O que preocupa os pais? Febre, vómitos, diarreia e convulsões (Parte 1)

1 - INTRODUÇÃO

 

Para que a profissão de enfermagem cresça, é muito importante aperfeiçoar a prestação dos cuidados. Para tal, o enfermeiro tem que possuir conhecimentos sobre a criança e as situações clínicas que possam ocorrer, o que vai permitir um melhor planeamento de cuidados individuais e actuar da melhor forma na execução dos mesmos perante cada criança.
Como alunos do 3º. Ano/2º.semestre da E.S.Enf.Viseu, a frequentar o ensino clínico VII, que decorre no Centro de Saúde de Mortágua, propusemo-nos a realizar um trabalho acerca de “O que preocupa os pais?”. Assim, neste estudo iremos abordar a febre, vómitos, diarreia e convulsões, uma vez que são estas as situações clínicas que mais ocorrem nas crianças, levando frequentemente os pais às urgências. Estas ocorrências constituem uma das principais causas de morbilidade no meio infantil, pelo que se torna importante conhecê-las bem, de forma a que se possam prestar melhores cuidados e elucidar os pais sobre as condutas que devem adoptar, e em que casos deverão estes recorrer às urgências pediátricas.
Assim, pretendemos atingir os seguintes objectivos:
- Aprofundar conhecimentos sobre a febre, vómitos, diarreia e convulsões;
- Identificar os mecanismos desencadeadores dos quadros clínicos;
- Identificar as respectivas causas;
- Conhecer as manifestações clínicas e complicações das situações em causa;
- Elaborar cuidados de enfermagem em cada uma das situações;
- Avaliar progressivamente o estado da criança;
- Melhorar a prestação de cuidados a crianças com as situações clínicas descritas;
- Elucidar os pais sobre, quais as medidas a tomar, e quais as situações em que deverão levar os seus filhos às urgências pediátricas;
Para uma melhor compreensão e análise, optámos por organizar este trabalho em quatro capítulos:
- Capítulo I – Febre
- Capítulo II – Vómitos
- Capítulo III – Diarreia
- Capítulo IV – Convulsões
Para a realização deste trabalho e para atingirmos os objectivos a que nos propusemos, tornou-se necessária a recolha de informação. A metodologia utilizada para a realização deste trabalho baseou-se na pesquisa bibliográfica e pesquisa on-line.       

2 - FEBRE
A febre é o sintoma mais frequente e o principal motivo da procura de cuidados médicos de pediatria, constituindo muitas vezes, motivo de ansiedade para os pais. Desaparece, habitualmente, com a cura da doença que lhe deu origem.
Embora não seja uma doença nem constitua por si só um diagnóstico, ela começa a tornar-se preocupante, quando se prolonga sem que possa ser explicada.
Se, num bom número de situações, a febre é clinicamente a consequência duma afecção bem aparente ao médico, outras vezes há, e são frequentes, que não é possível conhecer a sua etiologia.
É muitas vezes o primeiro sinal detectável, e por vezes o único, raramente passando despercebida dada a mudança de comportamento da criança.
É geralmente aceite que a temperatura normal, não superficial, pode variar aproximadamente entre 36,2 e 37,8ºC. Estes valores variam de criança para criança e também conforme as várias horas do dia, o exercício físico, as refeições e o calor ambiente. (FIGUEIREDO, 1985)

2.1 - CONCEITO

A febre, segundo os conhecimentos de que se dispõe actualmente, corresponde a um equilíbrio termoregulador, estabelecido a um nível de temperatura mais elevado que o normal. (MANSO, 1986)
Considera-se febre, temperatura superior a 38ºC. (DUARTE, 1988)

2.2 – concepções dos pais acerca da febre

As concepções dos pais acerca da febre estão, muitas vezes, associadas com preconceitos, transmitidos normalmente pela tradição, frequentemente mistificados. As atitudes dos pais em relação à mesma reflectem estas concepções.
Cerca de 53% dos pais consideram febre, temperaturas inferiores a 38ºC; 66,6% opinaram que temperaturas inferiores a 40ºC podem ser por si só perigosas para as crianças. 31,5% acreditam que o termómetro pode subir a valores iguais ou superiores a 42ºC, se a criança febril fosse deixada sem tratamento.
21% dos pais consideram a meningite o principal perigo da febre. 37% acreditam que as complicações da febre podem surgir para temperaturas inferiores a 40ºC.
34% dos pais procuram baixar a temperatura aos seus filhos, quando ela é inferior a 38ºC. 75% dos pais acordam os seus filhos, durante a noite, para lhes baixar a temperatura. Os métodos mais utilizados para baixar a temperatura consistem na utilização do paracetamol e no despir a criança.
Cerca de 70% dos pais responderam que apenas algumas vezes é necessário a administração de antibióticos quando a criança tem febre, afirmando cerca de metade (50,7%), que é a presença de «infecção» que deve ditar a sua administração. (DUARTE, 1988)

2.3 - REGULAÇÃO DA TEMPERATURA

A temperatura corporal depende de um balanço entre a produção e a perda de calor.
A produção de calor ou termogénese decorre da actividade metabólica da massa celular activa, que não deve ser inferior a um mínimo designado por metabolismo basal. É no fígado e músculos voluntários que a maior parte do calor é produzido. Se houver necessidade de maior produção de calor, a actividade muscular pode aumentar até ao arrepio, calafrio ou até contractura persistente.
A perda de calor, ou termólise, faz-se por várias vias, principalmente pela superfície corporal: por convecção e evaporação. É pela variação do volume de sangue circulante na superfície do corpo que se processa o principal método de regulação de calor. Assim, uma circulação rica na pele e tecido celular subcutâneo, concomitante com um aumento de sudação, concorrem para elevar as perdas de calor. Pelo contrário, há vasoconstrição periférica para conservar calor e diminuir as perdas. A regulação da temperatura corporal, integrando os vários processos físicos e químicos, para a produção ou perda de calor, é função dum centro cerebral que se situa no hipotálamo. Este centro de termoregulação depende:
1.      da temperatura do sangue que perfunde esse centro.
2.      impulsos recebidos dos termoreceptores periféricos.
(FIGUEIREDO, 1985)

2.4 - PATOLOGIA DA FEBRE

A febre é consequência de uma infecção ou inflamação, ocasionadas por uma grande variedade de microorganismos (bactérias, vírus, fungos, etc) e por muitas reacções inflamatórias (lesões tecidulares, enfartes, malignidade, reacções antigénio-anticorpo). Nestas situações, produzem-se substâncias pirogénicas, que vão alterar o controle da temperatura central.
Os pirogéneos podem agrupar-se em duas categorias:
·         Pirogéneos exógenos – exteriores ao organismo, tais como as produzidas pelos agentes infecciosos.
·         Pirogéneos endógenos – os macrófagos activados quer por pirogéneos exógenos, quer por factores endógenos vão libertar os pirogéneos endógenos que entram em circulação e actuam no hipotálamo, no centro de termoregulação, para fazer diminuir as perdas de calor e elevar a sua produção, provocando a subida da temperatura corporal, a febre.
                                                                                                              (FIGUEIREDO, 1985)
A maioria das doenças infecciosas provoca febre. Ela é um facto positivo que ajuda ao restabelecimento da infecção pois vírus e bactérias não suportam temperaturas elevadas.

