Linguagem corporal

                                      clip_image002Instituto Politécnico de Lisboa
Escola Superior de Educação de Lisboa
Curso de Formação de Professores do Ensino Básico, variante de E.V.T.









Docente: Professor Sidónio Garcia
Discente: Telma Marta nº 241
4º Ano E.V.T.
Trabalho apresentado à Escola Superior de Educação de Lisboa,
no âmbito da disciplina de Sociologia da Comunicação
Novembro de 2006



Índice
Introdução
Parte I
Linguagem

Capítulo 1
Linguagem através dos tempos
1. As primeiras conquistas do Homem
2. Reprodução, Subsistência, Defesa de predadores
3. Origem do fogo, origem da linguagem
4. Das sociedades recolectoras às primeiras civilizações
5. Reflexos da caça na linguagem e na inteligência
6. Aquisição da inteligência
7. Arte paleolítica
8. Os ritos no paleolítico
9. Evolução da linguagem
10. Linguagem corporal na Roma Antiga
Capítulo 2
Linguagem Verbal
1. Linguagem animal versus linguagem humana
2. Língua
3. Capacidade inata
4. Criatividade e produtividade
5. Arbitrariedade
6. Língua gestual
Parte II
Linguagem corporal

Capítulo 3
Estrutura da comunicação
1. A competência comunicativa
Capítulo 4
Interpretação dos gestos
1. Interpretação dos gestos no quotidiano
2. Grupos de gestos
3. Coerência entre comunicação verbal e não verbal
4. Estudo dos gestos
4.1 Expressões do rosto
4.1.1 Sorriso
4.1.2 Olhar
4.2 Maneiras de andar
4.3 Mãos
4.4 Distância Interpessoal
4.5 Postura
4.6 Pernas

Parte III
Linguagem corporal no quotidiano

Capítulo 5
Meios de comunicação de massas – alienação da linguagem corporal
1. Rádio
2. Televisão
3. Videojogos
4. Telefone, telemóvel
5. Internet

Capítulo 6
Linguagem corporal nas Artes
1. Pintura
2. Escultura
3. Música
4. Teatro
5. Cinema
6. Literatura






Parte IV
Linguagem corporal na Educação
Capítulo 7
Linguagem corporal na adolescência
1. O silêncio dos membros
2. Como fazer amigos
3. Observar os amados
4. Sinais de Sedução
5. Truques para aumentar a confiança
6. Derrotar inimigos
7. Lidar com os pais
Capítulo 8
Linguagem corporal na Educação
1. Vantagens da compreensão dos gestos
2. Relação professor-aluno
3. Influência da linguagem corporal na educação
Conclusão


Bibliografia
Introdução

No âmbito da disciplina de Sociologia da Comunicação foi proposta a realização de um trabalho de investigação sobre a linguagem corporal inserida na comunicação não verbal que, por sua vez, constitui um ramo da comunicação cuja utilização se faz desde os primórdios da história do homem e um desenvolvimento natural da necessidade que este tem em interagir com os seus semelhantes e com o meio onde se inserem.
Do ponto de vista educacional, pretende-se perceber em que medida a linguagem corporal influencia o acto educativo, a influência dentro da sala de aula e as vantagens do conhecimento dos códigos, aumentando exponencialmente o potencial da linguagem corporal para a melhoria da intervenção educativa.
O presente trabalho encontra-se dividido em quatro partes, sendo elas:
I – Linguagem através dos tempos, em que se faz uma breve abordagem histórica da evolução da linguagem verbal e não verbal, definindo-se conceitos da linguagem associada à linguística.
II – Linguagem corporal, onde se definem conceitos e estrutura da comunicação e se aborda a interpretação dos gestos e atitudes.
III – Linguagem corporal no quotidiano refere-se à alienação do contacto físico e interacção dos indivíduos devido aos meios de comunicação de massas, acrescentando-se uma abordagem da linguagem corporal presente nas várias formas de arte.
IV - Linguagem corporal na Educação, onde se aborda a perspectiva dos jovens e aquilo de que devem tomar consciência, bem como a perspectiva da interacção entre professor e alunos.
“O corpo é o primeiro e mais natural instrumento do Homem”.
Marcel Mauss
“Então, há algo mais, além de roupa, calçados e cabelos tratados. Há compostura, fisionomia, expressão corporal, expressão fisionómica. Numa palavra: atitude.
Quando uma pessoa pensa e sente, isso influencia sua atitude. A cultura, educação e todas as circunstâncias vivenciadas incorporam-se inexoravelmente ao seu património corporal.
Mestre deRose - Boas Maneiras no Yôga
Parte I
Linguagem

“Ao estudarmos a linguagem humana aproximamo-nos do que se poderia chamar a “essência humana”, as qualidades distintivas da mente são, tanto quanto sabemos, exclusivas do Homem.”
Noam Chomsky, Linguagem e pensamento

Capítulo 1
Linguagem através dos tempos
“Nada seria sem dúvida mais interessante do que conhecer através de documentos históricos o processo exacto pelo qual o primeiro Homem começou a articular as primeiras palavras, para de uma vez por todas nos vermos livres das teorias sobre a origem da fala”.
M. Müller, 1871
1. As primeiras conquistas do Homem
Todos os animais possuem, na sua constituição física, equipamentos ou características que lhes possibilitam adaptarem-se à Natureza ou enfrentar, com maior ou menor êxito, os perigos e contrariedades que os rodeiam. As garras, os dentes aguçados, os pêlos, os espinhos, o veneno, a agilidade ou a capacidade de disfarce constituem alguns desses equipamentos ou características. O Homem teve, porém, de criar formas de produzir esses equipamentos através da coordenação entre mãos e cérebro, sendo este o principal factor da evolução do hominídeo para Homem, distinguindo-o de outros animais da mesma espécie. “
NEVES, P. A., ALMEIDA, V. C. (1995)
O fabrico de instrumentos, a verticalidade e a descoberta do fogo constituíram as primeiras conquistas do homem enquanto este se adaptava à Natureza e a tentava dominar.
2. Reprodução, Subsistência, Defesa de predadores
O Homem viu-se obrigado a assegurar a continuidade da sua raça e, consequentemente, teve de aguçar os seus mecanismos de defesa e encontrar estratagemas para se defender dos perigos que o rodeavam permanentemente.
Para assegurar a sua linhagem e a perpetuação do seu sangue, o Homem descobriu que, através da reprodução, as crianças substitui-lo-iam quando morresse, pelo que utilizou formas primitivas de sedução para que a fêmea o aceitasse como pai dos seus filhos, reproduzindo-se e cumprindo mais um ciclo de vida.
Sem batalhas o homem não se alimentava e, ao privar-se de comida, não tinha forças para travar nenhuma batalha. Assim, mais uma necessidade teve de ser satisfeita e o homem, exercitando o seu cérebro, percebeu que teria de se alimentar. Ao início recolhia o que a natureza lhe oferecia, mas cedo percebeu que a vida de nómada não lhe trazia vantagens e mudou de estratégia ao cultivar os seus próprios alimentos, produzir o seu vestuário e esculpir as suas próprias armas para caçar. Assim, assegurou mais um patamar da cadeia evolutiva.
Como se não bastasse, o homem estava bem longe do topo da cadeia alimentar e os predadores faziam fila para o capturar. Sem casas de betão, jardins zoológicos nem estabelecimentos prisionais, o homem teve de colmatar a falta de defesas naturais com armas esculpidas na pedra ou redes feitas com arbustos. Assim, poderia fabricar as suas próprias garras ou camuflagem que a mãe natureza não incorporou no seu organismo.


3. Origem do fogo, origem da linguagem
“A natureza do fogo, como a da linguagem, não permite que se possa obter dele um registro fossilizado. O que os arqueólogos encontram, com alguma frequência são restos de fogueiras antigas. Mas esse é um outro achado, onde o fogo se extinguiu ou de onde foi retirado. São ocorrências próximas, o que não significa que sejam a mesma coisa.
Da mesma forma que o fogo, todo ele emanado de um fogo só, que um dia acendeu o Universo ao manifestar-se com sua natureza dupla de matéria/energia, a linguagem deve ter emanado de uma fonte única: o primeiro homem”, expressão referente à abstracção conceptual dos primeiros habitantes humanos da Terra.
Ulisses Capozoli
4. Das sociedades recolectoras às primeiras civilizações
A sobrevivência do homem do Paleolítico dependia dos recursos que encontrava na Natureza. Com um maior desenvolvimento técnico foi possível ao homem vencer dois importantes inimigos: a fome e o frio. Desta vitória resultaria um aumento demográfico e uma organização social mais complexa. Surgem as sociedades dos grandes caçadores, em que se afirma a economia de caça.
Tudo isto se integra num novo estádio de desenvolvimento do homem, caracterizado pelo aperfeiçoamento técnico, pela evolução da linguagem, pelo aparecimento das manifestações artísticas e pela prática de ritos mágicos e funerários.

5. Reflexos da caça na linguagem e na inteligência
Ligado à actividade da caça esteve o desenvolvimento da linguagem. Com efeito, as caçadas em grupo exigiam que os seus intervenientes comunicassem entre si, estimulando-se, dessa forma, a linguagem. Esta representa, de facto, um dos elementos marcantes do processo de hominização. De uma linguagem à base de monossílabos e gestos passou-se à linguagem articulada por palavras.

“Com base em conclusões linguísticas, tudo leva a crer que a origem da linguagem deriva da actividade produtiva e surgiu primeiro com a forma de moções curtas que representavam certas actividades no trabalho e gestos que permitiam aos homens apontar e comunicar. Apenas bastante mais tarde, como revela a paleontologia da fala, se desenvolveu a fala verbal. Só ao longo de um período historicamente muito longo se verificou a dissociação do som e do gesto”.
A. R. Luria, 1970

6. Aquisição da inteligência
“A capacidade de pensamento abstracto, ligada em grande parte à linguagem, passaria a constituir mais um dos aspectos de distinção entre o homem e as restantes espécies animais, distinção essa que culmina na inteligência.
A melhoria das condições de vida, proporcionada pelo aperfeiçoamento das técnicas, originou um crescimento populacional. Este, por sua vez, conduziu ao alargamento das áreas habitadas pelo homem.”
NEVES, P. A., ALMEIDA, V. C. (1995)
7. Arte paleolítica
Durante o Paleolítico Superior surgiram verdadeiras e autênticas manifestações artísticas, distinguindo-se a arte móvel (composta por pequenas estatuetas femininas, as Vénus (Vénus de Willendorf), esculturas e relevos de animais) e arte rupestre (constituída por pinturas e gravuras feitas sobre as rochas, nas paredes e nos tectos das cavernas), consistindo estes em importantes fontes históricas indispensáveis à compreensão do desenvolvimento intelectual e cultural do homem pré-histórico.
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8. Os ritos no paleolítico
Em momentos em que a sua capacidade intelectual se mostrava insuficiente para dominar as contrariedades da Natureza, o homem recorria a cerimónias e rituais de magia que assegurassem a sua sobrevivência, servindo-se do instinto através de gestos, danças e cânticos. O corpo era, no fundo, o veículo mobilizado para enfrentar o desconhecido, bem como na vida diária nas caçadas, guerras e cultivo, daí a importância do estudo da magia e do simbolismo na arte paleolítica.


