos demonstravam um retorno bem sucedido à escola.
            Em épocas de maior stress, em muitas crianças, poderá observar-se uma suave exacerbação dos sintomas. Algumas não terão recorrência dos sintomas; uma pequena percentagem de adolescentes pode progredir para a forma crónica, severa de recusa escolar, com sintomas de ansiedade e depressão. A apresentação insidiosa de recusa escolar no início da adolescência tem um prognóstico muito mais comedido. Muitos desses adolescentes sofrem exacerbações e remissões durante muitos anos, com o desenvolvimento de um transtorno crónico.
As consequências funcionais incluem perda de amizades normais, perdas académicas e relações pais-filho disfuncionais. (GARFINKEL, 1992)
            Uma abordagem directiva, com imposição de limites enfatizando o rápido retorno à escola com apoio emocional para a criança e recompensas por comportamento escolar adequado é geralmente efectiva. Isto é, se se fizer cumprir a regra da criança ir à escola diariamente, o problema da fobia escolar melhorará de forma notável, em 1 ou 2 semanas. Em contrapartida, se não se exigir que a criança frequente a escola diariamente, os sintomas físicos e o desejo de ficar em casa tornar-se-ão mais frequentes. Quanto mais tempo a criança ficar em casa, mais difícil será ela retornar à escola. A vida social e a educação futura da criança poderão ficar afectadas.

3 - CONCLUSÃO

Com este trabalho procurou-se desenvolver de uma forma clara, objectiva e completa o tema que nos foi proposto estudar: ”Fobia Escolar”.
Para tal recolheu-se toda a bibliografia considerada pertinente para elaborar um trabalho completo sem, no entanto, se tornar exaustivo. Assim sendo, tentou-se destacar os elementos essenciais clarificando termos e conceitos para uma melhor compreensão dos mesmos.
Ao longo da elaboração do trabalho, as expectativas em relação ao tema foram superiores às iniciais tornando-se para nós mais aliciante abordá-lo.
Estamos conscientes de que todos os conhecimentos, principalmente os da área da Saúde, estão em constante desenvolvimento e aperfeiçoamento que facultam modificações importante ao nível da Enfermagem – o que sabemos hoje e que defendemos como certo, pode estar perfeitamente ultrapassado amanhã.

4– BIBLIOGRAFIA


Ø CHARDIN, T. – Fobia escolar gera aposentadoria precoce [em linha]. Brasil. 2003. [citado em 27 de fevereiro de 2004]. Disponível em <URL: www.espacoacademico.com.br/027/27ray.htm

Ø  GARFINKEL, Barry, D. – Transtornos psiquiátricos na infância e Adolescência. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. 475p.

Ø MACHADO, Katia; AZEVEDO, Simone – Pânico de Escola: Uma Realidade [em linha]. Brasil [citado em 27 de Fevereiro de 2004]. Disponível em < URL: http// www.appai.org.br/Jornal_Educar/Jornal16/comportamento/22e23/boxp%E2nico2.htm.

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