2.5 - TRATAMENTO DA FEBRE / MEDIDAS A TOMAR

A febre só por si não requer tratamento se for igual ou inferior a 38ºC, excepto na criança com convulsões, ou outra síndrome de disfunção cerebral.
Contudo, há que não ignorar os possíveis malefícios da febre: desconforto, perturbações digestivas, elevação do trabalho e da frequência cardíaca, convulsões, delírio, etc.
O objectivo da acção do enfermeiro, perante uma criança febril, será procurar estabelecer o diagnóstico da doença febril subjacente, excluir uma doença grave, aliviar o desconforto associado com a febre, manter a criança hidratada oferecendo líquidos, diminuir o risco de convulsões febris, nas crianças susceptíveis, vigiar o estado geral e fazer o encaminhamento para o médico.
Deve-se explicar o porquê das atitudes a tomar, pois só assim se consegue minorar a ansiedade dos familiares. Há que esclarecer sobretudo:
a)      que a intensidade da febre geralmente não é proporcional à gravidade da doença;
b)      que os agentes etiológicos mais frequentes são os vírus;
c)      que as complicações mais frequentes da hipertermia são:
1)      disfunção cerebral aguda sem convulsão;
2)      perda excessiva de água que leva à hipernatrémia com risco de convulsões e de derrame sub-dural.
                                                                                                         (MENDES, 1980)

2.5.1 - Avaliação da Temperatura

Até aos 5 anos a temperatura deve ser avaliada inicialmente na «axila» (previamente seca); caso seja superior a 37,2ºC deve registar-se a temperatura rectal. Nas crianças com idade superior a 5 anos regista-se a temperatura axilar, uma vez que a avaliação da temperatura oral não é muito usual, no nosso país.                                                                                                                                (DUARTE, 1988)

2.5.2 - Conduta terapêutica

Actualmente podemos constatar a necessidade da promoção de programas visando a informação dos pais acerca da febre e das atitudes a ter perante as mesmas.
Em linhas gerais, esta orientação, deverá atender aos itens seguintes:
1)      Recomendar o uso de antipiréticos, só se a temperatura exceder os 38ºC e a criança demonstrar desconforto.
2)      Promover o arrefecimento físico, desagasalhando a criança e arrefecendo o ambiente. Evitar a utilização de água fria ou álcool no arrefecimento físico da criança, pois podem provocar o coma. Eles geram desconforto, desencadeiam o arrepio e condicionam vasoconstrição, que se traduzem, respectivamente, em produção de calor e compromisso da termólise, com consequente aumento da temperatura corporal.
3)      Elucidar sobre situações que quando presentes numa criança febril, deverão levar à procura de cuidados médicos, tais como: menos de 3 meses (excepto se for após a vacina), febre igual ou superior a 40ºC, febre há mais de 72 horas, febre que volta após 24 horas de apirexia, choro inconsolável, dificuldade em acordar, confusão ou delírio, convulsões, rigidez do pescoço, manchas roxas na pele, respiração difícil que não melhora após limpeza nasal.
4)      Encorajar a ingestão de líquidos.
5)      Não administrar antibióticos se não indicados pelo médico.
                                                                                                                           (MENDES, 1980)

2.5.3 - Antipiréticos

A utilidade dos antipiréticos nos estados febris advém da sua capacidade de actuação sobre o centro termoregulador, baixando neste o ponto de equilíbrio térmico.
No caso de a temperatura não baixar, deve dar-se à criança:
1)      Paracetamol, quer em forma de soluto ou, para melhor comodidade de administração, sob a forma de supositórios. A dose é também, neste caso, estabelecida em função do peso (15 mg/kg) e deve ser administrado de 6 em 6 horas ou de 8 em 8 horas.
2)      Ibuprofeno, este só deve ser administrado após os 6 meses de idade. A dose deve ser de 5 a 10 mg/kg, de 8 em 8 horas.
Este tratamento não é sistemático e assenta sobretudo na apreciação do médico. 

3 - VÓMITOS

Os vómitos na criança são outro dos principais motivos de recorrência aos serviços de urgência. Surge assim a necessidade de os pais diferenciarem os diferentes tipos de vómito, quais as suas causas, quais os sinais de alarme e ainda as atitudes a tomar perante uma crise de vómitos.

3.1 - CONCEITO

Antes de mais é necessário diferenciar três conceitos fundamentais: náuseas, regurgitação e vómitos.
Náusea é uma sensação desagradável de vontade de vomitar. Geralmente é sentida na parte superior do abdómen. Varia em intensidade e pode ou não ser seguida de vómito.
Regurgitação é definida como expulsão não-forçada de alimentos e secreções do esófago ou do estômago pela boca. Não se observa a presença de náuseas ou esforço abdominal na eliminação dos alimentos.
Nas primeiras semanas de vida, muitos bebés regurgitam uma ou mais vezes por dia, pouco tempo após a amamentação. Denomina-se regurgitação fisiológica a situação na qual a criança não apresenta outros sintomas, a evolução ponderal é normal e a diminuição gradativa das regurgitações ocorre ao longo do tempo, cessando por volta dos sete a oito meses de idade. Refluxo gastroesofágico fisiológico e erros de técnica alimentar são as causas mais comuns de regurgitação no lactente.
Vómito é a expulsão forçada de alimentos e secreções do tracto gastrointestinal alto pela boca, acompanhada por contracção intensa dos músculos abdominais. Representa um método destinado a eliminar substâncias agressivas do tracto gastrointestinal superior. (ZUCCOLOTTO e GOMES, 2001)

3.2 - Fisiopatologia

O vómito é provocado pela descida violenta do diafragma e a constrição dos músculos abdominais com relaxamento do cárdia gástrico, forçando o conteúdo gástrico de volta para o esófago. Este processo é coordenado no centro bulbar do vómito, o qual é influenciado directamente pela enervação aferente e indirectamente pela zona do gatilho quimiorreceptora e centros superiores do sistema nervoso central (SNC). Muitos processos agudos ou crónicos podem causar vómitos. Os vómitos são afectados por vários estímulos podendo estes ser de origem física, química ou psíquica.
Após a estimulação do centro do vómito inicia-se o reflexo que desencadeia as seguintes respostas:
1.      inspiração profunda;
2.      o osso hióide e a laringe elevam-se. Abrindo o esfíncter esofágico superior;
3.      a abertura da laringe fecha;
4.      eleva-se o véu do palato, fechando as coanas superiores;
5.      o diafragma e os músculos abdominais contraem-se violentamente, comprimindo fortemente o estômago e aumentando a pressão intra-gástrica;
6.      o esfíncter esofágico inferior relaxa-se;
7.      o conteúdo gástrico é forçado para fora do estômago, passando através do esófago e da cavidade oral para o exterior – vómito – acto reflexo que se processa em resposta aos vários estímulos.

3.3 - Etiologia

O vómito pode ser a principal queixa que leva a criança ao médico ou aparece como parte do quadro clínico de diversas doenças, com importância variável no conjunto dos sintomas. Assim, como são muitas as situações e doenças que determinam esse sintoma, o conhecimento das faixas etárias em que predominam, facilita a abordagem diagnóstica da criança.