9. Evolução da linguagem
Com base nos escritos de Fromkin, V e R. Rodman (1993) a única evidência que temos de línguas antigas é a escrita, mas a fala precede a historicamente a escrita por um vastíssimo período de tempo, o qual é significativamente mais vasto quando se consideram a linguagem não-verbal que antecede a oralidade. Actualmente existem milhares de comunidades que falam línguas perfeitamente actualizadas que, porém, carecem de sistemas escritos. A língua ou línguas que os nossos antecessores mais remotos falavam estão irremediavelmente perdidas. O mesmo acontece com os gestos que utilizariam para comunicar entre si quando a oralidade se cingia a um conjunto de urros e grunhidos.



10.Linguagem corporal na Roma Antiga
Nas palavras de Victoria McCarthy (1998) percebe-se o início da simbologia dos gestos e da importância de cada cidadão conhecer essa mesma simbologia: “Nos dias em que Nero tocava violino, Roma ardia e os homens usavam pequenas togas enroladas à volta do corpo, o equivalente a um quatro-quatro-dois era uma rápida luta até à morte travada no Fórum. No extremo sul estava o leão furioso e, no outro extremo, o escravo, mal pago e mal alimentado. Se o escravo tivesse sorte, o leão seria substituído por um gladiador musculado e bem treinado, com mãos do tamanho da lista telefónica.
A única constante do jogo era o escravo mal pago e mal alimentado, que fazia os possíveis e os impossíveis para fugir à maior das humilhações – a morte. Se o escravo vivesse o suficiente para ouvir o toque final, o imperador podia decidir poupar-lhe a vida mostrando o polegar virado para cima. Mas, se o imperador estivesse num dia mau, virava o dedo para baixo, como sinal de que estava na hora de o escravo atar as sandálias.”
O aperto de mão tem origem no antigo gesto de levantar as duas mãos para mostrar que não estavam armadas. Mais tarde, durante a época do Império Romano, a saudação passou a ser feita com a mão posta no peito. Os Homens apertavam os braços, em vez de apertar as mãos.
Capítulo 2
A linguagem verbal

“A investigação desenvolvida nos últimos quarenta anos permitiu identificar propriedades da linguagem humana que não se encontram nos sistemas de comunicação animal, pelo que só por extensão metafórica é legítimo considerar estes últimos “linguagem”. (Sim-Sim, Duarte & Ferraz 1997 A língua materna na educação Básica, p.15)

1. Linguagem animal versus linguagem humana
Se a linguagem for entendida como um meio de mera comunicação, tem de se aceitar que os animais são dotados de linguagem, tal como os seres humanos. Por outro lado, a linguagem utilizada pelos seres humanos não serve apenas como meio de comunicação. Deste ponto de vista, a linguagem é um atributo apenas humano pois, ao que se sabe, os animais servem-se da comunicação como um instinto para assegurar a sua sobrevivência.
Os animais são também capazes de emitir sons mas, ao que se sabe, o seu sistema fonológico é bastante limitado, da mesma maneira que, mesmo se um papagaio souber pronunciar duas palavras, dificilmente as junta para criar novas palavras, o que é um facto natural nas crianças e posteriormente na fase adulta.
Metaforicamente, contamos às crianças histórias com animais que falam, mas cedo elas percebem que, mesmo que eles comuniquem entre si, é-nos impossível compreendê-los da maneira como compreendemos povos com línguas diferentes da nossa, nem que seja através de um outro tipo de linguagem, com gestos, imagens, desenhos, ícones ou sons.
2. Língua
No caso do Homem, para além de ser dotado de inteligência e pensamento, tem ainda um aparelho fonador que lhe facilita a emissão de variados sons que, combinados, formam uma língua.
3. Capacidade inata
A linguagem, como capacidade inata que é, está inerente a cada ser humano, sendo algo que nasce com o Homem e lhe permite comunicar, expressar sentimentos, raciocínios ou teorias. O Homem, quando nasce, já é dotado de capacidades físicas que lhe permitem a aprendizagem de uma língua e o uso de linguagem, qualquer que seja o tipo de linguagem a que nos referimos, entre as quais oral, escrita, visual ou corporal.
4. Criatividade e produtividade
Qualquer ser humano é capaz de juntar sílabas ou palavras e reproduzi-las num novo contexto, inventar novas palavras ou conjunto de palavras e conferir-lhes um novo sentido. Da mesma forma, na linguagem não verbal é perfeitamente natural criarem-se novos conjuntos de gestos, novos contextos ou significados para a sua interpretação.
5. Arbitrariedade
Não sendo a linguagem humana uma essência metafísica, mas um produto histórico da actividade dos Homens, somos levados a verificar que as línguas não são sistemas puros de signos arbitrários.
Uma parte da comunicação pode ser assumida por factos de simbolismo na mensagem que se pretende transmitir, como o caso da entoação, cuja intensidade e acuidade podem variar proporcionalmente com o grau deste ou daquele sentimento, juízo expresso pelo locutor, sendo entonacional a energia do significante.
Conclui-se, com base no autor Fernand de Saussure no campo da linguística, que um signo (palavra, sinal próprio da linguagem verbal) é arbitrário, ou seja, absoluto, válido e obrigatório para todos os sujeitos que falam a mesma língua. Não há, desta forma, nenhuma necessidade real que ligue um significante (objecto físico ou material) ao significado que se lhe atribui (conceito, conteúdo conceptual).
6. Língua gestual
A relação arbitrária entre a forma (sons) e o significado de uma palavra na linguagem falada também se verifica nas linguagens de sinais utilizadas pelos surdos. Na língua gestual de cada país existem alguns sinais que podem consistir em imitações visuais dos seus referentes, podendo ser miméticos, semelhantes a mímica, ou icónicos, com uma relação não arbitrária entre forma e significado.
No entanto, os sinais mudam ao longo da história e o valor icónico perde-se. Esses sinais tornam-se então convencionais, tal como os sons das palavras não reflecte, o seu significado, também a forma ou movimento das mãos não reflecte o significado dos gestos nas linguagens de sinais. Assim, a natureza convencional e arbitrária da relação forma- significado nas linguagens é universal.
“Sabe-se, actualmente, que a capacidade de ouvir sons articulados não é condição necessária para aquisição e utilização da linguagem. Seres humanos que nasceram surdos aprendem as linguagens de sinais que à volta deles se utiliza e estas linguagens podem ser tão criativas e complexas como as linguagens faladas. As crianças surdas adquirem estas linguagens da mesma forma que as outras crianças desenvolvem a oralidade sem que lhes seja ensinada, ou seja, por mero contacto.”
Fromkin, V e R. Rodman, 1993
Parte II
Linguagem corporal
Na realidade actual a comunicação humana é cada vez mais manipulada pela tecnologia, quer através de meios mecânicos e electrónicos, quer através da massificação da comunicação que, por um lado, torna mais acessível a interacção a grande distância com um alargado número de pessoas e, por outro lado, despersonaliza qualquer acto comunicativo, perdendo-se assim todo um leque de experiências de comunicação directa entre indivíduos.
Capítulo 3
Estrutura da comunicação

1. A competência comunicativa
A comunicação humana verbal ou não verbal é um campo demasiado vasto e complexo que necessita de uma breve síntese do mecanismo de comunicação, quer do ponto de vista da interacção humana nos seus elementos constitutivos, quer no aspecto do seu funcionamento, evidenciando o seu dinamismo.
A competência comunicativa é definida como o “conjunto de pré-condições, conhecimentos e regras que fazem com que a qualquer indivíduo seja possível e realizável significar e comunicar” (Zuanelli Sonino, 1981). Daí a importância de um estudo sociolinguístico em relação ao facto de cada pessoa ser um membro activo de uma comunidade linguística e social por ser capaz de produzir e entender mensagens que o põem em interacção comunicativa com outros interlocutores.
A interacção comunicativa “compreende não só a habilidade linguística e gramatical (de produzir e interpretar frases bem formadas) como também uma série de habilidades extralinguísticas com elas correlacionadas que são sociais (no sentido de saber adequar a mensagem a uma solução específica) ou semióticas (que significa saber utilizar outros códigos para além do linguístico, como por exemplo o cinésico, as expressões faciais, os movimentos do rosto, das mãos, etc.)” Bitti e Zani (1997)
Com base em estudos de Frasier (1978) expressos em Bitti e Zani (1997), o sistema cinésico (movimentos das mãos, do corpo e do rosto, olhares, contacto visual recíproco, etc.) estão em constante evolução, adquirindo um dinamismo que não se encontra em elementos de interacção definidos por Argyle e Kendon como sendo mais estáveis, entre os quais a proximidade ou distância entre duas pessoas que indica a sua relação
Os sistemas da comunicação em que se baseia a competência comunicacional podem observar-se na fig.1 num quadro de Frasier, entre outras propostas e estudos de variados autores.
1. Verbal Verbal Linguístico Vocal Canal auditivo
2. Intonacional Não verbal
3. Paralinguístico Não-linguístico
4. Cinésico Não-vocal Canal visual
[1]


Capítulo 5
Interpretação dos gestos
1. Interpretação dos gestos no quotidiano

Com base nos estudos de Nierenberg e Calero (2000), nos quais se baseia este capítulo, pode afirmar-se que nos casos em que subconscientemente temos a impressão de que um determinado gesto observado é hostil, sentimos uma reacção de agressividade que resulta num círculo vicioso de hostilidade. Como ser racional, o homem deveria ser capaz de se basear em mais indícios antes de ter uma reacção não controlada conscientemente.
Antes de fazer juízos precipitados, deve-se reflectir e interpretar os gestos conscientemente, uma vez que podem ser consequência das disposições fisiológicas do sujeito observado. Desta forma, na vida quotidiana adquirem-se mais frequentemente informações que percepções empáticas do subconsciente.