Quadro 1 - Causas de vómitos por faixa etária

No primeiro mês de vida

  1. Regurgitação fisiológica
  2. Refluxo gastroesofágico fisiológico
  3. Técnica alimentar inadequada
  4. Doença do refluxo gastroesofágico associada ou não a hérnia do hiato
  5. Outras:
5.1.   Quadros obstrutivos congénitos ou adquiridos ou quadros inflamatórios do esófago, piloro ou intestino
5.2.   Doença metabólica (erros inatos do metabolismo)
5.3.   Doença endócrina (hiperplasia congénita da supra-renal

Lactente

1.     Regurgitação fisiológica
2.     Refluxo gastroesofágico fisiológico
3.     Técnica alimentar inadequada
4.     Doença do refluxo gastroesofágico associada ou não à hérnia do hiato
5.     Enteroparasitoses (giardíase)
6.     Outras:
         6.1. Quadros obstrutivos congénitos ou adquiridos ou quadros inflamatórios do esófago, piloro ou intestino
         6.2. Doença metabólica (erros inatos do metabolismo)
6.3.      Doença endócrina (hiperplasia congénita da supra-renal

Pré-escolar

1.      Cinetose
2.      Sub-oclusão ou oclusão intestinal por ascaris
3.      Hepatite viral
4.      Síndrome do vómito cíclico
5.      Vómitos psicogénicos
6.      Gastrite erosiva secundária
7.      Úlcera péptica secundária

Escolar

  1. Vómitos psicogénicos
  2. Enxaqueca
  3. Síndrome do vómito cíclico
  4. Gastrite erosiva secundária
  5. Úlcera péptica secundária

Adolescência

  1. Gravidez
  2. Enxaqueca
  3. Anorexia nervosa/bulimia
  4. Úlcera péptica

Em qualquer idade

  1. Aparelho Respiratório
1.1.infecções respiratórias
1.2.tosse
1.3.gotejamento retronasal e secreção faríngea
  1. Aparelho Gastrointestinal
                 2.1. gastroenterite aguda
                 2.2. hérnia inguinal encarcerada
                 2.3. intoxicação alimentar
                 2.4. esofagite
                 2.5. pancreatite
                 2.6. colecistite
  1. Aparelho Genitourinário
       3.1. litíase
       3.2. pielonefrite aguda
 3.3. uremia – insuficiência renal crónica
       3.4. tubulopatias
  1. Sistema Nervoso Central
              4.1. meningite, encefalite
  1. Sistema Endocrinológico
              5.1. cetoacidose diabética
  1. Miscelânia
       6.1. intoxicação medicamentosa acidental
       6.2. efeito colateral de algumas drogas, como sulfato ferroso, antibióticos e outras


















































Fonte: WWW.ids-saude.org.br/medicina

 

3.4 - história clínica

A colheita de dados é extremamente importante, pois irá fornecer, por si só, a maioria dos elementos de orientação. É mesmo, na maior parte dos casos, essencial para o diagnóstico.
Desta forma, a anamnese inicia-se com a diferenciação entre vómito verdadeiro e a regurgitação gástrica. No vómito verdadeiro o doente expele a maior parte do conteúdo gástrico enquanto que na regurgitação isso não acontece, estas são eliminações de pequenas quantidades de alimento logo após a sua ingestão.
Após esta diferenciação é também importante identificar o tipo de vómito, as suas circunstâncias (data, modo como surgiu, contexto e factores favorecedores – regime alimentar, horários e influência da posição), as características do vómito (conteúdo – alimentar ou bilioso, a quantidade, a frequência e ritmo em relação às refeições), os sinais e sintomas associados e a sua repercussão sobre o estado geral, nomeadamente na evolução ponderal da criança.
O interrogatório permite às vezes concluir que se trata, com frequência, não de vómitos verdadeiros mas sim da rejeição de resíduos mal digeridos.
O exame clínico é também muito importante, deve ser completo, cuidadoso e bem feito. Contudo, convém insistir sobre três pontos:
1.      apreciação da repercussão dos vómitos sobre o estado geral, o estado de hidratação e o estado trófico da criança.
2.      exame atento do abdómen: verificar se há um aumento do volume, se está livre ou se apresenta ondulações peristálticas.
3.      o último ponto, por vezes esquecido, mas rico em ensinamentos, é o de observar a criança a beber e observar também o comportamento mãe-filho.

3.5 - Tipos de Vómito

De acordo com as circunstâncias em que ocorre e de acordo com as suas características, o vómito pode ser classificado de diferentes maneiras.

3.5.1 - Quanto às circunstâncias em que ocorre:

·         Vómito ocasional: quando a criança apresenta um bom estado geral e mantém o apetite, embora vomite uma a duas vezes por dia. Geralmente encontra-se associado a uma má técnica e movimentos inapropriados durante as refeições.
·         Vómito persistente: geralmente significa uma alteração que deve ser vista pela pediatria, pois este tipo de vómito provoca desidratação e desequilíbrio hidroelectrolítico, que podem levar à morte da criança se não tratada.

3.5.2 - Quanto às suas características:

·         A êmese pós-pandrial é comum nas crianças com gastroenterite aguda, mas também pode indicar obstrução intestinal.
·         O vómito pós-tussígeno é comum nas afecções como a asma e a coqueluche.
·         O vómito em jacto, que aparece a partir do 15º dia de vida pode estar associado a estenose pilórica ou lesão cerebral.
·         A presença de bílis no vómito nunca é “normal” e sempre sugere a possibilidade de uma lesão obstrutiva, especialmente em lactentes.
·         A presença de sangue no vómito pode indicar hemorragia digestiva, embora se deva sempre diferenciar o sangue propriamente dito, de substâncias com as quais ele pode ser facilmente confundido.
·         O vómito castanho, semelhante a borras de café é resultante da digestão parcial do sangue pelos sucos gástricos. Este sangue pode ter origem no estômago ou ter sido deglutido do nariz, boca ou garganta.
·         O vómito com odor fecal indica obstrução gastrointestinal inferior, sendo de natureza grave.

3.6 - sinais e sintomas

Quando o vómito é a principal ou única manifestação, inicialmente, é preciso caracterizar se o quadro é ocasional ou persistente.
No quadro agudo, o vómito pode ser a manifestação clínica inicial, mas logo aparecem outros sintomas que permitem definir o diagnóstico como nos casos de gastroenterite aguda viral, bacteriana ou por enteroparasitose, intoxicação alimentar e hepatite viral.
Assim, deve-se sempre questionar os pais quanto a sintomas gastrointestinais associados, tais como, náuseas, diarreia e obstipação.
Outros sintomas que devem ser pesquisados incluem: febre, cefaleia, disúria, dor no flanco e queixas ginecológicas.

3.7 - tratamento

3.7.1 - Vómitos ocasionais

Para o tratamento inicial do quadro agudo de vómitos, sem etiologia definida e sem outros sinais ou sintomas de gravidade, recomenda-se pausa alimentar de curta duração, por uma ou duas horas, mantendo-se a oferta de líquidos, água e chás, em pequena quantidade, que são melhor tolerados quando gelados ou à temperatura ambiente. Em seguida inicia-se a reintrodução da dieta adequada para a idade, em pequena quantidade e a intervalos menores do que o habitual. Quando o vómito se associa à diarreia e desidratação mantém-se a pausa alimentar durante a fase de reidratação e não devem ser administrados antieméticos.
Os antieméticos podem ser utilizados nos casos em que se conhece a etiologia do vómito, como no caso de amigdalite aguda, otite média aguda, sinusite e, em alguns casos de cinetose. Estes devem ser utilizados com cautela, dado que podem mascarar os sintomas, dificultando assim o diagnóstico precoce.
Os antieméticos mais utilizados são o dimenidrinato e a metoclopramida.

3.7.2 – Vómitos persistentes

Para os lactentes nos quais são identificados erros de técnica alimentar, são feitas as orientações adequadas e marcada nova consulta para verificar a evolução do quadro e a aderência às orientações.
Para as crianças com suspeita de refluxo gastroesofágico (RGE) a abordagem terapêutica visa a melhoria dos sintomas, a prevenção dos processos aspirativos pulmonares e a instalação ou a progressão da esofagite.
As medidas terapêuticas a adoptar são:
·         É fundamental a tranquilização dos pais, explicando-se a normalidade da situação. Geralmente as medidas posturais são suficientes para diminuir a sintomatologia (decúbito lateral elevado a 45-60º, evitando-se a posição de bruços para dormir, evitar o uso de roupas apertadas, bem como a manipulação das crianças após as refeições).
·         Na reavaliação, se não houver melhoria significativa dos sintomas, deve-se verificar, primeiramente, se houve adesão adequada da família em relação ao decúbito elevado e, nesses casos, instituir tratamento dietético. Alguns alimentos devem ser evitados por diminuírem a pressão do esfíncter inferior do esófago, como chás, café, chocolate, frutas cítricas, gema de ovo, alimentos gordurosos e fritos. No entanto, deve-se ter o cuidado de avaliar o valor proteico, calórico e vitamínico resultante da dieta proposta, para que não haja prejuízo nutricional da criança. Dessa forma, antes de se excluir, por exemplo, a gema de ovo, deve-se ter o cuidado de verificar a possibilidade de a substituir por outro alimento de valor nutritivo semelhante. Água e sumos cítricos não devem ser oferecidos às refeições, para diminuir a distensão estomacal.
·         Numa nova avaliação, se não houver melhoria clínica significativa, apesar de as medidas adoptadas estarem a ser feitas de modo correcto, pode-se instituir o tratamento medicamentoso, com reavaliação posterior. Se houver melhoria clínica, o tratamento medicamentoso deve ser mantido por pelo menos oito semanas e as medidas posturais e dietéticas, mantidas até seis meses após o desaparecimento dos sintomas.
Quadro 2 – Condutas nas crianças com quadros clínicos graves de vómitos
Quadros graves
Conduta
1. vómitos biliares
2. vómitos fecalóides
3. vómitos com sangue vivo
4. suspeita de intoxicação medicamentosa
5. ingestão de corpos estranhos ou de produtos químicos
1.      não dar antieméticos
2.      não dar antibióticos
3.      manter jejum
4.      procurar imediatamente ajuda médica











ZUCCOLOTTO e GOMES, 2002


1.8  Complicações dos vómitos
Os vómitos podem apresentar-se associados tanto a complicações mecânicas como metabólicas, apesar de estes servirem ocasionalmente para expulsar material nocivo do estômago.
As complicações metabólicas dos vómitos resultam de um desequilíbrio hidroelectrolítico, por perda de água e electrólitos no material vomitado. Isto acarreta alcalose metabólica e hiponatrémia.
O acto de vomitar produz uma tensão nos músculos abominais e em alguns doentes, no pós-operatório pode provocar a abertura da incisão, deiscência da mesma ou hemorragia. Os vómitos são especialmente perigosos em doentes anestesiados, pessoas em coma e bebés, uma vez que pode haver aspiração do conteúdo para os pulmões. Esta aspiração pode causar asfixia, atelectasia ou pneumonia.

3.9 – intervenções de Enfermagem

Quando bem planeada, a assistência de enfermagem assume grande importância na neutralização de efeitos negativos sobre o doente que atravessa um quadro de vómitos. Essa assistência tem que ser ajustada aos problemas individuais de cada um.
Assim sendo, os cuidados que devem ser prestados são:
1.      investigar os episódios de vómitos:
1.1.duração;
1.2.frequência;
1.3.quantidade e aparência do vómito;
1.4.medidas de alívio.
2.      instituir medidas que protejam e dêem conforto à criança:
2.1.proteger contra o risco de aspiração;
2.2.verificar a higiene da criança e do ambiente (agradável).
3.      reduzir e eliminar os estímulos nocivos:
3.1.dor
3.1.1.      planear o atendimento de forma a que os procedimentos dolorosos não ocorram antes das refeições;
3.1.2.      medicar a criança para a dor meia-hora antes das refeições, de acordo com as ordens médicas;

3.2.fadiga:
3.2.1.      ensinar ou auxiliar a criança a descansar antes das refeições;

3.3.odor:
3.3.1.      diminuir ou eliminar os odores nauseantes;
3.3.2.      ensinar os pais a evitar cozinhar alimentos de odor forte (fritos e peixe)
4.      diminuir a estimulação do centro dos vómitos:
4.1.mudar lentamente de posição, a fim de reduzir o impulso do nervo vestibular;
4.2.proporcionar uma boa higiene oral após o vómito;
4.3.ensinar a criança a praticar uma respiração profunda e a deglutição voluntária para suprimir o reflexo dos vómitos;
4.4.ensinar a criança a sentar-se após comer, mas não se deitar;
4.5.restringir os líquidos às refeições;
4.6.ingerir alimentos frios.
5.      proporcionar alimentos que estimulem o apetite e aumentem o consumo de proteínas:
5.1.manter boa higiene oral antes e depois da ingestão de alimentos;
5.2.oferecer refeições pequenas e frequentes;
5.3.organizar as refeições de forma a que sejam servidos os nutrientes mais ricos em proteínas/calorias.
5.4.ensinar a:
5.4.1.      ingerir alimentos secos ao levantar;
5.4.2.      evitar alimentos excessivamente doces, gordurosos, fortes ou fritos;
5.4.3.      beber lentamente;
5.4.4.      ingerir bebidas frias.
6.      iniciar a educação para a saúde e os encaminhamentos, conforme indicados:
6.1.ensinar à criança e à família a técnica de preparação dos alimentos em casa para maior ingestão nutricional;
6.2.evitar ingerir alimentos preferidos durante os períodos de náuseas e vómitos;
6.3.praticar exercícios leves, por exemplo caminhar.

4 – DIARREIA

A diarreia é provavelmente a principal causa de morbilidade infantil no mundo.
A diarreia em si, não constitui uma doença, é antes um sinal de distúrbio de origem variada e resulta de desordens que comprometem as funções digestivas, secretórias e de absorção.

4.1 - Conceito

Uma definição e identificação precisa do que constitui a diarreia, representa um problema, já que há grandes variações na função intestinal de criança para criança.
A diarreia, tendo em conta a maioria dos autores, é definida como:
- Um aumento brusco do número de dejecções (> 3 por dia);
- Mudança na consistência das fezes com aumento do seu conteúdo líquido;
- Podem apresentar-se com cor esverdeada contendo muco ou sangue;
- Geralmente é acompanhada por urgência, desconforto peri-anal e/ou incontinência;
É assim, uma importante manifestação clínica de alterações no transporte hídrico e electrolítico pelo tracto alimentar.
A diarreia, relativamente frequente na infância, é motivo de grande preocupação nesta faixa etária.