2. Grupos de gestos
“Podia o seu nariz arfar e o seu lábio fazer beiço;
Podia a sua face corar e a sua testa enrugar-se;
Podia o seu peito ofegar e o seu coração palpitar;
Mas o seu punho estava sempre preparado para esmurrar.”
W. S. Gilberto, H. M. S. Pinafore

Quando fora do seu contexto, os gestos são mais dificilmente interpretados do que numa situação concreta em que são apresentados em conjunto, no seu complexo de circunstâncias em que se olha para toda a imagem e não apenas para um pormenor, na expressão inglesa “look outside the box”. O mesmo acontece quando uma palavra é interpretada por si só, desenraizada. Para se compreender uma língua, as palavras são expressas em grupos ou frases, da mesma forma que os gestos devem ser compreendidos em harmonia uns com os outros para a melhor compreensão e interpretação do seu significado.
Desta forma, um “riso nervoso” denuncia a incoerência entre a alegada diversão e a tensão em que se agita todo o corpo na tentativa de se libertar de uma situação desagradável.
De um momento para o outro, cada gesto pode ser contrariado, reforçado ou desconcertado por outro. Assim, podem tirar-se conclusões precipitadas sobre o significado das comunicações não verbais quando não se leva em consideração o factor coerência.



3. Coerência entre comunicação verbal e não-verbal
Estudos dos mesmos autores revelam que a atitude não-verbal se evidencia como a mais verídica durante uma troca de palavras, pelo que a coerência dos gestos interessa não só como base para comparar gesto com gesto, mas também palavra com gesto. É, portanto, o gesto a apoiar o que se diz que tem importância para a comunicação completa, verbal e não-verbal.
Estas afirmações revelam a importância da coerência entre comunicação verbal e não-verbal em certos contextos, nomeadamente um vendedor que tenta fazer o comprador acreditar na superioridade do seu produto, o caso de um discurso de um político que pretende ganhar as eleições ou um professor que tenta transmitir segurança e equilíbrio aos seus alunos.



4. Estudo dos gestos
“A cultura, a educação e todas as circunstâncias vivenciadas incorporam-se inexoravelmente ao seu património corporal.”
Mestre DeRose

Um gesto só pode ser entendido no seu contexto e as conclusões que da sua interpretação se tiram só devem ser feitas com base no grupo de gestos observados e nos gestos anteriores e subsequentes a um gesto que se pretende interpretar.
Na tentativa de compreensão do inteiro significado de um grupo de gestos é necessário observar primeiramente os componentes das várias espécies de comunicações não verbais que mais se encontram diariamente. Desta forma, resumem-se várias interpretações de expressões do rosto, maneiras de andar e apertos de mão.
4.1 Expressões do rosto
“Os olhos falam tanto como a língua, com a vantagem de que a linguagem dos olhos não precisa de dicionário para ser compreendida em todas as partes do mundo.”
Ralph Waldo Emerson

Sendo o grupo de gestos mais facilmente observável, as expressões do rosto são o aspecto das comunicações não verbais que menos controvérsias tem levantado.
Um “olhar assassino”, um “olhar de curiosidade”, um “olhar autoritário” ou uma “olhadela de cumplicidade” dificilmente passam despercebidos e são quase imediatamente descodificados pelo emissor e pelo receptor.
Em várias situações deparamo-nos com extremos em que uma pessoa agressiva e hostil se julga numa arena onde só se pode “vencer ou morrer” e fita os restantes com uns olhos bem abertos, os lábios cerrados, o sobrolho franzido, fala entre dentes mexendo ligeiramente os lábios. No extremo oposto, um indivíduo movimenta-se delicadamente com um ar de “menino de coro”, o olhar baixo, um sorriso dissimulado, as sobrancelhas levantadas sem franzir a testa, dissimulando a sua competência, tenacidade e aposta na cooperação entre os indivíduos que o rodeiam.
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Considerando as ilustrações de dois opostos em cima, da imagem da esquerda poder-se-á dizer que os sujeitos aparentam estar preocupados, zangados, desconfiados. No outro extremo, na imagem da direita, os indivíduos demonstram estar satisfeitos, à vontade e com boas intenções.
Os pormenores das expressões do rosto e o contexto do grupo de gestos denunciam a oposição entre os dois grupos, mais concretamente, as rugas na testa, posição das sobrancelhas, abertura exagerada dos olhos, narinas dilatadas, entre outros.
Charles Darwin procura averiguar, através do seu livro A Manifestação das Emoções nos Homens e nos Animais, “se as mesmas expressões e gestos têm o mesmo significado em todas as raças humanas”, de onde se destacam quatro perguntas cujas respostas provam a grande semelhança de comunicações através das expressões faciais:
1. A surpresa é exprimida por olhos e boca abertos desmesuradamente, e as sobrancelhas levantadas?
2. A vergonha provoca rubor, desde que a cor da pele permita a sua observação? E, geralmente, até que zona do corpo se estende esse rubor?
3. Quando um homem se sente furioso, ou está prestes a zangar-se, franze o sobrolho? Põe-se direito e ergue a cabeça? Endireita os ombros e cerra os punhos?
4. Quando um homem está profundamente ocupado a tentar compreender um assunto, ou a resolver um problema intrincado, franze a testa? Franze os olhos?


4.1.1 Sorriso
Com base nas descrições de Nieremberg e Calero, comparam-se vários tipos de expressões do rosto, entre as quais:
Simples sorriso – Não deixa aparecer os dentes, os lábios arredondam-se para trás e ligeiramente para cima, mas mantêm-se unidos. É o sorriso daqueles que não estão a fazer nada, sorriem para si mesmos.

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Meio Sorriso – Deixa mostrar os dentes superiores e a boca entreabre-se ligeiramente. Aparece, geralmente, durante uma conversa entre duas pessoas, ao olharem um apara a outra. Também se faz um meio sorriso quando se encontram amigos ou quando as crianças cumprimentam os pais.
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Sorriso aberto – É muitas vezes provocado por divertimento ou brincadeiras e é acompanhado, geralmente, de uma gargalhada sonora. A boca abre-se, os lábios recuam, os dentes superiores e inferiores aparecem, havendo raramente uma troca de olhares.

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O sorriso pode, por vezes, não estar associado a momentos de boa disposição:
Sorriso amarelo – Os lábios afastam-se completamente dos dentes e formam uma espécie de oval, não havendo sinceridade mas tentando mostrar amabilidade. Os músculos faciais são forçados e os olhos não ficam amendoados como num sorriso sincero.
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Sorriso mordendo o lábio – semelhante ao meio sorriso, apenas com a diferença de que o lábio inferior se mete entre os dentes. Isso significa que a pessoa se sente, por qualquer motivo, intimada pela pessoa com quem está a falar.


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4.1.2 Olhar

Confronto“Durante uma discussão entre duas pessoas as expressões são evidenciadas e, em geral, os sobrolhos ficam carregados, formando rugas entre as sobrancelhas, ao mesmo tempo que os lábios se estendem ligeiramente para a frente sem, contudo, mostrar os dentes. A cabeça e, muitas vezes, o queixo, avançam numa atitude provocadora e os olhos fixam o adversário com ar de desafio, “olhares desafiadores”. Em situações destas, nenhum dos indivíduos perde o outro de vista porque, se o fizesse, isso significaria derrota ou medo da parte daquele que tivesse desviado o olhar. Portanto, os olhos fitam-se fixamente, como que hipnotizados, e numa concentração intensa” Nieremberg e Calero (2000)




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Choque / Surpresa – A boca do indivíduo fica completamente aberta devido à descontracção dos músculos do maxilar inferior, deixando descair o queixo. Os olhos abrem-se, as pupilas dilatam e o sobrolho é franzido.
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Dor – Os olhos abrem-se, o sobrolho franze-se a boca contrai-se e os membros acompanham a dor e a tensão que atinge todo o corpo.
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Concentração – A boca abre-se involuntariamente também em situações de intensa concentração. Dos olhos para baixo, os músculos faciais ficam completamente relaxados, podendo a ponta da língua aparecer entre os lábios. O olhar é a parte do corpo onde se concentram as energias, aguçando os cinco sentidos e, em primazia, a visão. Os olhos poder-se-ão semi-cerrar ao focar ou seleccionar as informações visuais que estão a ser interiorizadas.
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Fitar o interlocutor – Em geral, dois indivíduos olham-se durante cerca de 30 a 60% do tempo que dura a conversa, como afirma Michael Argyle em Psicologia do Comportamento nas Relações Humanas. No caso de se ultrapassar os 60%, o autor afirma que o ouvinte estará mais interessado no interlocutor que no seu discurso. Se, por outro lado, no caso de duas pessoas raramente se olharem durante uma conversa, poderão estar a tentar disfarçar alguma coisa.
Citando o mesmo autor, as pessoas que “pensam de uma maneira abstracta têm tendência para olhar mais que as que pensam concretamente, porque os pensadores abstractos têm uma capacidade maior para integrar os pormenores que vêem e estão menos sujeitos a ser distraídos pela influência do olhar”. É também curioso o facto de a maioria das pessoas preferir olhar enquanto ouve e não enquanto fala e olhar com aversão quem lhe coloque questões incomodativas ou desagradáveis. A dilatação das pupilas denuncia a agressividade, desconfiança ou hostilidade de quem é posto à prova.
A individualidade de cada ser humano, as suas origens, a sua atitude perante o mundo terão de ser tidas em conta na interpretação da sua linguagem corporal, uma vez que o facto de esconder um sorriso ou desviar o olhar poderão ser fruto de timidez, introversão ou algum trauma que poderá não denunciar um eventual embaraço ou culpa.
Deitar o olho – A expressão facial é acompanhada por um olhar fugaz de interesse, capturando uma imagem numa fracção de segundo. Se alguém deitar o olho a um indivíduo e este retribuir o olhar, denuncia o interesse recíproco.
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Olhar de lado – É a maneira de olhar das pessoas reservadas que, furtivamente, querem ver mas não querem ser apanhadas a olhar.
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Olhadela – Os olhos semicerram-se, as pálpebras baixam-se um pouco, não para esconder o olhar mas para melhor o concentrar num objecto de interesse. É típico dos namorados ao jurar amor eterno e dos pintores ao apreciar o progresso das suas obras.
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Citando uma série de artigos para o Training and Developmente Journal de George Porter: “O aborrecimento ou a confusão podem ser indicados por uma ruga; a inveja ou incredulidade, pelo levantar das sobrancelhas; o antagonismo, pelo cerrar das maxilas ou por um olhar de soslaio. Ainda há a considerar o gesto, bastante vulgar, de avançar o queixo, como faz um rapazito atrevido quando se rebela contra os pais. Quando uma pessoa está furiosa e cerra os maxilares, repare-lhe nos lábios: também estão cerrados e franzidos, o que indica estar numa posição defensiva, sem querer mostrá-lo, e com a intenção de reagir o menos possível.”