4.2 - Classificação

A diarreia pode ser dividida em aguda ou crónica, e as consequências fisiológicas variam consideravelmente em relação à sua intensidade, duração, sintomas associados, idade da criança e as induções nutritivas antes do início da diarreia.

4.2.1 - Diarreia Aguda

A diarreia aguda, uma alteração súbita na frequência e consistência das fezes, geralmente de duração limitada (tendo uma duração média de 4 a 10 dias), é mais frequentemente causada por um processo inflamatório de origem infecciosa, mas pode também ser resultado de uma reacção à ingestão de substâncias tóxicas e exageros alimentares. O sintoma é potencialmente sério porque pode causar acidose e desidratação relativamente rápidas.
A diarreia pode associar-se a infecções fora do tracto alimentar, como, por exemplo, doenças transmissíveis, infecções do tracto respiratório e urinário, ou a tensões emocionais. A maioria dos episódios de diarreia é autolimitada e cede sem tratamento específico, desde que a desidratação resultante não crie uma complicação séria.            

4.2.2 - Diarreia Crónica

A diarreia crónica resulta da passagem de fezes amolecidas, em maior frequência, por um período superior a duas semanas. Associa-se mais vulgarmente a desordens de má absorção, defeitos anatómicos, motilidade intestinal anormal, reacção de hipersensibilidade (alérgica) ou uma resposta inflamatória.
Um outro tipo de classificação, defendida por vários autores, quer isoladamente, quer em associação com a classificação anterior, encontra-se no quadro seguinte:

Quadro 3: Classificação da diarreia
Classificação
Número de dejecções não moldadas em 24horas
Leve
1 a 3
Moderada
3 a 6
Grave
> 6 e com outros sintomas associados

4.3 - Etiologia

São múltiplas as causas de diarreia, umas conhecidas, outras ainda em fases de estudo, no entanto, muitos autores crêem que as causadas por agentes infecciosos são as mais comuns.
As causas mais frequentes são:
Infecções causadas por vírus
·         Enterovírus
·         Adenovírus
·         Rotavírus (> 50% dos casos)
Infecções por bactérias
·         Campylobacter jejuni
·         Escherichia coli
·         Salmonela
·         Shigalla
·         Staphylococus aureus
- Infecções por fungos, parasitas e protozoários;
- Intoxicações alimentares;
- Excessos alimentares;
- Alergias (exemplo: leite, aquando da introdução de novos alimentos);
- Alguns antibióticos (exemplos: tetraciclinas, clorofenicol, ampicilina);
- Defeitos anatómicos (exemplo: fístulas);
- Síndromes de má absorção;
- Doenças inflamatórias intestinais (exemplo: doença de Chron, colites);
- Neoplasias;
- Stress;
- Abuso excessivo de laxantes;

4.4 - Factores Predisponentes

A diarreia pode ser atribuída a um grande número de causas, mecanismos e factores predisponentes. Os factores que predispõem uma criança à diarreia e suas consequências fisiológicas incluem:
  • Quanto mais nova a criança, maior susceptibilidade à diarreia e maior a sua intensidade;
  • Crianças desnutridas ou debilitadas por doenças são mais susceptíveis à diarreia;
  • O clima quente, onde o saneamento e refrigeração são um problema;
  • Ambientes superpovoados e precários, sem condições para o preparo e refrigeração de alimentos.

4.5 - Fisiopatologia

No sistema gastrointestinal, as células segregam e absorvem electrólitos e água, sendo a velocidade de secreção geralmente inferior à velocidade de absorção.
A alteração destes processos, devido à invasão do tracto gastrointestinal por microorganismos produz diarreia por:
  • Invasão sistémica pelos microorganismos e inflamação local;
  • Produção de toxinas que estimulam a excreção de água e electrólitos;
  • Destruição das células epiteliais do intestino;
  • Aumento do peristaltismo;
  • Diminuição do tempo de absorção dos nutrientes.

4.6 - Manifestações Clínicas

A criança com diarreia, apresenta uma variedade de sintomas:
·         Cólicas;
·         Vómitos;
·         Febre;
·         Anorexia;
·         Irritabilidade e inquietação;
·         Fraqueza;
·         Prostração;
·         Hipotensão;
·         Taquicardia;
·         Cefaleias;
·         Convulsões;
·         Infecção respiratória;
Contudo, os distúrbios fisiológicos imediatos e mais graves associados à doença diarreica grave são:
·         Desidratação;
·         Distúrbios ácido-base com acidose;
·         Choque, que ocorre quando a desidratação progride ao ponto de comprometer seriamente as condições circulatórias;
A desidratação é um dos sintomas mais graves da diarreia, podendo a criança apresentar:

Quadro 4: Manifestações clínicas de desidratação na criança
Desidratação leve
-Diarreia aquosa
- Aumento de sede
- Mucosas levemente secas
- Saliva mais espessa
Desidratação moderada
- Perda de turgidez da pele
- Olhos encovados
- Mucosas muito secas
- Inquietação ou apatia
- Oligúria
Desidratação severa
- Fontanela anterior deprimida
- Vasoconstrição periférica
- Hipotensão
- Cianose
- Estupor/coma

4.7 - Diagnóstico

Na maioria dos casos, os sinais e sintomas apresentados são suficientes para diagnosticar uma criança com diarreia.
Qualquer tratamento só é verdadeiramente eficaz, ao eliminar a causa da patologia. Porém a causa nem sempre é conhecida, por isso, é necessário estar atento e investigar.
Sendo assim, o diagnóstico é baseado no decurso da doença e sintomatologia associada, por isso os técnicos de saúde devem procurar saber:
- Idade da criança;
- Hábitos intestinais;
- Tipo de início (súbito ou insidioso);
- Frequência, consistência, cor e odor das fezes;
- Exame do abdómen quanto à sua distensão e aos ruídos intestinais;
- Perda ponderal;
- Presença ou ausência de sangue, muco ou pús;
- Presença ou ausência de febre, cólicas, vómitos;
- Revisão da ingestão alimentar da criança nas últimas 48 horas;
- Verificar se existem outras pessoas na família, infantário, ou escola
com os mesmos sintomas;
- Procurar saber se viajou recentemente;
- Investigar sobre os hábitos de higiene da criança e família;
- Verificar se a criança está a fazer algum tratamento farmacológico;
           

4.8 - Complicações

Quando detectada precocemente e tratada convenientemente a diarreia não acarreta graves complicações, no entanto, estas existem e podem colocar em risco a vida da criança. As complicações mais frequentes são:
- Desidratação;
- Acidose metabólica;
- Hiponatrémia;
- Alteração dos níveis de potássio;
- Hipersensibilidade às proteínas, especialmente às proteínas do leite;
- Intolerância à lactose;
- Infecção respiratória;
- Otites.

4.9 - Tratamento

A diarreia leve ou moderada geralmente é tratada por meio de medidas simples e raramente exige hospitalização. Quando a diarreia moderada piora ou não responde às medidas simples, indica-se a hospitalização.
A diarreia grave é sobretudo um problema de lactentes e crianças muito pequenas, e seja qual for a causa, a terapêutica bem-sucedida baseia-se no tratamento apropriado dos distúrbios fisiológicos, sendo apenas secundário com o tratamento específico do agente causal. Para evitar a complicação mais grave e mais comum da diarreia, o tratamento baseia-se essencialmente em hidratar a criança. O tipo de hidratação irá variar com a situação da criança, ou seja, com o seu grau de desidratação. Assim, e segundo a OMS deve recorrer-se ao uso de soros de hidratação, que correspondem a compostos constituídos por água, cloreto de sódio, cloreto de potássio, glucose e bicarbonato de sódio.
A diarreia grave justifica a hospitalização, avaliação abrangente e hidratação parenteral. Esta visa a reposição de líquidos, determinado pela:
- Perda de peso e manifestações clínicas;
- Perdas anormais pela urina, pulmões e suor;
- Perdas gastrointestinais anormais contínuas. 
A quantidade inicial de líquido intravenoso é administrada rapidamente para corrigir a desidratação e restaurar a circulação. O líquido geralmente é uma solução de dextrose com os electrólitos apropriados adicionados. À medida que as perdas iniciais são repostas, ajusta-se a administração de líquido para atender às necessidades de manutenção e repor as perdas gastrointestinais. Adiciona-se potássio quando a função renal estiver estabelecida.
Quando a criança estiver bem hidratada, inicia-se a alimentação oral com solução de glicose-electrólitos, a não ser que anorexia, vómitos ou distúrbios do sistema nervoso central impeçam o uso desta via. Nestas circunstâncias, continua-se com nutrição parenteral. 
O leite é reintroduzido cuidadosamente. Para a reintrodução inicial, recomenda-se habitualmente um quinto da ingestão diária de leite completando o restante com a solução de glicose-electrólitos já empregada. A quantidade de leite é gradualmente aumentada a cada dia até que a dieta anterior seja retomada.
Uma vez controlados os efeitos da desidratação, procede-se às medidas específicas de diagnóstico e tratamento para detectar e tratar a causa da diarreia. Essas medidas incluem:
·         Sedação leve;
·         Antibioterapia quando indicada;
·         Tratamento dos efeitos secundários da doença.

4.10 - Cuidados de Enfermagem

O lactente ou criança admitida no hospital com diarreia deve ser sempre isolado das outras crianças, implementando-se as devidas precauções para evitar a possibilidade de disseminação para outras crianças ou para os profissionais de saúde.
Os cuidados de enfermagem face a uma criança com diarreia visam essencialmente:
- Interromper a diarreia;
- Evitar a desidratação;
- Manter a integridade cutânea;
Um ambiente calmo e acolhedor deve ser proporcionado à criança, assim como o repouso no leito, tentando estimular à criança a ingestão de líquidos de acordo com a situação (água, sumos).
A criança deve ser pesada na admissão e frequentemente durante a fase de expansão (pelo menos uma vez por dia).
Aquando da entrada e durante o internamento da criança, o enfermeiro deve avaliar o seu grau de desidratação, assim como, o nível de consciência e sinais vitais.
Um rigoroso balanço hídrico, ou seja, a medição e registos correctos de entrada e eliminação são imperativos. Para determinar a diurese e medir a densidade urinária, aplica-se o saco colector de urina; esta medida também dará indicações de que o fluxo sanguíneo renal é suficiente ou não, para permitir a administração de potássio. A não ser que a urina seja separada das fezes, essa informação essencial não é obtida.
No caso de exigência de hospitalização, indica-se, na maioria dos casos, hidratação parenteral, não sendo administrado nada por via oral durante 12 a 24 horas. O controle da perfusão endovenosa é uma função primordial de enfermagem, verificando a concentração exacta de solução e electrólitos que esteja a ser perfundida, que a velocidade de fluxo permita perfundir o volume desejado num dado período de tempo e que o local da perfusão seja mantido. Nos lactentes, e em crianças pequenas, torna-se necessário algum tipo de restrição, uma vez que os seus movimentos aleatórios ou voluntários podem prejudicar a posição da agulha. Ao terminar a hidratação parenteral, deve-se proporcionar uma dieta adequada.
O enfermeiro é responsável pelo exame das fezes e pela colheita de amostras para o exame laboratorial. Todo o cuidado é pouco na obtenção e transporte das fezes, para evitar uma possível disseminação de infecções.         
É também muito importante, a observação das características e números de dejecções. As fezes diarreicas são bastante irritativas para a pele, sendo necessário prevenir eventuais escoriações. Um método eficaz para facilitar a cura destas escoriações, é a exposição das áreas avermelhadas ao calor e à luz. Uma excelente maneira de assegurar calor seco à área afectada, é por meio de um foco de luz de haste flexível, devendo a lâmpada permanecer a uma distância fora do alcance da criança (deve estar a pelo menos 50cm). A criança necessita de uma observação cuidadosa durante o tratamento, e a duração de cada aplicação não deve exceder 20 minutos. 
Cabe ao enfermeiro, observar se existem vómitos e registar as suas características.

4.11 - Conselhos Práticos aos pais

É importante referenciar aos pais, a distinção entre fezes diluídas, que podem resultar de uma perturbação digestiva, e a verdadeira diarreia. Pode ser difícil alimentar a criança durante a diarreia por causa da falta de apetite, portanto, para um melhor restabelecimento, deve-se oferecer alimentos mais vezes que o habitual, mas em quantidades moderadas.
Em caso de diarreia, é essencial aconselhar os pais que:
- Dêem ao seu filho líquidos em grande quantidade, como água ou chá sem açúcar;
- Dêem alimentos leves e sem gorduras, como bolachas de água e sal, maças cozidas ou assadas, bananas maduras, puré de batata e arroz somente cozido;
- Evitem dar alimentos salgados e legumes verdes;
- No lactente (até 1 ano), continuem a oferecer-lhe leite, sem diluições;
- Deve ser evitado a administração de antibióticos quando não for indicado e nunca devem ser usados antidiarreicos;
- Em geral, os alimentos apropriados para crianças com diarreia são os mesmos que devem ser oferecidos a crianças saudáveis;
- A alimentação a partir do aparecimento de fezes normais deve abranger: puré de maça, arroz cozido, banana esmagada, carnes magras (como peru, coelho, frango), batatas, massas e cenouras;    
- Ensinar as crianças a lavar as mãos antes de comer, depois de brincar e depois de fazer as suas necessidades;
- Prender os cabelos sempre que vai cozinhar;
- Lavar muito bem os alimentos que se comem crus;
- Guardar os alimentos fora do alcance das moscas;
- Guardar no frigorífico os alimentos que se estragam facilmente, ou se não os vai utilizar de imediato;
- Durante os três primeiros meses de vida, a criança só deve beber água fervida;  
- Uma boa higiene na preparação dos biberões;
- A criança deve ter os seus próprios utensílios de cozinha;
- Os brinquedos das crianças devem ser lavados pelo menos uma vez por semana (quando caem ao chão devem ser lavados com água abundante).

5 - CONVULSÕES

Os fenómenos convulsivos são comuns em crianças e ocorrem com ampla variedade de distúrbios do sistema nervoso central (SNC). Surgem numa frequência de 4-6 casos/1000 crianças e constituem a causa mais comum de encaminhamento a um neurologista infantil.
A presença de um distúrbio convulsivo não constitui um diagnóstico, mas sim um sintoma de um distúrbio do SNC que requer investigação minuciosa e tratamento.
Nós enfermeiros, temos que ter um grande conhecimento sobre esta patologia, visto que, perante uma criança com crise convulsiva, temos que actuar rapidamente.