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Sarcasmo Pasmado Fúria
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Dúvida Surpresa, Concentração Confusão, Incredulidade


4.2 Maneiras de andar
Desajeitado, atrapalhado, constrangido, sem a agilidade para se mover graciosamente, ou para se manter de pé, sossegado…; uma das pernas, como se desconfiasse da sua companheira, parece ansiosa por fugir dela.”
Charles Churchill, The Rosciad

A estrutura de cada indivíduo pode conferir-lhe uma maneira de andar única e inigualável, variando a largura do passo e a atitude conforme as emoções que habitam cada pessoa.
Na perspectiva de Nieremberg e Calero (2000), uma criança feliz tem um andar mais rápido e leve e, no caso de se sentir infeliz, encolhe os ombros e arrasta os pés como se os sapatos fossem de chumbo.
Se, por um lado, uma pessoa que tem em mente um objectivo concreto e urgente anda depressa e deixa balançar os braços à vontade, por outro lado uma pessoa que anda com as mãos enfiadas nos bolsos mesmo sem estar frio tem tendência a ser criteriosa e discreta, sentindo o prazer em rebaixar os outros desempenhando o papel de advogado do diabo.
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Desanimado - As pessoas desanimadas têm tendência a arrastar os pés e meter as mãos nos bolsos, levantando raramente a cabeça sem olhar para onde se encaminham, vagueando com o olhar fixo no chão.
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Energético - Sobre uma pessoa que ande com as mãos apoiadas nas ancas poder-se-á dizer que pretende andar o menos possível para alcançar o seu objectivo no mais curto espaço de tempo. Tem súbitas manifestações de energia, às quais se seguem momentos de aparente desinteresse planeando o próximo e decisivo ataque.
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Preocupado - O andar que denota uma atitude de meditação caracteriza-se pela cabeça baixa e mãos agarradas atrás das costas. O andar é lento, ponderando todos os aspectos do assunto e poderá ser interrompido por um pontapé numa pedra ou o apanhar de um papel do chão, virá-lo e revirá-lo e deixá-lo novamente no chão.
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Emproado – Um andar pretensioso, mostrando a auto-satisfação através do queixo levantado, a balançar os braços exageradamente, as pernas um pouco hirtas e o passo decidido, com o propósito de impressionar.
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4.3 Mãos

As mãos são um dos instrumentos corporais mais importantes na comunicação não verbal, expressando verdade, mentira, honestidade, tensão, nervosismo, confiança, entre outros.
Aperto de mão masculino - Resquícios de cavalheirismo requerem um aperto de mão firme que sele os laços transmitidos através do olhar e das palavras.
Aperto de mão feminino - No caso das mulheres, estas adoptaram o aperto de mão semelhante ao masculino em situações tão diversificadas como reuniões de negócios ou cumprimentos a desconhecidos. No entanto, em momentos dolorosos, a mulher demonstra o seu apoio a outra mulher pegando-lhe carinhosamente nas mãos e, enfatizando a expressão do rosto, mostra-lhe a sua sincera empatia. Muitas vezes um abraço reforça o apoio emocional demonstrado, sendo raros os momentos que uma mulher se comporta desta maneira para com um homem.
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Acto cultural – O aperto de mão, como já referida a sua origem na época do Império Romano, tem a simbologia da cordialidade através do contacto das palmas das mãos, uma na outra, indicando sinceridade e paz.
Tipos de aperto de mão - O aperto de mão pegajoso é desconfortável, indicando nervosismo da parte daquele que transpira das mãos, ao passo que o aperto de mão flácido poderá denunciar o atleta que tenta controlar a força aplicada no aperto, ou uma profissão que exija as mãos como principal instrumento, como o caso de artistas plásticos, músicos ou cirurgiões que tentam proteger as suas mãos. O aperto de mão tipicamente americano é tipicamente feito com a mão direita e acompanhado por uma leve pancada no braço direito ou no ombro da outra pessoa, ou com a mão esquerda pousada nas costas da mão direita da pessoa que se está a cumprimentar.
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Expressividade das mãos:
Sinceridade – As palmas das mãos são mostradas num acto de honestidade e verdade.
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Preocupação /frustração – As mãos esfregam o couro cabeludo ou esfregam-se uma na outra, acompanhadas pela expressão facial correspondente ao contexto.
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Fé / Confiança – Um dos gestos mais significativos da fé humana consiste no entrelaçar dos dedos uns nos outros, enquanto que num gesto de confiança as pontas dos dedos tocam-se e as mãos esboçam uma abóbada.

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Confiança / Autoridade – As mãos colocadas atrás das costas, as costas direitas e o peito para fora caracterizam os altos postos militares ou náuticos, bem como a austeridade dos colégios antigos.
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Autocontrolo – As mãos tentam agarrar-se à cadeira e as pernas cruzam-se, numa tentativa de controlar o ímpeto de saltar sobre o adversário.
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Agressividade / controlo – As mãos são colocadas sobre a mesa, geralmente nas pontas ou perto das extremidades, com os braços esticados e o corpo apoiado nas mãos, inclinado sobre o interlocutor, de quem não se tira o olhar fixo nos olhos.
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Confronto vs defensiva – As expressões faciais acompanham o levantar do braço em tom agressivo, com a mão esticada e tensa. O corpo inclina-se sobre o adversário à medida que avança em sua direcção, confrontando-o. Este, por sua vez, cria uma barreira intransponível através dos braços cruzados e da expressão vazia mas defensiva, recuando face às investidas do dominador.
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Avaliação – As mãos passeiam pelo rosto, salientando o movimento dos dedos em redor do queixo, têmporas e nariz.

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Defensiva – Os braços cruzam-se, por vezes simultaneamente às pernas, numa tentativa de elevar uma barreira incolor porém intransponível que não deixará margem para o interlocutor invadir nenhum tipo de privacidade nem entrar em pormenores. Para além dos braços cruzados e os punhos escondidos, estes podem estar cerrados, demonstrando tensão e agressividade, ao passo que quando as mãos agarram os braços tentam autocontrolar a fúria e um eventual confronto, reprimindo as emoções também com os dentes a morder o lábio inferior.
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Desembaraço – Qual varina, as mãos colocadas na cintura deixam antever desembaraço e confiança por parte dos indivíduos.
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4.4 Distância interpessoal


A distância entre duas pessoas que conversam, independentemente do tema do diálogo, é sinónimo da relação de intimidade entre os dois interlocutores, podendo medir-se inconscientemente a distância que conservam entre si.
De uma maneira geral, afirma-se que dois desconhecidos distam entre si durante uma conversa formal cerca de um 1m ou 1,5m, enquanto que dois amigos ou familiares têm entre si um vazio de cerca de 45 cm, ao contrário de dois namorados ou pessoas com uma relação bastante próxima que distam entre si apenas alguns centímetros, diminuindo em muito o afastamento que algumas regras sociais impõem.
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Desconhecidos Amigos, familiares Íntimos

É ainda curioso o facto de a distância que se mantém entre duas pessoas vai aumentando à medida que a idade vai aumentando também, sendo significativa a diferença entre a distância guardada pela criança e pelo adulto.


4.5 Postura

A postura é uma constante na vida de qualquer pessoa, conferindo-lhe a seriedade ou descontracção que se misturam com o ambiente em que o indivíduo está inserido.
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Rigidez Aborrecimento
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Descontracção Indiferença Arrogância


4.6 Pernas
Americano ou Europeu, o cruzar de pernas de cada indivíduo poderá eventualmente denunciar as suas origens culturais ou geográficas, transparecendo mais ou menos virilidade ou masculinidade em oposição ao cruzar de pernas feminino, mais sensual e mais cuidado para não mostrar nenhuma área que não se pretenda.
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Europeu Americano

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Sedução feminina
Parte III

Linguagem corporal no quotidiano


Capítulo 5
Meios de comunicação de massas – alienação da linguagem corporal

1. Rádio
Se no princípio das comunicações para a população em geral o rádio teve uma importância fulcral para a divulgação da música, notícias, radionovelas, entre outros, a comunicação apenas via auditiva está cada vez mais a ser ultrapassada pelos meios de comunicação que integram o áudio e o vídeo. É delicioso relembrar ou descobrir todos os artifícios de que as estações de rádio se muniam na tentativa de representar exclusivamente em sons aquilo que pretendiam transmitir, utilizando para tal mecanismos de manivelas e alavancas que aumentavam a riqueza da sonoplastia, imitando o som da chuva, trovoadas, portas a ranger, campainhas, carros, deixando de parte a componente da comunicação não verbal, uma vez que não se tinha acesso à visualização das emissões nem à interacção entre o locutor e o interlocutor.
Actualmente, as emissões de rádio estão acessíveis não só nos aparelhos comuns, mas também se pode ouvir rádio no automóvel ou em qualquer outro meio de transporte, bem como nos telemóveis, leitores de mp3 ou ainda na Internet, pelo que a companhia é constante e poderá influenciar o ouvinte que poderá dançar ao ritmo da música, divertir-se com uma entrevista ou chocar-se com uma notícia.
Assim, as expressões faciais, a postura descontraída ou mais tensa do receptor alteram-se consoante a mensagem que lhe é transmitida. Não há, no entanto, interacção entre os dois lados da mensagem, o que despersonaliza a comunicação não verbal e leva à alienação das pessoas em relação à socialização umas com as outras.