5.1 - DEFINIÇÕES

Convulsão:
« Descarga bioenergética emitida pelo cérebro que provoca contracções musculares gerais e generalizadas.»
« Ataque episódico, que resulta da alteração fisiológica cerebral e que clinicamente se manifesta por movimentos rítmicos involuntários e anormais, que são acompanhados de alterações do tónus muscular, esfíncteres e comportamento.»
« Perturbação involuntária paroxística da função cerebral que se manifesta como redução ou perda da consciência, actividade motora anormal, anormalidades do comportamento, anormalidades sensitivas ou disfunção autonómica.»

Crise Convulsiva:
«Termo usado para designar um episódio isolado.»
Distúrbio Convulsivo:
« É um distúrbio crónico e recorrente (epilepsia).
Foco Epileptogénico:
«Células hiper excitáveis onde tem inicio uma descarga eléctrica espontânea.

5.2 - ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA

A convulsão resulta de uma descarga neuronal excessiva devida a alteração transitória ou permanente de estruturas cerebrais.
Há descargas eléctricas:
► De origem nas áreas centrais do cérebro (afectam imediatamente a consciência);
► De origem numa área do córtex cerebral (produzem características do foro anatómico em particular);
► Com início numa área localizada do córtex cerebral, alastrando-se a outras porções do cérebro.
O defeito pode estar, quer na produção do impulso nervoso (alteração na concentração dos iões intra ou extra celulares, agressão química ou mecânica da membrana celular, defeitos genéticos que alteram a sua fisiopatologia), quer na transmissão ou nos mecanismos inibitórios que restabelecem o equilíbrio electroquímico (GABA, dopamina, acetilcolina, …).
Factores como a febre, o grau de maturidade do SNC, a variação na glicémia e nas concentrações iónicas e a hipóxia podem determinar o aparecimento de convulsões. 

5.3 - CLASSIFICAÇÃO

É importante classificar os tipos de convulsões, pois por vezes o tipo de convulsão fornece um indício da sua causa. Além disso, o delineamento preciso da convulsão pode permitir uma base sólida para a definição do prognóstico.
A classificação clínica das convulsões é difícil porque as manifestações de diferentes tipos de convulsões podem ser semelhantes. O eletroencefalograma (EEG) é um recurso útil para a classificação da epilepsia por causa da variação da expressividade das convulsões da faixa etária infantil.

Quadro 5: Classificação Internacional das Convulsões Epilépticas

Convulsões Parciais


Parciais Simples (consciência preservada)
▪ Motoras
▪ Sensitivas
▪ Autonómicas
▪ Psíquicas
Parciais Complexas (consciência comprometida)
▪ Parciais simples, seguidas de comprometimento da consciência
▪ Consciência comprometida desde o início
Convulsões Parciais com generalização secundária 

Convulsões Generalizadas


Ausências
▪ Típicas
▪ Atípicas
Tónico-clónicas generalizadas
Tónicas
Clónicas
Mioclónicas
Atónicas
Espasmos do lactente



Fonte: NELSON et al, 1999

5.3.1 - Convulsões Parciais

As convulsões parciais são responsáveis por uma grande proporção das convulsões infantis, até 40% em algumas séries.
Classificam-se em simples ou complexas; a consciência é mantida nas primeiras e comprometida nas últimas.

Convulsões Parciais Simples
A actividade motora é o sintoma mais comum das convulsões parciais simples (CPS). Os movimentos são tónicos ou clónicos assincrónicos e tendem a envolver a face, pescoço e membros. As convulsões versivas, que consistem em rotação da cabeça e movimentos oculares conjugados, são CPS particularmente comuns. Os automatismos não ocorrem com as CPS, mas alguns pacientes queixam-se de aura, que pode ser a única manifestação de uma convulsão. Infelizmente, as crianças têm dificuldade em descrever a aura e muitas vezes a definem como “uma sensação engraçada” ou “alguma coisa rastejando dentro de mim”.
A convulsão média persiste por 10-22 segundos. As CPS podem ser confundidas com tiques. O EEG pode mostrar pontas ou ondas sharp uni ou bilateralmente ou um padrão de pontas multifocais em utentes com CPS..

Convulsões Parciais Complexas
Uma convulsão parcial complexa (CPC) pode começar com uma CPS com ou sem aura, seguida de comprometimento da consciência ou, de outro modo, o início da CPC pode coincidir com a alteração do estado de consciência. Pode haver um olhar vago breve ou uma interrupção súbita ou pausa da actividade, que muitas vezes não é percebida pelo progenitor. Além disso, a criança é incapaz de comunicar ou descrever os períodos de comprometimento da consciência na maioria dos casos.
Os automatismos são uma característica comum das CPCs em lactentes e crianças, ocorrendo em 50-75% dos casos; quanto maior a criança, mais alta sua frequência. Desenvolvem-se após a perda de consciência e podem persistir na fase pós-ictal, mas não recordados pela criança. O comportamento automático observado em lactentes caracteriza-se por automatismos alimentares, incluindo estalo dos lábios, mastigação, deglutição e salivação excessiva. O comportamento automático em crianças maiores consiste em gestos semipropositais, incoordenados e não planejados, como esticar roupas ou lençóis de cama, esfregar ou acariciar objectos e deambular ou correr de maneira desorientada, repetitiva e frequentemente amedrontada.
A propagação da descarga epileptiforme durante uma CPC resulta em generalização secundária com uma convulsão tónico-clónica. Durante a propagação da descarga ictal através do hemisfério, podem-se observar rotação versiva contralateral da cabeça, postura distónica e movimentos tónicos ou clónicos dos membros e face, incluindo piscar dos olhos. A duração média de uma CPC é 1-2 minutos.
As CPC estão associadas a ondas sharp ou pontas focais no lobo temporal anterior no EEG interictal, e pontas multifocais são um achado frequente. 

4.3.2 - Convulsões Generalizadas

Estas convulsões ocorrem em qualquer idade, em qualquer momento. O intervalo entre as crises varia bastante.

Crises de Ausência

As crises de ausência (pequeno mal) simples (típicas) são caracterizadas por interrupção súbita da actividade motora ou fala com face inexpressiva e tremulação das pálpebras.
Estas convulsões, que são incomuns antes de 5 anos de idade, são mais prevalentes em meninas, jamais são acompanhadas de aura, raramente persistem mais de 30 segundos e não estão associadas a estado pós-ictal.
O paciente não perde o tónus corporal, mas a cabeça pode pender para a frente levemente. Logo após a convulsão, o paciente retoma a actividade prévia sem nenhuma indicação de comprometimento pós-ictal. O comportamento automático frequentemente acompanha as crises de ausência simples. O EEG mostra uma descarga típica de 3 pontas e ondas generalizadas/ segundo.
As crises de ausência complexas (atípicas) têm componentes motores associados, que consistem em movimentos mioclónicos da face, dedos ou membros e, às vezes, perda do tónus corporal. Estas convulsões produzem descargas atípicas no EEG de ponta e onda a 2-2,5/s.