2. Televisão
A televisão é o meio de comunicação por excelência da influência da opinião pública, uma vez que tem um peso na comunicação que transmite que é dificilmente inigualável, até pela massificação de dispositivos actualmente. A maioria das casas tem um televisor na cozinha que é utilizado enquanto se fazem as lides domésticas, um no quarto principal que estará ligado após o casal se recolher aos seus aposentos, altura em que as crianças ou adolescentes vão para os seus quartos onde têm também uma televisão acrescida eventualmente de um leitor de DVD ou de uma consola de videojogos em frente da qual estes passarão a maioria do tempo livre. Este factor contribui em grande parte para a obesidade infantil mundial, para o baixo rendimento escolar e para a alienação dos jovens em relação ao que se passa à sua volta.
A televisão da sala, peça de mobiliário tão indispensável como os talheres, está geralmente ligada durante todo o tempo em que alguém está em casa, mesmo que não esteja a dar-lhe atenção. Durante a hora do lanche e principalmente do jantar, as notícias das tragédias mundiais, as novelas ou as séries de reality show sobrepõem-se à conversa sobre o dia de cada elemento da família, das suas conquistas, aprendizagens, dos seus receios, problemas ou projectos para o futuro. Há, no fundo, uma dependência não salutar na gestão do tempo que as pessoas passam em frente à televisão, alienando-se do mundo que as rodeia.
Se, por um lado, as pessoas assumem uma atitude passiva em relação à televisão, tornando-se sedentárias e diminuindo o contacto corporal com quem os rodeia, por outro lado existe o factor comunicativo deste meio de comunicação, quer através dos conteúdos transmitidos, quer através da manipulação e controlo dos vários tipos de linguagem, nomeadamente a linguagem verbal associada à corporal. Da mesma maneira que no cinema ou no teatro os actores fingem atitudes, sentimentos e estados de espírito ao encarnar outra personagem, também em televisão se tentam controlar os vários domínios da comunicação, acrescido do factor surpresa numa eventual emissão em directo, onde não se pode cortar um plano em que o apresentador franziu o sobrolho em sinal de desacordo ou juízo moral.
É, em suma, uma mais valia saber descodificar os códigos da linguagem corporal, quer para quem trabalha no meio televisivo e tem como obrigação fazer passar uma mensagem específica sem que esta seja colocada em causa e, no extremo oposto, o espectador saberá distinguir melhor a realidade da ficção, ao analisar o discurso oral em comunhão com o corporal e daí concluir se o que lhe está a ser transmitido é verdadeiro ou não passa de uma boa representação. Não há, no entanto, interacção entre o emissor e o receptor, o que leva à diminuição da socialização entre seres humanos e ao culto do individualismo.



3. Videojogos

O jogo é, por excelência, um meio de desenvolvimento de competências de cooperação e comunicação bastante importante, visto os jogadores interagirem uns com os outros e terem de comunicar estratégias, tendo como meta um objectivo comum e colectivo. Desde os povos primitivos que criavam jogos violentos de virilidade em que o mais forte derrubaria o mais fraco e ganhava o jogo, aos jogos da antiguidade clássica em que se adoptavam determinados gestos que teriam certas interpretações por parte dos jogadores, o jogo esteve presente em toda a evolução da sociedade, privilegiando a cooperação, combatividade e interacção corporal.
Actualmente, os jogos tradicionais são apenas um breve apontamento na vida das crianças, um reviver do passado longínquo das gerações mais velhas e, porventura, uma referência saudosa em livros de história futuros, visto a imagem ter assumido o papel principal nesta sociedade em que os jogos individuais em que o homem interage com uma máquina tomaram o controlo. Desde a Nintendo, Sega e o gameboy, passando pela Playstation tradicional e portátil, a dependência que tem incutido aos jovens e também aos adultos tem feito com que, cada vez mais, o jogo seja um acto solitário, violento e extremamente competitivo, perdendo-se os valores da comunicação e cooperação. Dois jovens estão um ao lado do outro a jogar mas, no entanto, não se olham, não se tocam e não emitem sinais que certamente não serão interpretados pelo companheiro. A recompensa fácil e imediata tomou conta do prazer do desafio a longo prazo, intelectual e comunicativo.
Para além da postura incorrecta dos jogadores, que frequentemente passam horas enrolados no sofá ou na cama a olhar para o televisor ou monitor, a alienação face à sociedade deveria ser um motivo de preocupação dos pais que colaboram comprando jogos violentos em que os heróis ganham pontos ao matar o maior número de pessoas ou monstros.



4. Telefone / Telemóvel
Desde a invenção do telefone e o registo da patente por Bell, a sua evolução tem sido extraordinariamente benéfica para a sociedade. Em situações de emergência, atrasos para as refeições, encontros ou reuniões, o telefone permite cada cidadão informar o mundo daquilo que se passa na sua vida, bem como ser informado daquilo que se passa no mundo que o rodeia.
São bem conhecidas dos pais as longas conversas dos adolescentes com os amigos, que estiveram o dia inteiro juntos na escola mas que em casa é mais cómodo relatar os acontecimentos e reflectir sobre certos actos que alguém cometeu, sem que ninguém veja a sua postura, expressão facial, movimentos das mãos ou das pernas. Consequentemente, a comunicação através do telefone cingiu-se à eloquência, à linguagem oral e deixou a corporal de parte. Certo é que, segundo alguns estudos, se uma pessoa sorri quando está a falar ao telefone, a sua voz será ouvida mais melodicamente, a entoação alterar-se-á e a mensagem que pretende transmitir será mais agradável.
Com a massificação da utilização do telemóvel, os alunos passaram a estar comunicáveis durante todo o dia, deixando os telemóveis tocar durante as aulas ou a altas horas da madrugada, geralmente recebendo ou enviando mensagens de texto, sms, que, para além de alienarem a linguagem corporal, distanciam-se também da linguagem oral, deixando uma margem de tempo para quem irá responder à mensagem reflectir sobre o curto texto que recebeu, escrevendo, apagando e voltando a escrever a sua resposta, perdendo-se assim a espontaneidade de um acto comunicativo entre mensagens.
É frequente entre os jovens estarem juntos no mesmo espaço físico mas não conversarem, não trocarem ideias nem informações por estarem constantemente a ser interrompidos pelo telemóvel, quer por chamadas ou sms de pessoas ausentes, quer para comunicar entre si por terem vergonha ou ficarem embaraçados por estar a falar com a pessoa de quem gostam ou que as intimida.
É também um factor negativo a abreviação de palavras por economia de tempo, caracteres e dinheiro, passando para os apontamentos tirados nas aulas, diálogos na Internet, recados aos pais e, consequentemente escrita deformada nos testes e em documentos que requerem uma linguagem formal e correcta.





5. Internet
Hoje em dia é inegável o uso de computadores na vida pessoal e dentro das escolas, visto ser uma ferramenta essencial aos professores, aos alunos e à sociedade em geral. Os programas de processamento de texto, de edição de fotografias ou vídeo, de programação ou a Internet estão facilmente acessíveis ao comum dos mortais.
A Internet abre as portas a toda a informação existente na base de dados mundial, o que poderá ser bastante positivo mas que, se não for controlado ou utilizado correctamente, poderá ter efeitos nefastos na sociedade. As salas de chat, mirc, Messenger, Hi5 ou blogs constituem uma parcela bastante grande da utilização que os jovens fazem da Internet, que raramente tem controlo por parte dos pais ou dos professores e que escancara várias portas aos jovens que se sentem tentados a experimentar situações novas.
Actualmente os Estados Unidos enfrentam uma epidemia de pedófilos que atraem as suas presas através da Internet e os jovens, estando sentados em frente a um computador com uma webcam, acabam por ser vítimas de abusos dentro da sua própria casa, sendo posteriormente aliciados para encontros, o que acontece também com adultos que procuram aventuras diferentes do seu quotidiano mas que muitas vezes se deparam com situações extremas de violência e desrespeito pela sua individualidade.
A alienação corporal que advém do uso do computador tentou ser combatida através do recurso a imagens, animações e smiles, que tentam expressar sentimentos e expressões faciais que os dois sujeitos da conversa não poderão visualizar através do monitor, a menos que tenham webcam.
Em suma, o computador atrai inexoravelmente os jovens, quer para situações positivas de aprendizagem, quer para situações de risco, o que, em ambos os casos, pressupõe a individualização, competitividade e afastamento da sociedade, cortando a interactividade das relações humanas.



Capítulo 6
Linguagem não verbal nas Artes

A arte representa, para além de outras coisas, os sentimentos, as emoções e os estados de alma e, para tal, não utiliza linguagem verbal. A linguagem visual, o que nós observamos, transmite-nos aquilo que o artista representou e não só, poderá fazer-nos sentir coisas novas que o artista não teria incluído no seu conceito, da mesma forma que interpretamos uma obra de arte de maneira diferente de cada vez que a observamos, dependendo de como nos sentimos na altura, das nossas vivências e das nossas raízes culturais.
Todas as formas de arte se servem de ícones, simbologias e arquétipos para transmitir uma mensagem ao receptor, quer seja através de diálogos, musicalidade, ritmo, cor, forma, textura, entre outros. A linguagem não verbal é, no fundo, uma bengala que suporta todo um conjunto de mensagens que serão apreendidas pelo observador.


  1. Pintura
Desde as pinturas rupestres que são dos únicos relatos que temos da vida no paleolítico, passando pelos quadros carregados de simbologia da idade média, ou os controversos quadros de Leonardo da Vinci que alegadamente escondem verdades acerca da vida e descendência do Todo Poderoso, a arte está impregnada de simbolismos, analogias e retoques visuais que simbolizam questões que a literatura não ousa perpetuar na escrita.
Uma vez que não têm legendas, à excepção de alguns títulos de obras, cada obra de arte é única e contém mensagens que serão digeridas pelo olho humano que as transmite ao cérebro que, por sua vez, será transformado em pensamentos, comparações e reflexões sobre a mensagem recebida. Desta forma, cada obra de arte é contemplada como um acto isolado, emitindo pormenores que serão captados e entendidos de forma subconsciente e subjectiva, diferente da interpretação de todas as outras pessoas que passearem a vista pela mesma galeria.
Cada ponto, cada linha, cada pincelada ou junção de cores é previamente estudada, quer seja consciente ou inconscientemente, permitindo o observador ler a obra e descodificar as mensagens baseado nos códigos que conhece.
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Relativamente à linguagem corporal na arte, é importante estudar a interacção das personagens com o meio ou contexto onde o pintor as inseriu, a postura em que as colocou, o olhar, o sorriso, a tensão muscular ou proximidade com outras personagens que coabitem a mesma tela. É inegável a dicotomia inerente ao sorriso da Mona Lisa de da Vinci, bem como a utilização de duas cores complementares no olhar dos autoretratos de Van Gogh ou de Matisse, ou ainda a tensão de Guernica de Picasso.
Ao observar uma obra de arte, o receptor da mensagem deverá estudar a harmonia dos gestos, a interacção e a relação entre todos os elementos que o artista tentou transmitir consciente ou inconscientemente, pelo que se torna imprescindível o conhecimento dos códigos da linguagem corporal.
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O rapto das Sabinas - Jacques Louis David (1748-1825)