Convulsões Tónico-Clónicas Generalizadas

Estas convulsões são extremamente comuns e podem suceder uma convulsão parcial com início focal (generalização secundária) ou ocorrer de maneira isolada. Podem estar associadas a uma aura, que sugerem uma origem focal da descarga epileptiforme.
O utente perde a consciência subitamente e em alguns casos emite um grito lancinante e estridente. Os olhos viram-se para trás, toda a musculatura corporal sofre contracções tónicas e a criança rapidamente se torna cianótica em associação à apneia.
A fase clónica da convulsão é anunciada por contracções clónicas rítmicas alternadas com relaxamento de todos os grupos musculares. Acontece próxima do fim da convulsão, que geralmente persiste por alguns minutos e o paciente muitas vezes suspira quando a convulsão cessa de maneira abrupta. Durante a convulsão, a criança pode morder a língua, mas raramente vomita, e também pode perder o controlo dos esfíncteres, em particular da bexiga.
Alguns dos factores que desencadeiam este tipo de convulsões incluem febre baixa associada a infecções, fadiga excessiva ou stress emocional e diversas drogas, como os medicamentos psicotrópicos, teofilina e metilfenidato.

Epilepsias Mioclónicas da Infância

Este distúrbio caracteriza-se por convulsões repetitivas constituídas de contracções musculares breves e frequentemente simétricas com perda do tónus corporal e queda ou encurvamento para a frente, que tem uma tendência a causar lesões da face e boca.
São inidentificáveis pelo menos 5 subgrupos distintos:
            Mioclono Benigno da Lactência: começa durante a lactência e consiste em salvas de movimentos mioclónicos limitados ao pescoço, tronco e membros. O prognóstico é bom, com desenvolvimento normal e cessação do mioclono em torno de 2 anos de idade.
Epilepsia Mioclónica Típica do Início da Segunda Infância: a idade média de início é de aproximadamente 2,5 anos, mas a faixa estende-se de 6 meses a 4 anos. A frequência das convulsões mioclónicas varia, podem ocorrer várias vezes por dia ou as crianças permanecem livres de convulsões por semanas. Alguns pacientes têm convulsões febris ou convulsões afebris tónico-clónicas generalizadas que precedem o início da epilepsia mioclónica. O EEG mostra complexos rápidos de pontas e ondas ≥ 2,5 Hz e um ritmo de fundo normal na maioria dos casos. O prognóstico a longo prazo é relativamente favorável. Uma minoria desenvolve retardo mental e mais de 50% livram-se das convulsões após vários anos; entretanto, problemas de aprendizagem, da linguagem, distúrbios emocionais e comportamentais ocorrem num número significativo destas crianças.
Epilepsias Mioclónicas Complexas: compreendem um grupo heterogéneo de distúrbios com prognóstico reservado. Tipicamente, convulsões tónico-clónicas focais ou generalizadas começando durante o 1º ano de vida precedem o início da epilepsia mioclónica. Uma história de encefalopatia hipóxico-isquémica no período perinatal e o achado de sinais extrapiramidais e do neurónio motor superior generalizados com microcefalia constituem um padrão comum entre estas crianças. Os utentes com epilepsia mioclónica complexa apresentam geralmente pontas-ondas lentas interictais e são refractários aos anticonvulsivantes. As convulsões são persistentes e a frequência de retardo mental e problemas do comportamento é de 75% de todos os utentes.
Epilepsia Mioclónica Juvenil: geralmente começa entre os 12 e os 16 anos de idade e responde por cerca de 5% de todas as epilepsias, tendo sido identificado um locus genico no cromossoma 6p. Os utentes apresentam espasmos mioclónicos frequentes ao acordar, o que dificulta os actos de pentear os cabelos e escovar os dentes, mas como o mioclono tende a ceder no decorrer da manhã, a maioria dos utentes não procura assistência médica neste estádio e alguns negam os episódios. Alguns anos mais tarde, ocorrem convulsões tónico-clónicas generalizadas no início da manhã em associação ao mioclono. O EEG mostra um padrão de pontas e ondas irregulares de 4-6/s, que é intensificado por estimulação fótica.
Epilepsias Mioclónicas Progressivas: é um grupo heterogéneo de distúrbios genéticos raros que encerra sempre um prognóstico sombrio. Este inclui a doença de Lafora que se apresenta em crianças de 10 a 18 anos de idade com convulsões tónico-clónicas generalizadas. Com o avanço da doença, espasmos mioclónicos vão-se tornando cada vez mais evidentes e constantes. A deterioração mental é uma característica típica e evidencia-se dentro de uma ano após o início das convulsões. O EEG mostra descargas de polipontas-ondas, sobretudo na região occipital, com lentificação progressiva e um ritmo de fundo desorganizado.

Espasmos do Lactente

Os espasmos do lactente costumam começar entre 4 e 8 meses de idade e caracterizam-se por contracções simétricas breves do pescoço, tronco e membros. Existem pelo menos três tipos de espasmos do lactente: flexores, extensores e mistos. Os espasmos flexores ocorrem em séries e consistem na flexão súbita do pescoço, membros superiores e inferiores sobre o tronco; os espasmos extensores produzem extensão do tronco e membros e os espasmos mistos são formados por séries de flexões numas e extensões noutras. As séries de convulsões podem persistir por minutos, com breves intervalos entre cada espasmo.
Os espasmos ocorrem durante o sono ou vigília, mas têm tendência a surgir quando o utente está sonolento ou imediatamente depois de acordar.
O EEG que está mais comummente associado aos espasmos do lactente denomina-se hipsarritmia, que consiste num padrão caótico de actividade de ondas lentas, alta voltagem e bilateralmente assíncrona ou num padrão de hipsarritmia modificado.
Os espasmos do lactente classificam-se em dois grupos: criptogénicos e sintomáticos. A criança com a forma criptogénica tem história de gestação e nascimento sem intercorrências, assim como marcos do desenvolvimento normais antes do início das convulsões. Os espasmos do lactente sintomáticos estão directamente relacionados a diversos factores pré, peri e pós-natais. Os factores pré e perinatais incluem encefalopatia hipóxico-isquémica, infecções congénitas, esclerose tuberosa,...; e os distúrbios pós-natais abrangem as infecções do SNC e traumatismo cranioencefálico.
Os lactentes com espasmos criptogénicos têm bom prognóstico, ao passo que aqueles com o tipo sintomático correm risco de retardo mental de 80-90%.

Síndrome de Landau - Kleffner

É um distúrbio raro de etiologia desconhecida, mais comum em meninos, com idade de início média de 5,5 anos. Caracteriza-se por perda das habilidades de linguagem numa criança previamente normal, e pelo menos 70% apresentam um distúrbio convulsivo associado.
A regressão da linguagem pode ser súbita ou a perda da fala lenta; a afasia pode ser primariamente receptiva ou expressiva, e a agnosia auditiva tão intensa que a criança esquece os sons quotidianos. A audição é normal, porém problemas de comportamento, incluindo irritabilidade e atenção fraca são muito comuns.
As convulsões são de vários tipos, como tónico-clónicas focais ou generalizadas, ausência atípica, parciais complexas e às vezes mioclónicas. Descargas de ponta-onda de alta amplitude predominam e tendem a ser bitemporais, mas podem ser multifocais ou generalizadas. Nos estádios evolutivos da doença, o EEG pode ser normal. As descargas de ponta sempre são mais evidentes durante o sono não-REM, de modo que a criança com suspeita de Síndrome de Landau-Kleffner (SLK) deve submeter-se a um EEG durante o sono.
A maioria das crianças com SLK apresentará uma anormalidade significativa da fala na idade adulta. O início da SLK numa idade baixa (< 2 anos) sempre tende a estar associado a mau prognóstico de recuperação da fala. (Parte 1)