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A Jangada da Medusa - Théodore Géricault (1791-1824)


2. Escultura
Cada escultura representa uma situação real, imaginada, um conceito ou uma abstracção, ou todos os componentes em conjunto. Qualquer que seja o material utilizado, as esculturas que representem a figura humana têm pormenores que constituem, no seu todo, uma representação do real que não é necessariamente figurativa, mas que se baseia em seres humanos e, por isso mesmo, representará uma postura, uma expressão facial ou dos membros que enviará uma mensagem ao receptor.
Cada escultura imortaliza um olhar fortuito, uma expressão de desespero, um sorriso aberto, um apertar de mãos, um cruzar de pernas, um franzir de sobrolho, ou uma expressão de total indiferença, enriquecendo a obra de arte de forma a que o observador se questione sobre a representação, tenha dúvidas, reflicta, se reveja ou sinta repulsa pelo que vê.
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2. Música
À semelhança das artes plásticas, a música está presente em grande parte da vida de cada indivíduo, influenciando o seu estado de espírito e a sua atitude perante o mundo.
Os músicos dos diferentes estilos musicais adoptam diferentes posturas e, como consequência directa, a sua linguagem corporal é bastante diversificada, correspondendo coerentemente ao tipo de música que é produzida. Um saxofonista adopta uma postura inclinada em que o instrumento é um prolongamento de si próprio, os braços acompanham o ritmo da música e o corpo balança-se também, o que acontece com a maioria dos instrumentos musicais. Um acordeonista terá tendência para acompanhar com os cotovelos o ritmo, marcando os compassos com o pé, abrindo e fechando o fole ao mesmo tempo que tenta sincronizá-lo com a sua respiração. Um guitarrista terá tendência para acompanhar o ritmo e intensidade daquilo que toca com os músculos faciais, exagerando o movimento das sobrancelhas e gesticulando com a boca.
Durante um concerto, os espectadores adoptam também uma postura coerente com o ritmo da música que estão a ouvir, ficando geralmente sentados e com um ar calmo e um leve sorriso nos lábios durante a actuação de uma orquestra ou um concerto de jazz. Se, pelo contrário, a plateia estiver a assistir a um concerto de rock, os saltos a imitação dos gestos do guitarrista ou do baterista serão inevitáveis, sendo que a expressão facial, a respiração e o batimento cardíaco se adaptam ao contexto.
Num arraial ou num sambódromo será muito improvável encontrar alguma pessoa que não esteja a dançar ou que não adopte uma postura ajustada à situação, uma vez que são imediatamente contagiadas pelo ritmo, adoptando um sorriso e uma postura descontraída, um andar leve e uma atitude relaxada e agradável.
No caso de um intérprete, a expressividade do rosto do cantor dá mais veracidade e credibilidade ao tema, sendo importante referir que os diferentes estilos de música têm, obrigatoriamente, cargas emocionais e performances distintas. Todo o dramatismo que a Amália colocava na sua voz era reforçado pelos belos vestidos que utilizava, pelos guitarristas e também pela expressão do seu rosto e pelas suas mãos. No caso de uma banda de rock, o cantor adopta imediatamente uma postura coerente com aquilo que está a cantar, pelo que não se vê o sorriso e a expressão do olhar suave, embora a mensagem possa ser semelhante, devido ao canal pelo qual é transmitida.
No que toca a ouvir música, a evolução das tecnologias multimédia foi exponencial e hoje em dia qualquer pessoa tem fácil acesso a todos os estilos de música, em variados formatos e facilmente transportáveis.
Desde a música tocada exclusivamente na corte, passando pelos concertos de domingo à tarde nos coretos da cidade, até às salas de concertos, coliseus, a música ficou acessível ao cidadão comum com a invenção do rádio. Posteriormente, com a massificação dos meios audiovisuais como o cinema ou a televisão, outras necessidades surgiram. Algumas das alternativas passavam pela saudosa grafonola, os discos em vinil, cassetes ou o CD que, mais tarde ou mais cedo, se tornará obsoleto e aparecerá num museu ou numa feira de antiguidades. Estas formas de escutar e apreciar música permitiram fazê-lo em casa, distante de olhares indiscretos, permitindo a dança ao som de Sinatra ou Ella num ambiente relaxado, sensual e que permite uma panóplia de expressões corporais que não seriam aceitáveis nos salões de dança.
Os sistemas de som permitiram levar a música aos arraiais, festas de associações, clubes, meios de transporte, restaurantes, bares ou discotecas, onde as pessoas de divertem ao som da música e a sua fisionomia relaxa e adquire um tom suave.
Mais recentemente, os aparelhos portáteis como o walkman, minidisk, discman, mp3, ipod ou até mesmo o telemóvel servem como dispositivo de armazenamento e leitura de qualquer género de música, que é descarregada a partir de um computador ou comprada nas lojas da especialidade e permite qualquer pessoa ter acesso permanente a música. Desta forma, vê-se nas ruas, nos meios de transporte, nas escolas, cafés, filas de repartições, praia, eventos desportivos, etc. A música está, no fundo, em todo o lado e as pessoas adoptam, uma vez mais, a postura correspondente ao estilo de música que estão a ouvir. Mais que um estilo de música, passa a ser um estilo de vida, sendo possível depreender pela linguagem corporal de cada pessoa o que a música lhe está a transmitir, quer pelo ritmo marcado pela cabeça a abanar, quer pelos pés, pernas ou mãos a marcar os compassos. Vêem-se pessoas a gesticular com os lábios as letras das canções, outras vocalizam algumas frases, outras preferem até o karaoke que lhes permite libertarem-se de tensões e divertirem-se, alargando o sorriso, descontraindo os olhos e o sobrolho ou deixando os braços livres de tensões.



3. Teatro
Os Romanos gostavam muito de ir ao Teatro e a maioria das cidades possuía um anfiteatro, normalmente ao ar livre, o que obrigava a que quase todos os espectáculos se efectuassem durante o dia. Só os homens podiam ser actores, pelo que os papéis femininos eram desempenhados por rapazes e cada um usava uma máscara para representar a sua personagem. Consequentemente, o uso da máscara obrigava a um exagero da expressividade do corpo, para que a representação se tornasse apelativa.
Hoje em dia ainda se verifica o exagero dos gestos, das expressões corporais e faciais, acentuando o dramatismo de uma forma absolutamente trágica ou o romantismo de uma forma apaixonadamente expressiva. A comédia é também um momento em que se enfatizam os gestos daquele que se está a caricaturar, nomeadamente no teatro de revista.
O teatro mudo é, sem dúvida, o expoente máximo da expressividade corporal, uma vez que não existem diálogos e a mensagem tem de ser transmitida através dos gestos e da expressão do rosto. Um exemplo dessa expressividade são os mimos, que para além da sua expressão adorável, exprimem uma paleta variadíssima de mensagens através do seu corpo.
No stand up comedy, vertente mais actual da comédia, a expressão corporal e a comunicação não verbal sobrepõem-se aos diálogos que são, por natureza, bastante minimalistas.
Nos espectáculos de rua é imperativa a manipulação dos gestos que se transmitem, dada a vulnerabilidade do artista e também a sua necessidade de cativar e estimular os espectadores num curto espaço de tempo em que tem de passar a sua mensagem, visto dispor apenas de momentos fugazes de atenção.



4. Cinema
Nos primórdios do cinema, quando os actores não podiam falar por impossibilidade técnica, antes de se conciliar som e imagem e deixar de dar tanta importância à expressividade visto poderem acrescentar-se diálogos às cenas, o cinema era mudo e, como tal, os actores tinham de enfatizar os seus movimentos, os seus gestos e as suas expressões faciais. Um olhar de surpresa, um sorriso triste, uma piscadela de olho eram representadas nessa altura de maneira bastante diferente de hoje em dia, visto que se podem utilizar outras artimanhas para enfatizar situações de suspense, drama, emoção, comédia, romantismo, tragédia.
Charlie Chaplin imortalizou o cinema mudo nas suas cenas de comédia genuína em que a linguagem corporal ditava o rumo do filme apenas intercalando com algumas frases narrativas da situação.
Actualmente os actores recebem formação em artes performativas e expressão dramática, entre outras e, para além da luminosidade, sonoplastia e décors, a linguagem corporal constitui uma base bastante larga para a representação cinematográfica. O actor tem de conhecer os significados de cada olhar, cada sorriso, a maneira de andar ou de movimentar as mãos de forma a construir uma personagem coerente e que pareça verdadeira e que, no fundo, consiga ludibriar os espectadores ao transmitir uma mensagem oral que corresponda à linguagem corporal, enfatizando cada momento da sua representação, tornando-a mais rica.


5. Literatura

A literatura, como forma de arte escrita, tem já incorporada toda a panóplia de codificação de signos, metáforas, morfologia e sintaxe, obedecendo a regras rígidas explicitas na linguística, que poderão ser seguidas, quebradas ou contornadas. No entanto, para que se siga um caminho desviado das normas padrão, é necessário conhecer certas regras, e saber utilizá-las, sendo importante não só a alfabetização, mas fundamentalmente a literacia.
Nos primeiros anos de escola os pais e professores preocupam-se em ensinar essas regras, o aluno tem de completar o ensino básico a saber ler e escrever mas, mais importante que isso, tem de saber pensar e saber transmitir essas ideias, mais que saber as regras de conjugação de verbos, não lhe tirando a sua devida importância.
Poderia estimular-se mais em casa e nas escolas a escrita criativa, o pensamento criativo e ajudar as crianças a desenvolverem as suas capacidades de comunicação para se tornarem adultos com pensamento flexível, estimulante e desenvolvido.
É apanágio das grandes mentes a incompreensão por parte da sociedade, o que não deverá fazê-los parar de criar nem de ser loucamente geniais. Como consequência, temos hoje grandes obras-primas que, para além da métrica e da sintaxe, há a preocupação constante de dar ao leitor a visualização dos ambientes, estimulando os cinco sentidos através de metáforas, comparações, ou personificações. Desta forma, as personagens são descritas do ponto de vista do seu aspecto exterior, mas também da maneira como interagem umas com as outras e com o mundo.
Assim, a linguagem corporal é um factor – chave para um escritor transmitir ao leitor os sentimentos, estados de espírito ou ânsias das personagens sem quebrar o encanto e referir o sentimento que trespassa cada personagem, mas deixando o leitor descobrir e interpretar os gestos, as expressões e visualizá-las nos contextos descritos ou imaginados.
É frequente um leitor criar empatia com uma determinada personagem e antever os seus passos, ou criar laços com um livro que posteriormente será adaptado ao cinema e, nessa altura, ficar desapontado com o resultado da interpretação pessoal do realizador, da interpretação dos actores ou do ambiente geral que não é compatível com o que o leitor tinha imaginado aquando da leitura do livro.
Parte IV
Linguagem corporal na Educação

Capítulo 7
Linguagem corporal na adolescência
Ao aprender linguagem corporal, podem conhecer-se as pessoas para além daquilo que as palavras deixam ver e pode agir-se de maneira a controlar o que a outra pessoa vê.
4.4 O silêncio dos membros
Todas as pessoas no mundo utilizam a linguagem corporal, em todas as cidades, países, continentes e, provavelmente, em todos os sistemas solares. É uma linguagem sem enfadonhas listas de vocabulário, complicadas listas de verbos e, seguramente, sem testes. É, no fundo, uma grande ferramenta que os adolescentes certamente utilizarão como ferramenta quotidiana numa fase da sua vida em que as descobertas ultrapassam o sentido da visão, extrapolando-se para todos os sentidos e, consequentemente, têm de estar continuamente alerta e receptivos às mensagens codificadas que lhes são constantemente bombardeadas.


4.5 Como fazer amigos
Cada pessoa tem o seu modo peculiar de lidar com quem a rodeia e, involuntariamente, utiliza a linguagem corporal na sua relação com os outros. Quem tiver algumas noções básicas da comunicação não verbal poderá adoptar alguns truques para ser melhor aceite num círculo de amigos e para se integrar sem que as pessoas fiquem com o pé atrás. A melhor altura para se aprenderem alguns desses truques será a adolescência, uma vez que a personalidade está em construção e os grupos sociais nem sempre aceitam a integração de quem se quer juntar sem se esforçar.
Com base em A linguagem do corpo de Victoria McCarthy, os 10 truques para que alguém se sinta imediatamente à vontade com a presença de um indivíduo, destinado a adolescentes, são:
1. O Sorriso aberto – Como foi referido anteriormente, um sorriso em que apensas se entrevêem os dentes de cima é o sorriso atencioso e acolhedor usado frequentemente entre amigos que quebra bastantes barreiras. Um falso sorriso aberto com o lábio de cima tenso assemelha-se mais a uma careta que afasta as pessoas, tendo um efeito negativo no objectivo que se pretende atingir.
2. Olhar olhos nos olhos – O interesse mostrado naquilo que o interlocutor diz poderá ser reforçado com o auxílio do olhar atento, deixando-o lisonjeado. Para impressionar alguém durante um diálogo adicionando-lhe honestidade e verdade, tiram-se os óculos e olha-se a pessoa directamente nos olhos.

3. Aperto de mãos – “Não sou apenas honesta, gosto de ti também”. O aperto de mãos, como já foi descrito, é símbolo de cordialidade e, no caso de se colocar a mão livre no pulso da outra pessoa, quase se aperta com as duas, revelando confiança. Se se subir a mão para o cotovelo revela-se mais intimidade, acrescida se a mão livre for colocada no ombro num gesto semelhante a um abraço. No caso de serem pessoas de sexo oposto, dever-se-á ter em conta a mensagem que se quer transmitir.
4. Mostrar a palma das mãos – A honestidade é revelada através das mãos abertas, num sinal de integridade.
5. Braços cruzados – As barreiras que se elevam quando uma pessoa cruza os braços serão difíceis de transpor, visto mostrar que não está disponível e não querer ser incomodada. Da mesma forma, as pernas cruzadas, ao contrário do que possa parecer, poderão transmitir mensagens negativas como falta de interesse, impaciência ou intolerância, ao contrário do cruzar dos dedos, que simboliza a esperança e a aposta no que irá acontecer que se espera positivo.
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Se, numa conversa em grande grupo, uma pessoa cruzar os braços, as outras terão tendência a cruzar também, imitando a postura adoptada e afastando-se do rumo do diálogo, criando barreiras e cortes nos laços emocionais.
6. Inclinar a cabeça – O interesse é, geralmente, mostrado através da inclinação da cabeça, como afirma Charles Darwin que reparou que os animais inclinavam a cabeça para um dos lados quando estavam interessados em alguma coisa e que os seres humanos socialmente bem sucedidos também o faziam.
7. A postura afecta a voz – Como já se referiu, a postura e atitude afectam a voz. Consequentemente, ao adoptar uma postura relaxada, a voz assemelha-se a um murmúrio, mas quando alguém se endireita, fala mais claramente e com autoridade. Ao sorrir, a voz adquire um tom melódico, meigo e simpático mas, por outro lado, com um semblante fechado, ninguém vai querer ouvir o que se tem a dizer.
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8. Imitação – Se o interlocutor se apoia na perna esquerda e puxa o cabelo para trás das orelhas, o reflexo da sua imagem será uma técnica de linguagem corporal bastante subtil que diz subconscientemente que as duas pessoas estão em sintonia uma com a outra.
9. Flexões para a amizade – Ao sentar-se na beira da cadeira e olhar o interlocutor de frente, mostra-se interesse no assunto abordado. Se, pelo contrário, alguém se sentar demasiado afastado, dará a impressão de estar prestes a levantar-se e abandonar a conversa, enviando mensagens desfavoráveis a um eventual patrão, amigo ou namorado.
10.Aumentar a consciência do corpo - Uma experiência sugerida pela autora consiste em tapar a cara com um pedaço de papel com um rectângulo recortado de forma a ficarem visíveis apenas os olhos e sobrancelhas. Em frente ao espelho, deixa-se o rosto exprimir toda a gama de emoções e observa-se a expressividade do olhar e a importância que se lhe deve atribuir.
4.6 Observar os amados
Olhar - O olhar de um adolescente apaixonado não será muito diferente do olhar de qualquer pessoa apaixonada, não obstante a sua idade. O olhar do amor pisca durante uns segundos e sorri antes de se afastar. Numa conversa mais íntima, os olhos vaguearão por várias partes do corpo da pessoa amada, observando-a subconscientemente, enquanto as pupilas se dilatam e o ritmo do pestanejar aumenta, recomendando-se a um dos enamorados o aumento do ritmo do pestanejar, redução e aumento novamente. Será um bom augúrio se a outra pessoa sincronizar o ritmo.
Na literatura e nas artes o luar ou a luz das velas adquiriu um valor de romantismo inigualável, explicado através da dilatação das pupilas e aumento do batimento cardíaco, desencadeando uma série de outros fenómenos biológicos.
Proximia – O espaço pessoal onde cada um se movimenta é variadas vezes invadido, sendo aconselhável um convite prévio para evitar incómodos. Numa conversa com estranhos, a “bolha” deverá estender-se cerca de 1 metro para além do corpo, encolhendo até aos 46 centímetros num diálogo com um amigo e quase desaparecendo na presença de familiares ou entes queridos. Recomenda-se aos interessados no teste em aproximar-se gradualmente da pessoa amada e depois recuar lentamente, observando se a pessoa se movimenta para a frente preenchendo o espaço e indicando a sua intenção de proximidade física.
Sobrancelhas – A chegada de um amigo ou da pessoa pela qual alguém está interessado é, geralmente, marcada pelo movimento das sobrancelhas que se erguem em gesto de cumprimento.
Mãos – As mãos são instrumentos bastante importantes na linguagem corporal, denunciando o à vontade mas também o nervosismo de cada um. O caso de uma pessoa não parar de mexer no cabelo ou ajeitar o casaco poderá ser sinónimo de se querer enfeitar e embelezar para a pessoa amada. Opostamente, quando um indivíduo não pára de mexer num fio ou num anel, poderá ser indício de um compromisso com uma outra pessoa.
Tronco – Se alguém vira as costas durante um diálogo que é interrompido por outra pessoa, pode tentar-se riscá-la da lista, o que não é necessário quando esta roda a cabeça e o tronco mas mantém os pés e as pernas viradas na direcção da pessoa amada, apontando o corpo na sua direcção, um pouco ao jeito da representação egípcia.


Teste à pessoa amada – A autora McCarthy propõe um teste de observação enquanto a pessoa amada observa a adolescente:
o Apanha-lo a observar-te?
o Ele olha-te nos olhos durante alguns segundos?
o Sorri ao estabelecer contacto visual?
o Quando está perto de ti costuma baixar o olhar dele abaixo do teu queixo?
o As pupilas dele aumentam de tamanho quando está contigo?
o O ritmo de pestanejar dele aumenta quando estão próximos um do outro?
o Ele pestaneja em sintonia contigo?
o Quando te afastas, ele aproxima-se?
o Ele “enfeita-se” na tua presença?
o Ao sentar-se a teu lado, cruza as pernas na tua direcção?
o Quando conversa, o corpo dele está virado na tua direcção?
o Ele está livre?
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4.7 Sinais de sedução
o Murmúrios
o Atracção das pestanas
o Jogo de escondidas
o Mordiscar os lábios
o Mostrar a nuca e os pulsos
o Mexer no cabelo
o Cruzar as pernas
o Descalçar lentamente os sapatos
o Embelezamento

4.8 Truques para aumentar a confiança
o Altivez, orgulho, autoridade e confiança
o Ombros para trás, queixo e peito para a frente
o Frontalidade, olhar as pessoas nos olhos
o Dissimular a ansiedade
o Conhecer as regras
o Sacudir a timidez
o Divertimento, espirituosidade, brilho
o SCALAPSorriso, Cabeça erguida, Acção, Lábios, Artelhos e Pergunta

4.9 Derrotar inimigos
o Cabeça elevada, corpo elevado
o Sorrir de forma simpática para desarmar o atacante
o Manter os pés afastados e as mãos nas ancas
o Não apontar na direcção do inimigo
o Dar força aos argumentos empurrando as mãos, com as palma viradas para baixo, paralelamente ao chão, mostrando autoridade e confiança
o Não ripostar nem mostrar agressividade
o Explicar a situação a alguém de confiança
4.10 Lidar com os pais

Pedir favores
§ Má altura
o Quando a pessoa tem os braços cruzados sobre o peito (atitude defensiva)
o Braços cruzados e mãos apertadas uma na outra (hostilidade e irritação)
o Mãos apertadas sobre a mesa ou batendo a um ritmo certo nas coxas
o Mãos apertadas sobre o peito ou junto das ancas
o Mãos apertadas apoiando o queixo, repuxando as maçãs do rosto e cobrindo os olhos.
o Lábios apertados um contra o outro (reprimir emoções)
o Lábio de cima apertado
o A língua faz pressão na bochecha
o Queixo repuxado até ao queixo (depressão)
§ Boa altura
o Boca relaxada
o Sorriso
o Olhos brilhantes
o Ombros relaxados
o Sem braços ou pernas cruzados
o Cabeça direita e ombros para trás
o Olhar nos olhos
§ Saber quando parar
o Quando o interlocutor se entretém com borbotos
o Espreitar por cima dos óculos
o Mexer nas orelhas
o Coçar a nuca
o Coçar o queixo (tomada de decisão)


Capítulo 8
Linguagem corporal na Educação

1. Vantagens da compreensão dos gestos
Desconfia do homem cujo abdómen se mantém imóvel enquanto ri”
Provérbio cantonês
Os diferentes géneros de informação são transmitidos através de níveis de compreensão distintos, sendo que o processo de comunicação de ideias consiste em algo mais do que uma simples linguagem escrita ou falada.
Na óptica de Nieremberg e Calero (2000), “Quando você procura comunicar com uma pessoa, às vezes consegue-o, mas outras vezes não consegue – não pelo que você disse, nem pela maneira como o disse, nem também pela lógica dos seus pensamentos, mas porque, muitas vezes, a recepção da sua comunicação depende do grau de empatia que a pessoa com quem está a falar sente para com a sua comunicação não verbal.”
A interpretação, fase posterior à observação e discussão de gestos e, consequentemente, mais complexa e dúbia, tem como base a experiência, a comparação entre várias possibilidades e a coerência.
Consequentemente, dentro de uma sala de aula é possível, a todos os segundos, ler e interpretar as mensagens que alunos e professores estão a enviar através do canal da linguagem não verbal, isto é, é possível analisar o nível de concentração, motivação ou interesse dos alunos face ao que o professor lhes está a transmitir e, por outro lado, é através da linguagem corporal do professor que este transmite a segurança naquilo que transmite, o apoio que dá aos seus alunos ou a percepção que tem em relação ao seu público, em tempo real.
É, no fundo, uma mais valia para o professor saber descodificar a linguagem corporal dos alunos e, consequentemente, dominar e controlar a comunicação não verbal que ele próprio emite, não no sentido de manipular os alunos, mas com o intuito de os ajudar no processo de ensino e aprendizagem.
2. Relação professor-aluno
Durante uma aula, durante um período e durante um ano lectivo, o aluno entra numa sala de aula com receios e com problemas que não transmite ao professor por não se sentir à vontade para o fazer. O ambiente familiar, a maneira de ser, e a maneira de agir poderão contribuir para alguns bloqueios do aluno face à aprendizagem ou socialização, que deverão consistir numa das preocupações de cada professor, que se deverá esforçar para conhecer cada indivíduo que tem sentado na sua sala, de forma a ajudar a ultrapassar cada bloqueio.
É dever de cada professor entrar na mente de cada aluno, aproximar-se dele e tentar perceber o que se passa no seu mundo para, gradualmente, tentar ajudá-lo a resolver alguns problemas, enfrentar certas situações ou desenvolver a sua confiança, auto estima ou os conhecimentos e interesse no mundo que o rodeia. Se o professor conhecer alguns dos códigos verbais, é-lhe mais fácil comunicar verbalmente com o aluno, adaptando a sua linguagem ou, mais importante, tomar atenção à linguagem não verbal do aluno e à sua própria postura, expressões e grupos de gestos que poderão ajudar o aluno, da mesma forma que poderão afastá-lo do professor.
Em algumas situações o professor cria barreiras que, apesar de não serem arquitectónicas, não deixam que os alunos se aproximem e, muitas vezes, estes acabam por criar repulsa ou fazer deste o bobo da corte ou o “bode espiatório”, criando-se situações desagradáveis, desconfortáveis e certamente nada produtivas para ambas as partes.
Se um professor entra na sala de aula de fato e gravata, com o nariz empinado, olhar superior e linguagem hermética, está a distanciar-se da turma e a fazê-los sentir inferiores e, consequentemente, baixa-lhes a auto estima e a vontade de trabalhar e de se empenhar nos projectos propostos.
Se, por outro lado, o professor dissimular o nervosismo e se mostrar acessível sem no entanto parecer demasiado íntimo dos alunos, estes depositarão na sua conta mais confiança e, como consequência directa, mais atenção e empenho nas aulas e nos conhecimentos transmitidos.
3. Influência da linguagem corporal na educação

Na óptica de Healy J. (1992), as competências comunicativas sofrem actualmente como nunca antes se registou e nesta “era da informação” os professores lamentam-se de os seus alunos serem incapazes de traduzir ideias por palavras, quer oralmente, quer através da escrita. Consequentemente, a capacidade de escutar é uma “espécie em vias de extinção”, muito pelo tempo que as crianças passam sozinhas ou sem a companhia de adultos e os horários incompatíveis e alargados dos pais que trabalham cada vez mais horas e passam menos tempo com os filhos. Neste stress diário, os diálogos em família cingem-se às ordens imediatas de sobrevivência, alimentação, vestuário e trabalhos de casa.
Não tirando a importância desse tipo de diálogo, as competências linguísticas e de pensamento não são desenvolvidas, sendo agravada a situação pelas horas que o ser humano passa em frente à televisão pois não ensinam a criança a escutar activamente ou a expressar-se. Os videojogos ou os programas de computador que são educacionais tendem a privilegiar actividades visuais aceleradas, com resposta e recompensa imediata aos estímulos enviados.
Os meios visuais de comunicação são, sem dúvida, um ponto forte da comunicação mas, em contrapartida, na “sociedade global” o sucesso exigirá competências comunicacionais bastante desenvolvidas em várias línguas e em vários domínios. As crianças estão, actualmente, a aprender a comunicar por gestos e sons binários, relações homem-máquina e cada vez menos entre dois ou mais indivíduos, deixando a parte da interacção e linguagem corporal descair vertiginosamente.
Nas palavras de Healy J. (1992) “Se os pais quiserem que os filhos obtenham sucesso tanto na escola como na vida, as competências que se encontram associadas à comunicação – escutar e falar bem – devem constituir uma prioridade”, aplicando-se o mesmo princípio aos professores que pretendem incutir e desenvolver competências comunicacionais e de cooperação dentro das salas de aula.


Conclusão

Ao longo de milhares de anos e ainda actualmente o homem depara-se com obstáculos que precisa de ultrapassar e muitos deles têm ainda a ver com a reprodução, alimentação e defesa de predadores, pelo que, sem linguagem não seria possível a evolução extraordinária que a raça humana conquistou. Ao longo dos séculos, o homem aprendeu a investigar a importância de cada linguagem para melhor uso fazer dela, o que culmina na segurança, clareza e coerência do acto comunicativo.

A investigação baseou-se na importância do conhecimento de noções básicas da linguagem corporal, integrando alguns aspectos da linguagem verbal e não verbal, numa tentativa de aglutinar as informações recolhidas e situá-las em diferentes contextos e situações reais.
Para além de exemplos específicos ilustrados com fotografias que não seriam possíveis sem a agradável cooperação de várias colegas da turma, a enumeração e interpretação de gestos do quotidiano foi feita com base em atitudes, estados de espírito ou formas de estar e de ser que todos nós nos deparamos diariamente.
Em termos formativos, o tema imposto inicialmente tornou-se num agradável conjunto de descobertas que, em termos pessoais e principalmente profissionais pretendo monopolizar e aplicar em situações de sala de aula, visto a importância das linguagens não verbais sobre as verbais.
Conclui-se, no fundo, que a linguagem corporal, inserida nas linguagens não verbais, para além de atribuir significados aos gestos, permite a sua mobilização em situações reais, contribuindo positivamente para a socialização de cada indivíduo que pretende fazer da interacção entre seres humanos o cerne da sua competência comunicativa, apesar da crescente alienação e despersonalização inerente aos meios de comunicação audiovisuais e tecnológicos, em detrimento da interacção homem-homem para a homem-máquina onde o homem assume um papel passivo na troca de informação.
Dentro da sala de aula, conclui-se que a linguagem corporal é um veículo demasiado importante para ser negligenciado, uma vez que o nosso corpo é a ferramenta mais imediata e aquela de que nos servimos diariamente para comunicar com o mundo. Podemos, ao conhecer os códigos, ajudar a dissolver um bloqueio de um aluno, socializar mais agradavelmente com uma turma e controlar melhor o ambiente da sala de aula, através da confiança que os alunos depositarão inconscientemente no seu professor.


Bibliografia
Almeida, V. C., Neves, P. A. (1995), Novo ao Encontro da História 7, 7º ano, Porto, Porto Editora;

Fraser, C. (1978), Communication in interaction, in H. Tajfel e C. Fraser (comp.) Introducing social psychology, Harmondsworth, Penguin;

Fromkin, V e R. Rodman (1993) introdução à linguagem, Coimbra, Almedina;

Healy, Jane M. (1992) O que farias se tivesses um pincel mágico que desse vida a tudo o que pintasses?, Lisboa, Difusão cultural, p.24;

Luria, A. R. (1970), Traumatic Aphasia (Humanities Press, Nova Iorque), p. 80;
McCarthy, V. (1998), A linguagem do corpo, Miúda Fixe, Lisboa, Gradiva Júnior;
Nierenberg, G. I., Calero, H. H. (2000), Como observar pessoas, Lisboa, Edição Livros do Brasil;
Saussure, F. (1916) Cours de linguistique générale ; tradução portuguesa; lisboa, Dom Quixote 1986, pp 121-128 ;
Sim-Sim, Duarte & Ferraz (1997) A língua materna na educação Básica, p.15;

Zuanelli Sonino, E. (1981), La competenza comunicativa, Turim, Boringhieri;

http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/ling16.htm Ulisses Capozoli;

[1] Fig.1. Os quatro sistemas da comunicação (adapt. De Fraser 1978) em Bitti e Zani (1997)